A competição pode ser saudável, mas o foco excessivo nela muitas vezes leva à vaidade e à distração de objetivos maiores
Autor: Rogério Vargas
A jornada de Michael Phelps de maior nadador olímpico de todos os tempos vai muito além do físico excepcional e do treinamento intensivo nas piscinas. Phelps sempre destacou a importância de sua preparação mental. Ele afirmou, várias vezes, que seu diferencial não reside apenas em seus pulmões, nem na potência ou tamanho de seus músculos ou de pernadas e braçadas explosivas, mas em sua confiança inabalável na própria capacidade de realizar aquilo para o qual se preparou por anos. Nada o desencoraja e parte dessa força vem da convicção de que, no final das contas, ele é único em sua entrega.
Essa mesma confiança é crucial para qualquer empreendedor. No mundo dos negócios, o verdadeiro desafio está em olhar para um lugar que nenhum outro “concorrente” consegue de fato enxergar: dentro de você mesmo, de seu próprio business. Eis um superpoder que seus rivais – reais ou imaginários – jamais terão. Então, pare de se preocupar excessivamente com o que os outros estão fazendo.
Embora o conceito de “competição” seja amplamente visto como essencial para o funcionamento saudável do mercado, é importante reconfigurá-lo. Sob certa ótica, a concorrência é percebida como algo positivo, afinal, ela evita monopólios, incentiva a inovação e pode até mesmo melhorar a qualidade de produtos e serviços. A ideia de mercado dinâmico, onde empresas disputam a preferência do consumidor, alinha-se à lógica de uma economia mais eficiente e justa.
Porém, a visão tradicional é reducionista se levada ao extremo, porque induz à noção de que vencer “os outros” é o único caminho para o sucesso. Se o foco estiver apenas em superar adversários ou competir em espaços saturados, o verdadeiro diferencial de um negócio será fatalmente negligenciado.
Paradoxalmente, a chave para o sucesso sustentável está em, justamente, parar de tentar vencer os oponentes. A competição pode ser saudável, mas o foco excessivo nela muitas vezes leva à vaidade e à distração de objetivos maiores.
Ao abandonar a necessidade constante de observar o que os adversários estão fazendo, o empreendedor encontra espaço para explorar o que realmente o torna único.
O sucesso, assim como no caso de Phelps, não reside em superar outros nadadores, mas em aprimorar as próprias habilidades, criar e seguir a própria Odisseia e manter-se fiel à própria visão.
E mais: ao olhar para dentro, o empreendedor passa a produzir soluções inovadoras, não apenas para vencer, mas para servir de forma incomparável ao cliente. E cada trajetória nunca será igual à outra. Cada experiência, obstáculo e vitória fazem parte de uma jornada original. Não existe “concorrência” que supere o propósito em ter propósito.
Em última instância, a concorrência perde força quando se adota uma visão mais profunda e orientada para o próprio desenvolvimento. Para crescer, não é preciso olhar para os lados e se preocupar com a velocidade dos outros. O verdadeiro desafio é olhar para dentro e reconhecer-se. Portanto, ajuste as lentes e mude a perspectiva. Pódio só faz sentido quando existe propósito.
Rogério Vargas é sócio da Auddas.