Assolada por uma crise financeira, mas também de identidade, a indústria de TI vem patinando, há alguns meses, em busca de um novo gás que lhe devolva o viço e, porque não dizer, a deliciosa euforia de três, quatro anos atrás. Os motivos da crise financeira todos sabem: a desaceleração americana girou a engrenagem do medo na direção oposta à da engrenagem da internet; esgotou-se, por decurso de prazo, o combustível que alimentava a corrida contra o Bug, no último ano do milênio que passou.
E, quanto ao ERP (este movimento radical de reestruturação nas bases do TI, que ajudou a movimentar toda a indústria de informática), este parece ter atingido o ponto de saturação, nas maiores empresas mundiais, e hoje encontra sérios obstáculos para atingir o chamado “small medium business”. Para completar, alguns promissores suspiros, como as “ondas” do CRM, eRM e similares, continuam ainda hoje no ansioso plano da promessa. Estes, em linhas gerais, os traços da crise financeira. A crise de identidade, por sua vez, é uma crise de decisão e é questão de se saber: quem era a indústria de TI antes da crise econômica e quais as suas condições de prosperidade neste tempo de “vacas magras”? Trata-se de um quadro novo e inusitado para um setor que, em 20 anos, saiu dos restritos nichos do CPD corporativo para se tornar fenômeno de massas, com taxas de crescimento de, digamos, 30% até 3000% ao ano. Sem querer partir para a abordagem psicanalítica, resolver este ponto do “quem sou” talvez possa ser muito útil para retirar a indústria de TI das vacilações que a acometem.
De fato, desde a explosão da microinformática e das redes locais, no início dos anos 80, até as pontocom a comunidade de TI viveu uma espécie de embriaguez, semelhante à da corrida do ouro. Sua justa prosperidade tinha explicação num fato incontestável, que foi a corrida das empresas, de todos os setores, em direção às novas ferramentas de produtividade, que a informática impôs e que, rapidamente, se cristalizaram como condição de ingresso no futuro. Posicionada na vanguarda desta corrida, a indústria de TI teve a prerrogativa de ditar, por 20 anos, a direção do investimento das empresas, o que fez com a competência e a ousadia que lhe devem ser reconhecidas.
Mas entregou-se, amiúde, a certos excessos imperdoáveis, como a luxúria de esnobar eficiências “não modernas” ou de propor a adesão a “modas”, “gostos”, “novas gerações de sistemas”. Quem não se lembra, por exemplo, da insistente e ruidosa campanha pelo “down-sizing”, pela qual a indústria de TI propunha que as corporações largassem mão de todo o seu legado de tecnologia para aderir às novas redes de PC, muito mais “ágeis”, “abertas”, etc. E muito disto deu no fracasso que todos nós já conhecemos. No novo quadro, portanto, o que a indústria de TI precisa perceber é que, acima de seus interesses e sua capacidade de inovar, existem as exigências do negócio das corporações.
Se antes, a indústria de TI ditava a tecnologia, hoje é o interesse corporativo que dita necessidades e manda os técnicos estudar. E entre estas necessidades, não raro, está a de cortar investimentos justamente em tecnologia. E haja Freud, meu Deus, para fazer frente a tanta angústia! Daí que o profissional de TI deve abrir mão do velho vício de encarar o “legado tecnológico” das empresas como um inimigo a ser denunciado em seu aspecto antiquado e precário (ou como um obstáculo para a venda de suas soluções “de último tipo”). Ao invés de apontar o legado como um fardo a ser inevitavelmente absorvido na estratégia nova, que tal se a indústria de TI passar a reconhecê-lo como um ativo a ser explorado em suas potencialidades?
E a saída para esta “garimpagem” produtiva está, de fato, ao alcance das boas soluções de TI. É este, ao que tudo indica, o caminho de possível retomada para o setor. Se quiséssemos resumi-lo numa única expressão, esta seria “amadurecimento”; ou “respeito às premissas de negócios” (que vêm antes das de TI). A velha euforia não deve voltar mais; mas a depressão do setor, esta também é passageira; é só uma questão de tempo e de recolocar as idéias no lugar.
Francisco Benzi é presidente da Grow Technology in Business [email protected]