Autora: Ana Paula Alfredo
Empreender é uma aventura. É preciso coragem. É preciso vontade. É preciso persistência. Todos sonhamos, mas empreender é apostar que vai dar certo e agir para que isso aconteça. Ao ler essas frases, feche os olhos e imagine o perfil que estamos descrevendo… E aí? Você pensou em uma figura masculina? As estatísticas dizem que é bastante provável que isso tenha acontecido. Mas, empreendedorismo é sim realidade para milhões de mulheres em todo mundo.
De acordo com o relatório da Global Entrepreneurship Monitor (GEM) Women, em 2016, cerca de 160 milhões de mulheres iniciaram ou abriram novos negócios. Com um número tão significativo, não há como ignorar o impacto da presença feminina no empreendedorismo. O levantamento aponta ainda que o índice de atividade empreendedora (TEA), ou seja, a porcentagem da população adulta, entre 18 e 64 anos, que empreenderam em algum momento, para a população feminina, aumentou em 10% em comparação ao período anterior e o gap de gênero foi reduzido em 5%.
No Brasil, a presença feminina é ainda mais forte do que a média mundial, se destacando em um seleto grupo de cinco países pesquisados, onde há equilíbrio entre os empreendedores de ambos os sexos. E por que isso acontece? O GEM divide as motivações em dois grandes grupos: a necessidade e a oportunidade. Em terras brasileiras as mulheres têm maior tendência em empreenderem por necessidade enquanto os homens mais por oportunidade. Num cenário de maior desemprego e num país onde 40% dos lares são chefiados por mulheres, faz sentido esse indicador.
A imagem da mulher empreendedora no Brasil é bem menos glamorosa do que a figura criada no início do artigo. Segundo a pesquisa “Quem são elas”, realizada pela Rede Mulher Empreendedora, 55% das empreendedoras brasileiras têm filhos. E destas, dois terços decidiram investir em um novo negócio depois da maternidade, com esperança de uma melhor qualidade de vida e de poder equilibrar seus diferentes papeis.
Mas, isso não é realidade apenas do Brasil. O grau de empreendedorismo está relacionado a existência ou não de políticas de apoio a mulheres com filhos, como licença maternidade, creches públicas e opções de trabalho em meio período. Essa é uma das conclusões do estudo de Sarah Thebaud que identificou uma correlação entre um menor número de mulheres empreendedoras em países com mais políticas de apoio à classe feminina trabalhadora (em geral, países mais desenvolvidos), e que acabam optando, muitas vezes, por buscar um trabalho em uma empresa ao invés de empreender.
As mulheres têm uma visão positiva das oportunidades e percebem o empreendedor de forma favorável, entendendo que essa é uma atividade que deve ser admirada, até pelos muitos exemplos que temos no país. Porém, o medo de fracassar é um empecilho e 60% das que tinham intenção de empreender não o fizeram por esse motivo.
Além de acumular em grande parte o trabalho doméstico, as barreiras para a mulher não param aí. Segundo pesquisa divulgada pela Rede Mulher empreendedora, realizada com 800 mulheres entre agosto e setembro de 2017, 30% dos novos negócios (com até três anos de funcionamento) são informais e a falta de dinheiro é apontada como principal causa para isso. Por outro lado, 73% das mulheres teriam interesse na expansão de seus negócios se a opção de investimento fosse possível. Contudo, o acesso a crédito é outro obstáculo apresentado ao empreendedorismo feminino, já que, segundo o mesmo estudo, é bem mais difícil para uma mulher conseguir o investimento do que um homem.
Mas se por um lado há muitas dificuldades, por outro, o perfil da mulher apresenta pontos positivos para empreender. São muitas as características femininas que favorecem seu sucesso como empreendedoras, como a habilidade de lidar com pessoas, a escuta ativa, a habilidade de solução de problemas e a capacidade multitarefas. Seja para sustentar suas famílias ou como forma de realização pessoal, a realidade é que as mulheres entraram para valer nesse mundo empreendedor nos últimos anos, gerando empregos e fornecendo produtos e serviços de alto valor. Trazer esse assunto para a discussão é sim uma forma de criar consciência e colaborar para que mais mulheres enxerguem o empreendedorismo como opção e não como a única saída.
Ana Paula Alfredo é consultora, coach e membro do Grupo Nikaia.