Empreendedorismo e sua ligação com a genética


Vivemos em um mundo onde a economia é parte fundamental para qualquer um. E há muito tempo já se sabe que sem empreendedores a economia não se desenvolve, pois são os dínamos que movem não só o próprio ganho, mas o ganho financeiro de todos.

Em 1734, Richard Cantillon, no livro Pioneer of Economic Theory, já propunha que “em um sistema de mercado, antes que algo seja finalmente vendido, é necessário que seja fabricado, transportado, estocado e alguém precisa assumir o risco que há nestas operações”. Mas, quantos de nós estamos dispostos a assumir riscos financeiros? E mais, quem banca a energia para aproveitar, de fato, apenas algumas das inúmeras oportunidades que sabemos que existem num país em franco desenvolvimento? Quem de nós costuma imaginar cenários futuros com tantos detalhes que é possível convencer as pessoas à volta de que são perfeitamente possíveis?

Os seres humanos são seres bio-psico-sociais e, portanto, quase tudo o que nos ocorre se apóia num composto de fatores. Em um estudo que realizei para o MEC no ano de 2000, selecionei 72 estudos sobre empreendedores. A maioria deles tinha por objetivo identificar as atitudes e comportamentos de uma pessoa que fazia grande diferença, com sua atuação, na economia regional em que participava. Depois, em 2001, realizei uma pesquisa com 1200 entrevistados dos quais selecionei 188 perfis de pessoas que haviam tornado reais grandes empresas e apresentavam um perfil diferenciado em relação a todos os outros.

Até aquele momento, nos muitos estudos realizados, foram identificados aspectos de como estas pessoas captam, organizam e projetam as informações. Como se motivam ou porque se motivam e principalmente, por ser mais preciso, como se comportam e agem estas pessoas que realizam mais do que os outros.

A partir de agora sabemos mais um estudo realizado por cientistas britânicos e norte-americanos, do qual, Scott Shane, professor da Weatherhead School of Management, foi co-autor, acompanhou a personalidade empreendedora em 1266 pares de gêmeos. Entre eles havia 609 pares de gêmeos univitelinos (idênticos geneticamente) e 657 pares de gêmeos não-idênticos (com metade da semelhança genética). Comparando a condição empreendedora entre gêmeos idênticos e não-idênticos, foi possível identificar a importância dos fatores genéticos isolando-os dos fatores ambientais para que se formassem as pessoas com maior capacidade de realização.

Entre os gêmeos idênticos a taxa de propensão a tornar-se empreendedor é de 48%. Quase a metade das possibilidades de um indivíduo para se tornar um empreendedor se deve a fatores genéticos.

Este estudo abre caminho para prosseguir e identificar os genes específicos envolvidos em ser um empreendedor. O neurologista Joe Tsien, da Universidade de Princeton, Estados Unidos, alterou um gene batizado de NR2B, no DNA de camundongos (que têm 92% da carga genética igual à da raça humana). Tsien conseguiu modificar a capacidade dos roedores em encontrar soluções para problemas – o que chamaríamos, quando nos referimos a humanos, de memória e inteligência. Um teste realizado em um labirinto no qual os camundongos normais levavam em média três minutos para encontrar comida, os que tiveram o NR2B duplicado precisaram de apenas 42 segundos e os que tiveram o gene retirado só encontraram a saída depois de nove horas. O gene parece ser parcialmente responsável pela capacidade de sobrevivência em ambientes hostis ou de mudanças bruscas. A hipótese de que todos os realizadores possuam uma capacidade maior do gene NR2B pode ser levada em conta.

Bem, este é só um dos apoios de nosso contexto, o aspecto biológico. Ele provavelmente ampara muitas das personalidades realizadoras que conhecemos e que vão de Abílio Diniz à Ivete Sangalo. Mas acredita-se que há míseros 3 a 3,5 % da população aproximadamente que apresenta de forma inata este perfil. Do quê nos serve?

Deve servir justamente para que se possa compreender que é preciso melhorar as condições que se têm para enfrentar desafios e tomar iniciativa nas realizações. Para que, sabendo o quanto os riscos, a visão futura e a iniciativa constroem as realizações, consiga-se compreender os outros apoios dos quais somos formados e então trabalhar neles.

Nas trajetórias das pessoas que compõe esta seleção de notáveis realizadores estão os aprendizados necessários a impulsionar a capacidade de realizar de qualquer pessoa. David McClelland, um dos mais conhecidos estudiosos das motivações humanas, realizou um vasto estudo, solicitado pela Organização das Nações Unidas, justamente para identificar uma forma de melhorar a condição de resultados de pessoas comuns. Este estudo apontou características de comportamento empreendedor, chamadas de CCE, tais como, identificação de oportunidades de negócio e iniciativa para aproveitá-las, comprometimento e persistência, qualidade de visão em longo prazo e planejamento de ações a curto, médio e longos prazos, entre dez características mapeadas.

Durante minhas experiências de trabalho com mais de quatro mil empresários, quase vinte mil horas de treinamentos comportamentais para empresários e em minha própria experiência como proprietário de uma empresa de confecções por mais de quinze anos, pude presenciar um grande número de pessoas, na verdade a maioria delas, beneficiando-se extraordinariamente com um recurso que desenvolvi: o caderno de orientação para resultados, ou caderno OR. Ele auxilia no conhecimento dos reais potencias de realização e torna possível trabalhar em sua melhora porque determina e orienta cada etapa de ação.

Em um trabalho realizado com 149 donos de negócios, pelo período de um ano, no qual se utiliza o caderno OR, foram obtidos os surpreendentes ganhos empresariais (em média) entre eles: o número de funcionários aumentou 21,83%; o faturamento das empresas aumentou 34,5%; o número de clientes cresceu 20,12%; a retirada mensal do sócio elevou em 21,16%.

No comportamento de Roberto Carlos, Antônio Ermírio e Romero Brito entre outras personalidades empreendedoras do Brasil há uma condição comum que de fato lhes ajudou, mas não foram suas relações ou seu berço, foi uma forte capacidade de definir seu futuro e com o impulso dessa visão determinar e trabalhar nos passos que precisavam ser dados para atingi-lo. É a orientação que se dá para os esforços, que todos fazem, que muda o resultado. Essa gente que faz a diferença só tem um segredo, orienta-se para os resultados naturalmente, tem um caderno OR dentro da própria cabeça. Então, orientação para resultados para ser gente que faz.

Luiz Fernando Garcia é consultor, especialista em manejo comportamental, empreendedorismo e negócios.

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