Todo mundo sabe da importância da inovação para o crescimento dos negócios e do próprio País. Ainda assim, é difícil encontrar uma sintonia entre empresas e poder público nesse sentido. São poucas as ações em que há um trabalho conjunto para desenvolver e aperfeiçoar produtos, serviços e processos, facilitando a vida de clientes e cidadãos. Em cima disso e provocados por Rodrigo Loures, presidente da Nutrimental e responsável pela área de Inovação na Fiesp, líderes de empresas de diferentes segmentos debateram, no painel “A Inovação imprescindível”, do XV Encontro com Presidentes, realizado ontem (06), em São Paulo, como o mercado pode contribuir para que o Brasil volte a crescer.
Sobre isso, o sócio da Pieracciani Consultoria Valter Pieracciani, afirma que é hora do mercado brasileiro mostrar do que é capaz, até porque São Paulo, por exemplo, já é um dos 10 melhores ecossistemas de inovação do mundo. “A era da perplexidade pede ação.” Dentro disso, ele lista três estratégias fundamentais nesse momento. A primeira é retomar a conexão com o cliente. Em um mundo de tantas transformações, onde todos perderam a referência, as empresas precisam conhecer o cliente para atender suas necessidades e gerar uma identificação. Outro ponto levantado pelo especialista é o processo de servitização, que significa aumentar a oferta de pacotes combinados de produtos e serviços com foco nos clientes. “É preciso transcender produtos por meio de parcerias com outras empresas.” Por fim, ele coloca a necessidade de pensar no cliente do cliente. Ou seja, não só olhar para quem compra o produto ou serviço, mas para todos que estarão envolvidos no uso dele. Isso permite trazer novas possibilidades de inovação. “Com tudo isso, que pode ser replicado para a gestão pública, o recado que quero deixar é que precisamos agir para fazer com que as mudanças aconteçam”, completa.
A opinião é compartilhada por Nelson Campelo, presidente da Ustore. “Certamente, nós empresários podemos e devemos nos pôr a disposição para contribuir com as mudanças.” Dentre essas mudanças, ele explica que inovação sempre esteve muito associada a produto. Com o tempo, o foco foi para os processos, como forma de aumentar eficiência. Hoje, ela está associada à novos modelos de negócio, como o Uber, Netflix e Airbnb. “São modelos de negócio apoiados em tecnologia que vieram para movimentar mercados tradicionais que não acompanharam o mesmo ritmo das inovações.” Levando isso para o setor público, o executivo conta que há desafios a serem enfrentados, mas também há oportunidades a serem exploradas. Uma delas é mudar a forma como as prefeituras se relacionam com o cidadão. Chegou o momento de inverter a relação, com as prefeituras presentes no dia-a-dia da população. Os serviços precisam estar disponíveis no bolso de cada um. “Assim, as empresas devem auxiliar provendo tecnologias que habilitem novas formas de relacionar”, explica.
Embora veja como importante essas disrupturas dos modelos de negócio, Edson Pinto, presidente do Núcleo Movimento Empresarial e do SinHoRes/Osasco, alerta para a necessidade de pensar em todos os impactos que podem trazer para a economia, e não apenas os positivos. “Claro que muitas dessas novas empresas estão inovando, mas algumas estão impactando negativamente em setores fundamentais para a economia, a partir de uma concorrência desleal.” Assim, o executivo defende a regulamentação.
APOIO À INOVAÇÃO
O presidente do Grupo Impacta, Célio Antunes, entende que é possível transformar o País por meio da educação. Por isso, o grupo procura juntar sempre o ensino à prática do dia-a-dia nas empresas. “Levamos para o aluno o universo do empreendedorismo. Inclusive, temos nossa incubadora com diversos projetos para contribuir com o mercado”, comenta. Ele explica que isso também é uma resposta às demandas das empresas que estão ávidas por jovens que possam trazer inovação e mudem modelos de negócio. “Elas sabem que hoje, no mercado, ou você inova ou corre o risco de morrer. Empresas que não identificarem as mudanças vão ficar para trás.”
Outra área que também pode contribuir com as transformações do País é a eletromobilidade, segundo Antônio Carlos Romanoski, chairman da QEV. “Essa já é uma realidade e nos próximos anos devemos ver esse mercado crescer. Inclusive, já tem montadoras anunciando que irão focar nesse modelo de carro.” Como vantagem, há a questão de economia, mas também implica em um impacto menor no meio-ambiente. No entanto, apesar de ser um tema fundamental, o executivo pontua que o Brasil está fora dessa realidade.