Ensinar os filhos a consumir de forma responsável não é uma tarefa simples. No dia a dia, as mães enfrentam inúmeras dificuldades para explicar às crianças que elas não podem ganhar tudo o que pedem e na hora que querem. Porém, seis em cada dez (64,4%) não resistem aos apelos dos filhos quando eles pedem algum produto considerado desnecessário, como brinquedos, roupas e doces. Conforme um levantamento feito pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) com mães das 27 capitais, que possuem filhos com idade entre dois e 18 anos. O percentual é mais expressivo entre as mães de meninas (68,9%) e entrevistadas das classes C, D e E (69%).
O levantamento mostra ainda, que muitas vezes, nem é preciso que os filhos manifestem o desejo de ganhar um presente para recebê-lo: 59,6% das mães compram produtos não necessários para os filhos sem que eles peçam. Apenas pelo prazer de vê-los usarem coisas que gostam. “O estímulo ao consumismo, não raro, começa dentro de casa. As mães querem sempre satisfazer seus filhos, o que é compreensível, mas a vontade de agradar as crianças não pode se sobrepor as condições do próprio bolso, ainda mais em tempos de crise. Além disso, essas atitudes podem dar exemplos ruins às crianças e dificultar um eventual ajuste financeiro quando necessário”, afirma a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
“A obrigação de agradar e de proporcionar o melhor aos seus filhos faz com que parte das mães adote padrões de consumo diferentes para os filhos em relação ao restante da família”, completa a economista. Exemplo disso, é que 58,5% afirmaram que costumam comprar roupas e calçados melhores para os seus filhos do que para si mesmas e 21,9% admitem que os filhos têm um padrão de vida superior ao dos outros integrantes da família.
Sem regras para presentear
O estudo ainda apontou que 46,4% admitem não adotar regras para presentear seus filhos. Sobretudo no caso de filhos meninos (50,6%). Somente 15,6% das mães disseram dar presentes apenas nas datas especiais, como aniversário, Dia das Crianças e Natal. Enquanto 12,7% o fazem quando o filho cumpre as regras e obrigações de casa. Ainda assim, três em cada dez (29,7%) mães consultadas disseram que mesmo comprando a maioria dos produtos que os filhos pedem, eles nunca se dão por satisfeitos e sempre pedem mais coisas. “Presentear um filho é uma demonstração de afeto. Por outro lado, a ausência de regras e de limites ao consumo é uma influência negativa para as crianças e adolescentes”, afirma o educador financeiro, José Vignoli.
Levar filho junto é sinal de perigo
Ir com os filhos às compras no shopping center ou no supermercado pode não ser um bom negócio para as famílias sob o ponto de vista financeiro. Das mães, 38,6% admitem que sempre acabam desembolsando mais do que o planejado quando saem para comprar acompanhados de seus filhos (especialmente no caso das mães de meninas 44,0%). Ainda assim, 67,3% delas têm o hábito de estabelecer algum combinado prévio com os filhos. Como não permitir que eles peçam para comprar algo (18,6%) ou negociar o valor e a quantidade de coisas que podem ser compradas (48,7%). “Este é um hábito que pode disciplinar a criança. Se as mães forem claras e firmes com os filhos, é mais provável que eles se sintam menos decepcionados quando tiverem seus pedidos negados”, argumenta Marcela.
As mães consultadas no levantamento declararam que mais da metade (50,8%) das últimas cinco compras de brinquedos, jogos, roupas e calçados realizadas por elas para seus filhos foi feita por impulso. No que diz respeito aos alimentos, geralmente adquiridos em supermercados e padarias, o percentual de compras por impulso é ainda maior: 55,8%. Os itens mais comprados na impulsividade são na ordem roupas (40,6%), balas, chocolates e doces (35,5%), calçados (33,4%), brinquedos (32,5%), lanches (32,2%), iogurte (25,7%), biscoitos (24,3%) e eletrônicos (19,8%). As mulheres ainda mostraram que as crianças costumam ser determinadas quando querem ganhar algo. Quase a metade da amostra (48,5%) garante que os filhos são persistentes e não desistem do pedido até conseguir o presente desejado. Principalmente no caso dos filhos meninos (53,0%).
Dívidas por conta dos pequenos
Se exceder nos gastos para fazer a vontade dos filhos pode trazer consequências danosas para a saúde financeiras da família. Das entrevistadas, 36,7% já ficaram em algum momento endividadas em decorrência das compras que fizeram para as crianças e 9,9% já deixaram de comprar produtos importantes para a casa ou de pagar alguma conta porque compraram algo que viram na mídia. Dentre aquelas que acreditam que dar brinquedos e passeios fará a criança mais feliz, 30,9% se encontram no vermelho, pois o dinheiro nunca é suficiente para pagar as contas. Por outro lado, o percentual de mulheres que fecham o mês devendo cai para 15,8% entre as que não atribuem à felicidade de seus filhos aos produtos que eles consomem. Outro fator agravante apontado pela pesquisa é que 11,1% delas relatam brigas com o cônjuge por causa das compras que realizam para os filhos.
Personagens infantis influenciam consumo
Aquisição de brinquedos e jogos são os itens em que mais pesam o poder de decisão das crianças (18,1%). Outros momentos em que as crianças mais decidem sozinhas são na compra dos itens de papelaria (12,8%), eletrônicos, como celulares e tablets (9,2%), roupas e calçados (8,5%), produtos de higiene e beleza (6,3%) e alimentos em supermercados, como iogurtes, biscoitos e salgadinhos (4,4%). Produtos licenciados, principalmente de personagens de histórias infantis e desenhos animados, são os estímulos que mais influenciam as crianças na hora da compra. Numa escala de zero a 10, sendo que quanto maior o número, maior o poder de influência, os personagens em brinquedos ocupam a primeira colocação (média de 5,79 pontos). Seguido pelos produtos de material escolar (5,71), roupas e calçados licenciados (5,70), propagandas na TV (5,58), colegas de escola (5,27) e produtos expostos em pontos de vendas (4,91).