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Na indústria do pós-crise



Autor: Carlos Eduardo Pitta

 

A crise acabou. Graças à intervenção rápida de nosso Governo, mal sentimos o impacto deste período, considerado por muitos o pior desde a Grande Depressão. Independentemente da atuação de nosso governo ter sido – ou não – fundamental para o abrandamento da crise, ou pelo fato de ter sido esta – ou não – a pior crise da história. Não sabemos se a recuperação será V-shaped (formato de V – queda brusca e recuperação rápida) como sugerem a maioria dos economistas ou U-shaped (formato de U – queda rápida seguida de período de depressão e posterior recuperação) como imagina Nouriel Roubini, o economista que previu a crise e preconizou o caos. O que sabemos é que o PIB, no Brasil como no resto do mundo, mostra sinais de recuperação e deverá crescer no próximo ano.

 

Um desafio se apresenta para as empresas neste momento: estamos preparados para a recuperação? Será que corrigimos os erros do crescimento acelerado para tirar o máximo proveito da retomada do crescimento? Durante os últimos doze meses, investimentos foram suspensos, custos cortados, planos de produção postergados e crédito suspenso.

 

Agora é tempo de “religar a chave”. O crédito voltou. Com ele o consumo “puxando” a produção industrial. O Investimento externo está aí novamente, e com ele a alta das bolsas e espaço aberto para IPO´s bem sucedidos. O Real voltou a se valorizar, barateando as importações de insumos, mas também facilitando a concorrência dos produtos importados.

A armadilha que se apresenta, num momento como esse, é imaginarmos que tudo será como antes. Que o que passou foi apenas uma pausa e que retomaremos o crescimento do ponto onde paramos. Mas nada será como antes! A economia mudou. O mundo mudou. Há novas relações de poder entre as nações. As agências de crédito estão mais cuidadosas. O consumidor está mais preocupado. A indústria terá que ser mais eficiente.


Nesta retomada, estará nossa indústria preparada para um salto de eficiência? Temos que lembrar que dessa crise novas relações se consolidarão. Alguns países, antes secundários na economia mundial emergem, agora, como potencias – dentre eles destacam-se o Brasil, a China e a Índia. Como sabemos, os dois últimos têm, tradicionalmente, apresentado menores custos de produção. Porém uma nova barreira foi rompida nos últimos 12 meses.


Estes países inseriam-se na economia mundial por dois caminhos: como quintais industriais dos países desenvolvidos ou vendendo produção própria, de baixo custo e baixa qualidade. Este é o grande ponto de ruptura. A queda na demanda dos grandes fabricantes deixou ociosas as grandes plantas do oriente. Para compensar esta situação, estas indústrias estão agora exportando com marcas próprias.


Hoje, vemos não uma, mas várias marcas de veículos chineses em nossas ruas. Veículos que não têm o acabamento de um Jaguar, mas que já apresentam qualidade que, aliada a um custo extremamente vantajoso, os torna uma opção real no mercado.


Ainda mais emblemático, durante décadas o Equador ficou conhecido por seus famosos chapéus Panamá. Estes chapéus são feitos – de uma planta local – à mão, com preços que variam de US$ 50 a US$ 300 (dependendo da qualidade da trama) e respondem pela economia de duas regiões do País. Nos últimos anos, o mercado mundial de chapéus Panamá tem sido invadido pela produção chinesa desses chapéus que, industrializados (perdendo, assim, a unicidade de chapéu feito à mão), apresentam qualidade semelhante com preços na ordem de US$ 5. É hora de repensar a nossa indústria.


Carlos Eduardo Pitta é consultor, administrador e engenheiro com vasta experiência em administração e finanças de empresas industriais e de serviços. ([email protected])

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