Autor: Claudio Garcia
Se não bastasse a pressão por bons produtos, uma força de vendas eficiente e uma excelente gestão de custos, empresas nunca foram tão bombardeadas pela necessidade de inovar. Pode parecer mais uma “buzzword” ou algo passageiro. Mas é só olhar em volta para perceber a quantidade de setores que foram transformados – não necessariamente por novos produtos ou formas de reduzir custos, mas por modelos de negócios inesperados, impulsionados por novas tecnologias que geraram mudanças de hábitos.
Computação em nuvem, internet móvel, robótica, impressão 3D, genética avançada, entre outras tecnologias, têm criado possibilidades difíceis de serem imaginadas pouco tempo atrás. Transformando continuamente setores completos. Até mesmo as nações têm se mostrado vulneráveis a essa realidade, especialmente em relação ao impacto da inovação no emprego e na mudança nos modelos de trabalho. Essa imprevisibilidade torna difícil fazer apostas para o futuro. Tudo fica mais incerto e complexo na hora de se tomar decisões. A ótica linear, “newtoniana”, que predominou há muitos anos no ambiente de negócios e que já havia se esfacelando nas últimas décadas, tem tomado golpes cada vez mais severos.
As companhias que estão conseguindo ser bem-sucedidas nesses espaços são justamente as que emergiram recentemente como as novas, porém gigantes, empresas no setor de tecnologia. Elas sabem que o futuro pode vir de qualquer lugar, assim como aconteceu com elas. Muitas eram apenas ideias não necessariamente originais, mas que se aperfeiçoaram por meio de insights vindos de áreas diversas, suficientes para permitir que algo novo e competitivo surgisse. A forma muitas vezes aleatória desse processo fez alguns de seus fundadores atribuírem seu sucesso ao acaso. Desconsiderando o quão perspicazes foram ao perceber o potencial de algo novo.
Esse sucesso emergente – talvez essa é a palavra que melhor descreve tudo isso – em vez de planejado, tem gerado muita discussão sobre quais modelos a serem adotados pelas organizações. Não se trata simplesmente focar em inovação, ou criar uma cultura para adquirir essa capacidade. Foco em vendas, clientes e custos ainda precisam ser incluídos. Ao estimular excessivamente a inovação, por exemplo, uma empresa de tecnologia teve perdas na satisfação de seus clientes e descontrole de custos – que levou anos para recuperar. Já outra empresa de serviços, ao criar uma incubadora para inovação, reduziu as ideias a poucas que não vingaram e gerou um estigma contra o tema.
Algumas práticas, no entanto, estão se tornando cada vez mais comuns. Em vez de planos estratégicos complexos, por que não apenas investir em pequenas empresas com modelos inovadores? Empresas não financeiras têm criado fundos de investimento focados em pequenos inovadores que, possivelmente, podem se tornar o negócio principal no futuro. Esse talvez represente o melhor modelo mental para essa nova realidade: ser sócio de 10 a 15 ideias, para que possivelmente uma seja a vencedora.
Vale aqui fazer um alerta: o Brasil tem perdido posições em diversos rankings de competitividade. No Global Innovation Index 2015 da escola de negócios Insead, fomos o número 70 entre 141 países – 6 posições abaixo de 2014. Além disso, as áreas ou iniciativas mais próximas à inovação nas organizações são as primeiras a serem cortadas em tempos de crise. Para piorar, ainda temos que lidar com problemas históricos como burocracia, complexidade tributária, educação fraca e falta de incentivos.
Em países desenvolvidos, o ambiente de negócios tem sido o maior financiador da inovação. Independentemente do momento que estamos passando enquanto nação é preciso ter em mente que as organizações mundo afora estão em busca de modelos que as tornarão mais eficientes nesse novo contexto. Em uma época de transformações aceleradas, temos que agir rapidamente, ou será tarde demais.
Claudio Garcia é vice-presidente executivo de estratégia e desenvolvimento corporativo da consultoria LHH