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Do conceito de justiça aos scores


Max Basile

Rui Barbosa, em sua rara clareza e inteligência, costumava conceituar Justiça, naquilo que a mim parece ser a sua definição universal mais transparente e inteligível, como: “tratar desigualmente aos desiguais, na medida de sua desigualdade”.

Dentre as diversas maneiras possíveis de encarar o que seja justo ou injusto, sempre ressaltará a noção clara de que há entre sua prática e a massificação normalizadora das diferenças individuais pela média, uma contradição em termos: não se opera justiça sem que sejam ponderados os valores, méritos e deméritos a cada indivíduo, no exercício de sua indelével liberdade de escolha em cada atitude como cidadão.

Nessa linha, é de tal e tanto que falamos quando avaliamos os processos de gestão de crédito e risco tomados pelas médias estatísticas de nossos portfolios, à falta de ferramentas de gestão mais acuradas.

Senão, vejamos: em uma dada carteira de crédito, imputamos uma taxa média de juros de, por exemplo 9% a.m., que serve, na média, para sustentar as perdas e garantir a lucratividade, certos de que haverá clientes rentáveis e clientes de “risco” a serem equilibrados na resultante da equação. Claro que, em algum momento, de algum modo, os melhores clientes aqui estarão sustentando os piores… e que, ao longo do tempo, esses clientes não resistirão a ofertas da concorrência mais generosas e mais aderentes ao seu perfil de risco…

Pano rápido. Você agora acaba de chegar aos Estados Unidos, levado como executivo de sua empresa. Tem ocupação certa, lastro de uma corporação de primeira linha e um salário anual respeitável.

Por melhores que sejam suas credenciais, falta-lhe um atributo sócio-econômico acerca do qual você provavelmente não fazia sequer uma remota idéia da existência, que dizer de sua relevância: você não tem histórico de crédito!

O tema lá é sério e você só vai realmente perceber no dia em que o Banco onde você acaba de abrir sua conta não lhe concede um cartão de crédito: tem que ser um Secured Card!

Vão passar uns quantos meses de compras e pagamentos reconhecidos pelo sistema até que você possa começar a usufruir das primeiras benefícios do tão sonhado sistema de crédito, moto contínuo e propulsor da maior economia do planeta.

Tudo está engenhosamente gerenciado pela inteligência de comportamento de crédito, armazenada e construída a cada nova compra, a cada novo pagamento e a cada financiamento. O ingresso geralmente será mesmo um Secured Card, em que a linha de crédito está garantida por um depósito de mesmo valor no Banco emissor, até que aos poucos, mês a mês, fatura a fatura, esse depósito vai sendo desonerado e substituído pela mais irrefutável das garantias do cidadão-consumidor: seu histórico de crédito, resumido e evidenciado em seu score.

Moeda corrente e de uso cotidiano por aquelas paragens, o score é parte da própria identidade do consumidor, que busca conhecer e progredir em seu rating pessoal, como ferramenta de obtenção de melhores taxas de juros, acesso a linhas de financiamento diferenciadas de longo prazo e a ofertas mais atrativas e competitivas de crédito, na proporção crescente direta da sua progressão nos rankings de escoragem.

Claro, o score é individual e intransferível. Assim como o direito de acesso a crédito e inserção na economia. Uma conquista meritocrática pessoal dada por critérios estatísticos transparentes e de domínio público.

É certo que Rui Barbosa não viveu para ver. Mas tenho a suspeita de que ele reconheceria nos scores uma interessante ferramenta para, com eficácia, tratar desigualmente aos desiguais, na medida de suas desigualdades.

Max Basile é vice-presidente de Marketing e Produtos da Equifax e autor do livro “E o dinheiro virou plástico”, publicado em 2000, pela Editora Cultura.

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