Autor: Mauricio Di Bonifácio
É exatamente assim que cada vez mais transações comerciais entre empresas serão feitas nos próximos anos. Isto será o reflexo de modelos de negócios entre empresas baseados em e-commerce B2B se juntando com IoT (Internet das Coisas). É a transformação digital ocorrendo num alto grau de sofisticação. Equipamentos analógicos e processos tradicionais se reinventando, digitalizando e se integrando. E cada uma das bilhões de coisas conectadas pode ter a capacidade de ser um comprador digital.
O e-commerce B2B deve movimentar algo como U$ 1.1 trilhão só nos Estados Unidos até 2020 de acordo com a Forrester. Ele está cada vez mais presente em indústrias e distribuidores que estão migrando seus processos de venda, de representantes comerciais no telefone ou na rua visitando cada cliente, por portais de compra digitais e inteligentes.
A Internet das Coisas, ou IoT (Internet of Things) é a onda “hype” do momento. A McKinsey estima um crescimento de 20% ao ano o número de devices conectados, chegando a 30 bilhões de devices até 2020. Serão minúsculos computadores, conectáveis, com poder de processamento e um mínimo de inteligência embarcada. Isto tem o potencial para revolucionar de muitas formas, o modo como muitas coisas acontecem hoje. Olhando pela perspectiva financeira, o mercado de IoT, entre venda de equipamentos, soluções e serviços de IT deve movimentar U$ 1.7 trilhão em 2020 segundo o IDC.
Em IoT, estamos falando de devices que anteriormente eram apenas passivos, mas que agora podem participar de um ecossistema que integra muitos outros devices, e que podem falar entre si, trocar informações, fazer relatórios e até tomar decisões sozinhos. Serão carros conectados, eletrodomésticos conectados, motores de avião, equipamentos industriais e até a roupa do seu corpo.
E quando juntamos IoT com modelos de negócios digitais B2B, entramos numa área de reposição e compra de peças, manutenção, suprimentos e estoque com um nível de assertividade, velocidade e otimização sem precedentes.
Existem muitos exemplos focados no consumidor final, como o que a geladeira da sua casa sabe que o leite que está na caixa aberta dentro dela está acabando, pergunta pro armário sem tem mais caixas, e se não tiver, ambos decidem falar com o supermercado e comprar mais leite. Mas grande parte do potencial do IoT está no universo das empresas. Migrando para este cenário, podemos desenhar inúmeras aplicações, muito mais complexas e muito mais interessantes, vejamos alguns exemplos.
Uma empresa de frota, que tem milhares de caminhões na rua, tem um problema gigantesco com a manutenção deles, tempo parado e fraudes aplicadas pelos próprios motoristas. Imagine um cenário em que os pneus dos caminhões (que estão entre os dois maiores custos operacionais, junto com combustível) sabem quando estão gastos ou com problemas. E que estes pneus conversem entre si e também com o caminhão para saber quantos mais precisam de troca. E que o caminhão então, já sabendo do seu trajeto, solicite ao fornecedor que faz a manutenção a compra e troca dos pneus, o agendamento do serviço, e negocie com a central a alteração de trajeto e prazos. E no final, só avise o motorista de tudo isto que foi negociado. Isto assumindo um cenário que ainda exista a figura do motorista, certo?
IoT pode ser tanto em equipamentos tão tradicionais como um pneu, em que existem milhões rodando todos os dias, quanto dentro de uma turbina eólica, no meio de uma usina de geração de energia limpa no Ceará. Quem mais sabe quando uma peça, como a pá de uma turbina, começou a apresentar um comportamento estranho e vai dar defeito, do que a própria peça? A pá, sabendo que vai falhar, já pode solicitar sua reposição ao fornecedor, ela envia dados históricos de operação e telemetria, confirma seu diagnóstico e já solicita a troca. O operador humano entra apenas para validar o processo e confirmar a operação. Estou novamente assumindo que vai ter um operador humano para isto.
Operações hoje totalmente dependentes de humanos, como reposição de estoque no ponto de venda também podem mudar radicalmente. A gôndola do supermercado, falando com a prateleira do estoque da loja e com o pallet do centro de distribuição também podem decidir quando um produto está acabando ou não está vendendo. E podem acionar outros sistemas de ressuprimento para falar com os sistemas do fornecedor.
Todos estes casos de IoT, integrados com soluções de e-Commerce B2B, permitem que empresas façam negócios digitalmente com outras empresas, reponham seus estoques, executem planos de manutenção preventiva (ou mesmo corretiva com menor intensidade) e otimizem suas cadeias de supply chain com cada vez menos a dependência de processos analógicos, custosos e morosos.
Como e quando isto acontecerá, e quais serão os padrões e processos definidos, é o que veremos nos próximos anos. E existe ainda um outro componente que pode revolucionar em níveis muito mais profundos esta revolução que já está em curso hoje, que é a incorporação de soluções de Inteligência Artificial no meio disto tudo.
Mas isto é assunto para outra conversa.
Mauricio Di Bonifácio é co-fundador da Fast Channel.