Armando Correa de Siqueira Neto
Você já sentiu medo de um erro cometido e se cobrou por meio de pensamentos recriminadores? Ou ainda, achou que alguém sabia a respeito e poderia denunciar? E se fosse descoberto? Calculou o tamanho do estrago que isso causaria na sua vida? E a angústia sufocante só de pensar no que poderia acontecer? Pois bem, em grande parte dos casos em que se tem medo antecipado por algo que se fez e se considerou errado, a fantasia formada pelas idéias e as fortes emoções que a acompanham são bem maiores do que a realidade o demonstra ser. Até isso você já experimentou. Não foi? Pensou uma coisa e aconteceu outra. É claro que a conseqüência pode ser grande, porém, depende do que aconteceu e como o fato foi compreendido. Quantos erros são de aprendizagem? Erro e acerto fazem parte do cotidiano.
Isso já sabemos, mas o problema principal é o medo. Já fizemos muitas coisas impróprias e não contamos pra ninguém. Erros cometidos no trabalho, por exemplo, relacionados à perda de documento, informação incorreta, cobrança indevida, pedido não atendido, equipamento danificado, procedimento inadequado, cálculo impreciso etc. Pensamos que esconder é melhor. Será? Que nada! Eis um enorme pecado, fugir do enfrentamento dos atos que cometemos, achando que somos espertos. Sem a gente perceber, fazemos disto algo comum e o medo vai se acomodando cada vez mais dentro de nós, até nos convencermos de que funciona assim e pronto. Ficamos covardes como resultado deste tipo de hábito. Tentamos ser corajosos para outras coisas, mas a covardia aparece rapidamente. Afinal, ela já faz parte de nós. Somos um ser único e o que fizermos em qualquer área da vida, pessoal ou profissional, refletirá em tudo e não apenas numa situação particular.
Portanto, perdemos bastante com este tipo de atitude, a de se esconder no medo ao invés de enfrentar a questão. Um bom exemplo é o atraso que causamos ao nosso amadurecimento. Ficamos parecidos a uma criança, que ao menor murmúrio de responsabilidade sobre o que fez, corre e se esconde até a poeira baixar. Temos medo da própria sombra e assim aproveitamos bem pouco a nossa capacidade adulta de explorar melhor o mundo e a viver com maturidade os relacionamentos, sejam eles na família ou no trabalho. Sempre inventamos desculpas para vários erros cometidos e nos achamos donos da razão. Acreditamos mesmo na ladainha de que o outro está sempre errado e nós sempre certos. Ninguém desconfia que há algo de errado nisso? Lá no íntimo até sentimos que sim, mas temos medo de enfrentar a si próprios! Assim é difícil. Mantemos o jeitão covarde pela falta de um pouco de coragem para mudar a atitude de enfrentamento.
Por outro lado, já sabemos também que alguma experiência de vida nos provou ser maravilhosa a sensação de enfrentar e pagar pelo que se cometeu de errado. Sentimos que crescemos e a alma fica leve. A gente respira melhor, observe. Ninguém pode nos arrancar isso, só nós mesmos. Evoluímos quando enfrentamos as coisas pelas quais somos cobrados a responder. Dói mais permanecer na covardia silenciosa e aprisionante do que enfrentar com responsabilidade e maior coragem as circunstâncias que na maioria das vezes nós causamos. Saia da sombra e exponha-se à luz do desenvolvimento.
Armando Correa de Siqueira Neto é psicólogo, diretor da SELF Consultoria em Gestão de Pessoas, professor universitário e mestrando em liderança. ([email protected])