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Evolução do crédito ao consumidor


João Pamplona

Nos últimos 12 meses vem ocorrendo um claro movimento de expansão do crédito na economia brasileira. Segundo o Banco Central, o saldo total das operações de crédito do sistema financeiro cresceu de 25,3% do PIB em julho de 2004 para 28,2% em julho de 2005. Embora ainda seja um nível baixo, houve uma evolução positiva importante. A explicação para esse fato está em grande medida na expansão do crédito ao consumidor. Em julho de 2005, comparado com o mesmo mês do ano passado, o crédito destinado às pessoas físicas aumentou 37,5%.

A elevação do volume de operações de crédito destinado aos consumidores está concentrada nas modalidades de crédito pessoal e no crédito para aquisição de veículos. A primeira modalidade foi responsável por quase 52% do crescimento verificado no crédito ao consumidor no período, com destaque para a contribuição das operações consignadas em folha de pagamento. A segunda modalidade respondeu por 24% do crescimento havido no crédito ao consumidor.

Nos primeiros meses deste ano, as taxas nominais de juros cobradas das operações de crédito pessoal e de aquisição de veículos estavam estáveis. Em julho, elas sofreram uma pequena queda. No entanto, a taxa de julho de 2005 do crédito pessoal manteve-se acima daquela verificada no mesmo mês de 2004. Além disso, com a forte redução da inflação, as taxas subiram em termos reais. Quanto aos prazos das operações em julho, eles se mantiveram estáveis para a aquisição de veículos, e para o crédito pessoal eles continuaram a aumentar, mas já podem estar no seu limite. Desta forma, o cenário futuro para essas modalidades, que fizeram o crédito ao consumidor crescer em 2005, é de prazos estáveis das operações e taxas de juros reais em elevação.

Outro aspecto importante com relação à evolução do crédito ao consumidor diz respeito aos limites que as pessoas estão encontrando para honrar suas dívidas. Os dados de mercado de trabalho têm mostrado que o rendimento das pessoas ocupadas permanece muito próximo ao baixo nível de 2003 (ano de recessão). Além disso, o aumento do crédito leva a um maior comprometimento da renda das pessoas com despesas financeiras. Como a renda da grande maioria dos brasileiros não tem crescido, logo haverá dificuldade para quitar todos os compromissos. A combinação de poder aquisitivo estagnado dos trabalhadores com elevação do endividamento das famílias faz crescer a inadimplência. Inadimplência em alta, por sua vez, torna mais caro e escasso o crédito.

Somando-se as condições mais adversas de oferta de crédito nas modalidades crédito pessoal e aquisição de veículos à estagnação da renda dos trabalhadores e ao aumento da inadimplência não é difícil imaginar que a expansão do crédito ao consumidor no Brasil irá encontrar obstáculos, salvo se o Banco Central reduza mais rapidamente a taxa básica de juros da economia.

João Pamplona é assessor econômico da Equifax e professor de Economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC-SP.

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