De acordo com o censo realizado em 2000 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 24,5 milhões de brasileiros são portadores de algum tipo de deficiência – entre física, mental ou com dificuldades para enxergar, ouvir e locomover. Isso representa 14,5% da população, sendo que 9 milhões estão em idade de trabalhar, 1 milhão exercem alguma atividade remunerada e 200 mil são de empregados com registro em carteira.
Em 1999 foram determinadas cotas de vagas para pessoas com deficiência pelo decreto federal nº 3.298. Depois disso, o contingente de empresas que emprega a classe cresceu muito. “O número de colocações de pessoas com deficiência no mercado subiu bastante. Mas, ainda estamos longe de resolver o problema da inclusão social”, afirma Flávio Gonzalez, psicólogo responsável pela Unidade de Reabilitação Profissional, da Associação para Valorização e Promoção dos Excepcionais de São Paulo – Avape.
Na opinião de Flávio, a motivação inicial para a contratação de pessoas com deficiência é o cumprimento da Lei de Cotas: “Cumprir a legislação é o primeiro ato de responsabilidade social”, conclui. 500 empresas – de médio e grande porte, de diversos setores da econômia, do Estado de São Paulo – criaram mais de 21 mil novos empregos para portadores de deficiência física.
Anões como cupidos
Antes do decreto nº 3.298, algumas empresas já realizavam a inclusão de portadores de deficiência física nos seus quadros de pessoal. É o caso da casa noturna “Papagaio Vintém” de São Paulo, que contratou um grupo de anões para entregar bilhetinhos dos clientes (correio elegante) às quartas, sextas e sábados. “Eles trabalham desde a inauguração da casa. São artistas performáticos e conseguem fazer com que as pessoas se aproximem. Até casamento já foi realizado graças à brincadeira”, explica Tony Martin, proprietário do estabelecimento.
Os anões são considerados portadores de deficiência física por causa congênita – nanismo – e por isso se encaixam em fins de cotas no mercado de trabalho. Anteriormente, eles só conseguiam emprego em circos. No entanto, o quadro mudou e eles são geralmente contratados para eventos e programas humorísticos, principalmente na televisão.
Deficientes visuais e auditivos ganham oportunidades
De acordo com o IBGE, 16,5 milhões de brasileiros portam algum tipo de deficiência visual e 5,7 milhões, deficiência auditiva. Diante destes números, as empresas têm adotado e implantado alguns programas de inclusão. A Natura Cosméticos desenvolve, desde 2002, o Projeto Enxergar, que conta com a participação voluntária de pessoas com deficiência visual em pesquisas onde são realizados testes olfativos com fragrâncias.
Outro exemplo é a empresa Gimba, distribuidora de materiais de escritório e informática de São Paulo, que iniciou em 1998, a inclusão de pessoas com deficiência auditiva em sua linha de produção. Os trabalhadores atuam em áreas de separação de materiais, conferência de pedidos, arrumação de estoques e montagem de caixas para embalagem. “Não fazemos nenhuma distinção. Todos podem concorrer a vagas internas e fazer parte do plano de carreira. Temos, hoje, um funcionário que ocupa cargo de chefia. Ele é responsável pela área de conferência”, afirma Augusto Dolce, gerente administrativo e responsável pela contratação dos funcionários.
Clientes aprovam iniciativa
Uma empresa pode ter benefícios significativos com a atitude da contratação de pessoas com deficiências, dentre eles o da imagem correta e proba. Isso foi constatado na pesquisa Responsabilidade Social das Empresas – Percepção do Consumidor Brasileiro – realizada em 2001pelo Instituto Ethos. 43% dos entrevistados afirmaram que estariam estimulados a comprar mais produtos de companhias que colaboram com a inclusão social.