Daniela Coelho e Beatriz Busti

ESG e os shopping centers no pós-pandemia

Autoras: Daniela Coelho e Beatriz Busti

A indústria de shopping centers chegou ao Brasil em 1966 e, desde então, foi um grande sucesso, pois caiu no gosto do brasileiro e, principalmente, dos paulistas. Segundo a Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers), o estado de São Paulo possui 188 empreendimentos, ou seja, mais de 30% do número total no Brasil, ficando o Rio de Janeiro em segundo lugar, com 67 até o momento.

Esse tipo de empreendimento vinha numa crescente até o começo de 2020, quando a pandemia da Covid-19 obrigou o fechamento desses centros de lazer, resultando em um total de 85 dias sem funcionar, entre momentos de afrouxamento e rigidez das medidas de combate à transmissão da doença.

Como medida para manter o negócio, os shoppings passaram a oferecer serviços de delivery e até de shopper, conceito no qual o consumidor não precisa sair de casa para fazer suas compras na sua loja e shopping favoritos. Esta medida ajudou o setor a se manter de pé neste período, mas também adiantou tendências de mercado que estavam no horizonte.

Quem tinha medo de comprar on-line, acabou cedendo e muitas vezes gostando da experiência, transformando um momento de crise em oportunidade de novos negócios. As lojas que estavam mais atentas às tendências conseguiram oferecer um serviço de melhor qualidade aos consumidores. Com a falta da presença física do cliente nos shoppings, a palavra do ano de 2020 para os negócios foi omnicanalidade, ou seja, a ação de divulgação em diferentes canais de comunicação, proporcionando um maior alcance de usuários e diferentes públicos.

A Covid-19 não só ampliou os modelos de negócio, como também proporcionou um impulso para um consumo mais consciente e sustentável. Com a preocupação de conhecer mais sobre a produção, transporte e meio de venda, avaliando inclusive a segurança sanitária, os consumidores também abriram os olhos para outros impactos de seu consumo, como a origem dos componentes e se são fabricados sob regime legal e salubre de trabalho. A partir daí, passaram a cobrar não só os fabricantes como seus vendedores para a divulgação dessas informações.

Todo esse cenário fez ganhar corpo o termo que já vinha sendo falado nos corredores, o ESG (do inglês, Environmental, Social and Governance), que avalia o quanto as empresas estão engajadas em ações que envolvam a preservação do meio ambiente, a redução de seus impactos socioambientais negativos, o apoio à sociedade e a erradicação da discriminação e do preconceito em seu ambiente de trabalho, além de proporcionar a diversidade e acessibilidade para seus colaboradores e terceiros. Tudo isso aliado a políticas firmes de conduta ética e a melhores práticas de governança.

Para os shoppings centers, isso significa um novo olhar para seu negócio. Falando de um empreendimento que nasceu com o objetivo de alimentar o consumo, o setor passa a ter que repensar as ações e mostrar à sociedade que os shoppings são muito mais que centros de compra. Para muitas cidades, trata-se do ponto de encontro de amigos, o único lugar de cultura e lazer, o típico passeio de família no domingo que conta com um almoço rápido e filme com pipoca. A maioria desses empreendimentos possuem campanhas que afloram a solidariedade para os seus frequentadores, apoiam projetos sociais e trazem eventos de saúde e bem-estar.

Fazendo referência ao gigantesco universo contido no ESG, o setor tem apresentado iniciativas. Nos tópicos ambientais, o consumo de água e energia, que já estavam presentes na busca por mais eficiência e redução de custos pelas administradoras, agora, com a agenda ESG, ganha ainda mais força. Também é bastante comum adotarem ações para o tratamento e a correta destinação dos resíduos.

Sob a ótica social, sabemos que um shopping pode mudar a dinâmica de um bairro ou uma cidade. Então, a relação com a comunidade também é um tema bastante recorrente, assim como a relação com outros stakeholders, como lojistas, fornecedores e empreendedores, garantindo transparência e clareza nas informações fornecidas.

Vale sempre ressaltar que cada empesa tem sua própria realidade, cultura e momento. Os exemplos acima são alguns dos mais recorrentes entre os temas materiais para este setor. Porém, cada empresa deve fazer seu próprio exercício para definir seus desafios e compromissos na jornada ESG.

Daniela Coelho é diretora associada de ESG e Beatriz Busti é consultora de sustentabilidade, ambas na ICTS Protiviti.

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