Um dos principais problemas com as mudanças que o Conanda prevê com a Resolução sobre a publicidade infantil é o fato de que, mesmo sendo um órgão do governo, este não possuiria legitimidade para estabelecer regras para as propagandas, algo que cabe apenas ao Congresso Nacional e à Presidência da República. “Institucionalmente para o país é ruim, pois fica parecendo que qualquer instância de governo poderia legislar sobre o tema, que é tão caro para a sociedade como um todo”, explica Marta Fujii, sócia fundadora da agência FitLive Marketing.
Ao mesmo tempo, a Resolução nº 163 não precisa ser vista como uma vilã para as marcas, pois elas também precisam ter cuidado quanto à forma e ao conteúdo das mensagens que são passadas ao público infanto-juvenil. “Devemos evitar transformar essa fase da vida na busca por possuir algo, ao invés de vivenciar suas próprias experiências”, afirma Marta. Por outro lado, isso também não quer dizer que as empresas devem deixar de realizar campanhas. “A sociedade e seus filhos precisam se alimentar, se entreter ou se cuidar. A busca por melhores produtos e serviços sempre existirá, as novas regras tentam limitar os abusos.”
Como consequência às mudanças que devem surgir no mercado, a executiva afirma que os negócios poderão sofrer com quedas na receita, pois mais do que diminuir a forma de publicidade, a adaptação, como qualquer outra, exige tempo e investimento. “Caberá às empresas identificarem as oportunidades que surgem, pois aquelas que souberem trabalhar melhor com as novas limitações serão também aquelas que desenvolverão uma relação mais sadia e duradoura com seus clientes.” Mas, apesar de ser um desafio para as organizações, a Resolução pode não ser um fator determinante para se ter problemas com o relacionamento e fidelização do público. “O cliente mais fiel não é o consumista compulsivo, pois este é extremamente volúvel. O cliente fiel é aquele que se conquista e com quem o relacionamento e envolvimento aumenta com o tempo. Quanto antes você o conquistar, mais tempo você o terá”, acrescenta. Ou seja, aqueles que já forem conquistados por uma marca não deixarão de comprar nela, com menos ou mais propagandas.
Já para as crianças, provavelmente, a medida do Conanda será benéfica no sentido de evitar que ela sejam influenciadas e levadas ao impulso do consumo. “A mensagem que se transmite para uma criança, desde muito cedo, até mesmo na gestação, fica de alguma forma impressa nela. Talvez até o resto da vida. Determinam seus atos, seu desenvolvimento e, por fim, seu caráter.” Assim, Marta crê que, se expostas a uma quantidade excessiva a mensagens consumistas, isso determinará o comportamento delas para o resto da vida. “O consumo consciente deve ser aprendido desde cedo e essa iniciativa talvez possa colaborar com a limitação de abusos que ocorriam”, setencia. Talvez, esta seja justamente a oportunidade de as empresas construírem um relacionamento mais saudável e duradouro com os compradores, voltando para as bases de marketing: mais importante do que vender, é preciso entender os diversos públicos, ofertar benefícios e não apenas embalagens. “Com certeza é um desafio, mas pode ser uma seleção natural de players no mercado”, acrescenta.