Muda ou… muda

Nos últimos anos, o Brasil veio acumulando maus resultados em sua economia. Muito disso em conta da crise política que se instaurou no País, e que resultou, inclusive, no impeachment da presidente Dilma Rousseff. A troca de comando logo trouxe uma esperança de melhores números, com a reversão do quadro negativo. Porém, os primeiros meses de governo Temer ainda não demonstraram grandes mudanças, deixando a expectativa para o próximo ano. Tanto que a maioria dos empresários já está de olho em 2017, criando e traçando estratégias, apoiadas em inovação, para contribuir com a economia brasileira, colocando o País de novo rumo ao crescimento, como ficou evidente no XV Encontro com Presidentes, realizado no dia 06 de dezembro, na Melicidade, em São Paulo.
No entanto, o desafio será grande, como apontou o diretor de projetos especiais da Philip Morris, Maurício Mendonça, que realizou a palestra de abertura do evento. Falando sobre as perspectivas para o próximo ano, o especialista pontuou que o País sofrerá impactos de diversos âmbitos e transformações, internos e externos, e por isso, a crise não deve acabar. Porém, pior não vai ficar. “Não vai ser fácil sair desse estado que estamos. Ano que vem será, no mínimo estável, mas melhorar não”, acredita. Isso porque mesmo com a espera de crescimento do PIB e da redução da taxa de inflação apontadas pelo Banco Central, o investimento continuará baixo. Hoje, o país tem uma taxa de investimento igual à época do presidente João Goulart, o que é muito abaixo do ideal. Ou seja, essa realidade mostra que a confiança do empresário é pequena, impedindo de ele aplicar seu dinheiro em novos projetos. “E essa realidade é a que mais traz a ideia de que ainda vamos demorar a sair da crise.”
Na visão de Mendonça, o que pode fazer a diferença nesse momento é o envolvimento de toda a sociedade, ou a falta dele. Principalmente entre as empresas, o diretor da Philip Morris comenta que é preciso que cada uma entenda seu papel na sociedade, pois essa consciência será importante para mudar as coisas. “Cabe a esse universo de líderes para fazer a transformação, porque, se a gente não conseguir sair desse cenário e começar a acelerar algumas coisas, vai ser ainda mais difícil a situação”, pontua. Ao que parece, os presidentes já estão conscientes de que é preciso se unir e procurarem maneiras para reverterem o cenário. Inclusive, união e ação foi o caminho apontado pelos participantes do painel “Perspectivas políticas e econômicas”, que teve como moderador o presidente da Fenadvb, Miguel Ignatios.
Com uma visão positiva sobre a atual situação, Acácio Queiroz, presidente do conselho da Chubb, comenta que essa não é a primeira vez que o Brasil passa por uma crise e, nas anteriores, o país teve como característica conseguir se levantar e sair mais fortalecido, o que já é um bom motivo para os brasileiros se motivarem e procurarem fazer o mesmo. “É o momento da sociedade ter maior participação, como a mobilização dos empresários, porque, senão houver isso, vai levar muito tempo para melhorar”, afirma. “É difícil agir, mas é preciso.” Para Marcelo Coelho, vice-presidente e country manager do Mercado Pago no Brasil, as ações devem ir além de procurar oportunidades e onde investir, acontecendo também no âmbito social. Ou seja, em decidir como entregar aquilo que a população necessita. “Sou otimista com tudo isso, temos que discutir qual destino queremos prover e quê caminho seguir. Tudo está por ser construído”, finaliza. Principalmente, porque do futuro muitas são as suposições e poucas são as certezas. Uma das poucas é que o mundo digital continuará transformando a sociedade e de maneira ainda mais intensa. Com isso, Jefferson Frauches Viana, presidente da WayBack e do IGeoc, ressalta a importância dos líderes passarem a pensar de quê maneira irão contribuir para as mudanças. “Temos que pensar como empregar nossas energias, nos fortalecer diante de tudo isso, de forma positiva, para o que vamos viver ainda mais pra frente”, diz.
INOVAÇÃO
Na mesma linha, Rodrigo Loures, presidente da Nutrimental e responsável pela área de Inovação na Fiesp, coloca dois pontos como fundamentais para contribuir com o desenvolvimento do País: investir em inovação e uma participação mais ativa dos empresários junto às prefeituras. “Teremos mudanças nos próximos anos na política e isso terá grandes consequências em todas as áreas. Por isso, é fundamental que as empresas apresentem propostas de inovação para a gestão pública”, afirma o executivo. De acordo com o executivo, o atual momento do País necessita de novas institucionalidades que permitam que a mudança aconteça. No primeiro momento isso passa por permitir que as empresas possam aproveitar melhor suas infraestruturas para o desenvolvimento do Brasil. Por outro lado, passa também pela importância delas contribuírem para que o País acompanhe as mudanças do mercado.
Ainda assim, é difícil encontrar uma sintonia entre empresas e poder público nesse sentido. São poucas as ações em que há um trabalho conjunto para desenvolver e aperfeiçoar produtos, serviços e processos, facilitando a vida de clientes e cidadãos. Em cima disso e provocados por Loures, líderes de empresas de diferentes segmentos debateram como o mercado pode contribuir à partir da inovação para que o Brasil volte a crescer. Sobre isso, o sócio da Pieracciani Consultoria Valter Pieracciani, afirma que é hora do mercado brasileiro mostrar do que é capaz, até porque São Paulo, por exemplo, já é um dos 10 melhores ecossistemas de inovação do mundo. “A era da perplexidade pede ação. O recado que quero deixar é que precisamos agir para fazer com que as mudanças aconteçam.” Dentro disso, ele lista três estratégias fundamentais nesse momento. A primeira é retomar a conexão com o cliente. Outro ponto levantado é o processo de servitização, que significa aumentar a oferta de pacotes combinados de produtos e serviços. Por fim, ele coloca a necessidade de pensar no cliente do cliente.
A opinião é compartilhada por Nelson Campelo, presidente da Ustore. “Certamente, nós empresários podemos e devemos nos pôr a disposição para contribuir com as mudanças.” Dentre essas mudanças, ele explica que inovação sempre esteve muito associada a produto. Com o tempo, o foco foi para os processos, como forma de aumentar eficiência. Hoje, ela está associada à novos modelos de negócio. Levando isso para o setor público, o executivo conta que há desafios a serem enfrentados, mas também há oportunidades a serem exploradas. Uma delas é mudar a forma como as prefeituras se relacionam com o cidadão. “Chegou o momento de inverter a relação, com as prefeituras presentes no dia-a-dia da população.” Já o presidente do Grupo Impacta, Célio Antunes, entende que é possível transformar o País por meio da educação. Por isso, o grupo procura juntar sempre o ensino à prática do dia-a-dia nas empresas. “Levamos para o aluno o universo do empreendedorismo. Inclusive, temos nossa incubadora com diversos projetos para contribuir com o mercado”, comenta. Ele explica que isso também é uma resposta às demandas das empresas que estão ávidas por jovens que possam trazer inovação e mudem modelos de negócio. “Elas sabem que hoje, no mercado, ou você inova ou corre o risco de morrer. Empresas que não identificarem as mudanças vão ficar para trás.”
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