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Desenvolver para erradicar a miséria


Autor: José Ricardo Roriz Coelho

Para o Brasil dobrar a renda per capita nos próximos quinze a vinte anos, será fundamental estimular o desenvolvimento e a sofisticação da estrutura produtiva em direção à maior participação da indústria de transformação. Dos cinco países com mais de dez milhões de habitantes que aumentaram sua renda de US$ 10 mil para US$ 20 mil em vinte anos ou menos, apenas a Arábia Saudita foi capaz de fazê-lo sem que a manufatura representasse mais de 25% do PIB. Alemanha, Japão, Coreia do Sul e Malásia fizeram isso em diferentes períodos nos últimos cinquenta anos, mas todos eles tinham uma participação do decisivo setor superior a 25% do PIB.

Em contraste com essas nações, Canadá, Reino Unido, Portugal, Austrália e Grécia demoraram de 25 a 35 anos para aumentar sua renda de US$ 10 mil para US$ 20 mil. No período em que realizaram esse avanço, eles tinham uma participação da indústria no PIB que variava de 11% a 23%, o que justifica em grande medida a demora.

O caso brasileiro é ainda mais emblemático: quando dobramos a renda per capita de US$ 2,5 mil para US$ 5 mil, apresentávamos uma participação da indústria de transformação no PIB de 30%, e demoramos 15 anos para fazê-lo (de 1967 a 1972). Porém, o setor perdeu participação no PIB, atingindo 16% em 2010. O resultado, não obstante, foi a necessidade de um período bem maior para dobrarmos novamente nossa renda per capita. Para saltarmos de US$ 5 mil e atingirmos os atuais US$ 10 mil, foram 38 anos de espera: de 1972 a 2010.

É inegável, portanto, que a indústria de transformação contribui decisivamente para acelerar o crescimento. Entretanto, por que o setor seria tão relevante para o crescimento econômico? Primeiramente destaca-se que, devido à entrada da população nas classes superiores da estrutura social, a demanda por bens mais sofisticados cresce significativamente, e a indústria de transformação é a atividade capaz de atender a essa expansão. Ademais, por apresentar maiores efeitos multiplicadores do que os demais setores, ela amplifica a demanda originalmente de bens de consumo para toda uma cadeia produtiva, que inclui áreas como agricultura, mineração, comércio, serviços e os demais segmentos da própria manufatura.

Um segundo ponto relevante é a capacidade de exportar dessa indústria. Por se tratar de produtora de bens tradeables, permite aos países em desenvolvimento – normalmente com demanda interna insuficiente para garantir uma escala mínima de produção eficiente em alguns bens – beneficiar-se das exportações de manufaturados para promover o crescimento econômico acelerado. Dessa forma, a manufatura é um setor capaz de se aproveitar de ganhos de escala estáticos e dinâmicos para se expandir, pois seu acesso não precisa se restringir a um mercado apenas.

A indústria de transformação é também o setor que paga os melhores salários nos diferentes níveis de instrução e que mais valoriza o trabalhador qualificado. De acordo com dados do Ministério do Trabalho e do Emprego, para quem tem a Educação Fundamental completa, o salário da indústria de transformação é 20% superior ao do setor de serviços e comércio e 30% superior ao agropecuário. No caso de quem tem Ensino Médio completo, a diferença aumenta para pouco mais de 30% em relação ao comércio e serviços e 35% em relação à agropecuária. Finalmente, para quem tem Ensino Superior completo, a diferença entre os salários pagos pela indústria de transformação e os demais setores é ainda maior: 65% superior em relação ao comércio e serviços e 75% na comparação com a agropecuária.

Outra razão que contribui para que a indústria de transformação seja responsável pelo crescimento acelerado é o fato de que, especialmente no caso dos países emergentes, é o setor que agrega mais valor por trabalhador. No Brasil, a produtividade do trabalho, medida pela relação entre valor adicionado e o pessoal ocupado, é 160% superior na indústria de transformação do que a média da economia. Isso significa que um industriário gera 1,6 vezes mais produto do que os trabalhadores nos demais setores e que um aumento da manufatura em detrimento de segmentos menos produtivos eleva a produtividade da economia como um todo.

Finalmente, um último ponto a ser destacado é a importância da indústria de transformação na geração e difusão de novas tecnologias. Por ser o segmento da estrutura produtiva no qual são desenvolvidos os principais avanços tecnológicos, que garantem saltos de produtividade para a economia como um todo, uma estrutura manufatureira forte e concentrada em segmentos modernos e inovadores é fundamental para que o País passe a ser um centro mundial no desenvolvimento de tecnologia de ponta. Isso só poderá ser feito, porém, se aproveitarmos nossas vantagens em termos energéticos e nosso diferencial no fornecimento de recursos naturais para alavancar uma indústria que esteja na fronteira das inovações tecnológicas.

José Ricardo Roriz Coelho é presidente da Abiplast, Associação Brasileira da Indústria de Plástico, membro do Conselho da Vitopel e diretor titular do Departamento de Competitividade e Tecnologia da FIESP.

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