O que falta para o m-payment decolar no Brasil?



Mobile payment tem sido um tema recorrente em muitos eventos de tecnologia e, também, assunto de infindáveis reuniões de planejamento estratégico em várias empresas. Além disso, tem tirado o sono de muitos executivos da área de P&D.


Por que, desde 2006, tanto se discute sobre o m-payment e a tecnologia não decola? Alguns especialistas dizem que o problema é a segurança, mas basta estar logado para se tornar uma vítima em potencial de golpes, como acontece no e-commerce tradicional, que cresce sem parar. Em 2011, os negócios das lojas virtuais aumentaram 26% em comparação ao ano anterior e, para o atual período, a previsão é crescer 25%, fechando 2012 com uma movimentação de R$ 23,5 bilhões.


Mas, então, será que o m-payment ainda não vingou por falta de tecnologia? Também não, pois atualmente há muita tecnologia disponível tanto para o usuário final quanto para as empresas. Uma delas é a que permite realizar a compra com o celular, por meio da troca de SMS com o lojista, utilizando-se um “autorizador de compras”, que credencia o lojista e o habilita a trocar mensagens com o usuário final pelo telefone móvel. Ou seja, a transação de venda é realizada e aprovada por SMS, no próprio aplicativo.


Há também o celular que transforma-se em “carteira eletrônica”. O usuário baixa um aplicativo de um agente autorizador – pode ser um banco ou um adquirente, empresa responsável pela comunicação da transação entre o estabelecimento e a bandeira -, o qual digitaliza os dados do cartão e os transfere para o aparelho. Para efetuar uma compra, o portador aproxima o celular de um leitor do tipo Near Field Communication (NFC) e a transação é aprovada automaticamente. Vale ressaltar que um dos maiores adquirentes do Brasil anunciou a instalação de leitores NFC em toda a sua rede de credenciados. Sem dúvida, um empurrão importante para o m-payment decolar no País.


Outra alternativa é a tecnologia que possibilita a realização de compras com leitores de cartão instalados no próprio celular. Basta o usuário baixar o aplicativo do autorizador (banco ou adquirente) e utilizar um gadget que é plugado no aparelho (por exemplo, o Square) e faz as vezes da “maquininha” (POS). A partir daí, é só digitar o valor da compra, escolher o item, passar o cartão no leitor e a transação é autorizada instantaneamente.


Por fim, há o chamado mobile e-commerce, que dispensa aplicativos e SMS. O usuário, pelo próprio celular, acessa o site de uma loja virtual, escolhe o que deseja e fecha a compra, como se estivesse à frente do computador.


Com tantas opções tecnológicas disponíveis, a meu ver, duas questões travam o crescimento do m-payment no Brasil: regulamentação e cultura. Embora o governo tenha anunciado recentemente que a Casa Civil e a Presidência analisam uma proposta de criação de marco regulatório, ainda há muita especulação de como serão as regras, o que afasta os investimentos. De qualquer forma, é necessário regulamentar o negócio sob a ótica da telecomunicação (Anatel) e financeira (Banco Central), para deixar claro quem pode cobrar o que e de quem nas transações efetuadas, sem onerar o consumidor, já que esse modelo altera o jogo para operadoras de telecomunicações, adquirentes e emissores de cartões.


Pelo aspecto cultural, não será do dia para a noite que as pessoas deixarão de lado o plástico tradicional para utilizar o celular e migrar de vez para o m-payment. Essa mudança de comportamento carece de muito incentivo e adaptação. Talvez seja o processo mais demorado, porém, deve-se incentivar a mudança de cultura dia a dia.


Com a altíssima quantidade de usuários de celular no país – são 260 milhões de linhas em posse da população brasileira -, não fica difícil prever que o m-payment vai dar certo. Apostamos no sucesso dessa nova forma de pagamentos, que está no forno. Quem criar mecanismos para gerar a necessidade e mudar a percepção de valor dessa novidade na cabeça do consumidor, vai certamente navegar num baú de riquezas.


Peterson Pais é gerente de Marketing da Accesstage, empresa especializada em soluções para o intercâmbio de dados financeiros.

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