Aprender com os erros do passado é vital para o fortalecimento de um setor em que as mudanças se dão em um ritmo cada vez mais acelerado, como é o caso das telecomunicações. No Brasil, a privatização do setor, no final da década de 90, teve como um de seus pilares a universalização dos serviços, que tinha o objetivo de acabar de vez com a demanda reprimida.
No entanto, o modelo brasileiro foi todo pensado apenas para voz, e não para dados. Como conseqüência disso, a base de clientes de telefonia fixa – antes de se estagnar – expandiu-se significativamente nos primeiros anos após privatização, especialmente entre as classes C e D.
O acesso à banda larga, no entanto, que crescia expressivamente em todo o mundo ficou estagnado no País, fazendo com que até hoje as discussões sobre inclusão digital para serviços públicos de educação, cultura e saúde continuem ocorrendo. Isso acontece porque o potencial de crescimento para o mercado de banda larga no Brasil é imenso e ainda há muita gente para ser incluída social e digitalmente.
Com a telefonia móvel, o crescimento da base de assinantes foi ainda mais impressionante: hoje são mais de 100 milhões de usuários. Porém, mais uma vez, o fenômeno ficou restrito às aplicações de voz. É só observarmos que quase 80% dos celulares do País são pré-pagos, usados essencialmente para receber chamadas telefônicas. Em termos de voz, a mobilidade é hoje uma realidade incontestável, mas, novamente, o modelo adotado não privilegiou a transmissão de dados.
Muitos acreditam que, no futuro, a transmissão de dados sem fio nos permitirá estar conectados em banda larga onde quer que estejamos. Com nossos dispositivos sempre ligados poderemos compartilhar informação, comprar e vender bens e serviços ou simplesmente nos divertir. Esta visão é bastante agradável e otimista, mas a verdade é que não se sabe ainda como faremos para chegar a ela.
Falando em alternativas tecnológicas, o 3G e o WiMAX têm sido apontadas como as principais alternativas de banda larga para as próximas gerações de redes móveis. No passado recente falava-se também na possibilidade de se utilizar redes WiFi outdoor com topologia mesh, mas a opção parece ter perdido força para as duas primeiras.
Em relação à 3G, o principal argumento favorável é que se trata de uma tecnologia há mais tempo no mercado, já tendo sido implantada na Europa e nos Estados Unidos. Contra ela pesa o fato de não ser barata e serem reportadas dificuldades para sua utilização com aplicações como vídeo streaming, por exemplo.
Com relação ao WiMAX, as experiências existentes até aqui com a versão disponível comercialmente, designada 802.16d, ou WiMAX fixo, indica que ela já se mostra uma alternativa excepcional para construção de abordagem a novos pontos, a chamada “última milha”. Nestes casos, é possível a abordagem de novos endereços em ciclos que variam de um a quatro dias, oferecendo serviços que permitem a construção de redes privadas (VPNs) com priorização de tráfego de acordo com as aplicações dos clientes, com velocidade de 2 até 20 Mbps. Tudo isto com uma relação custo-benefício que é de longe a melhor de todas às das demais tecnologias disponíveis hoje.
As expectativas também são muito grandes em relação à próxima versão da tecnologia (802.16e, ou WiMAX móvel) e à partir de sua disponibilidade comercial, que vai permitir sua compatibilidade para uso em dispositivos pessoais como handhelds e notebooks. Não é por acaso que a Sprint Nextel, terceira maior operadora de telefonia móvel dos EUA, decidiu investir US$ 5 bilhões até o fim de 2010 em uma rede WiMAX que cobrirá boa parte do país.
Outra empresa norte-americana, a ClearWire, atualmente operando com tecnologia proprietária, mas alinhada com o WiMAX móvel, também anunciou que vai continuar seguindo o mesmo caminho. Há inclusive uma parceria anunciada entre as duas empresas, para garantir a conexão e complementaridade entre as duas redes, que devem alcançar 100 milhões de pessoas. Desse total, a Sprint espera cobrir 70 milhões, ficando o restante com a Clearwire. Além disso, o FCC, órgão regulador dos EUA, anunciou a aprovação do primeiro cartão para banda larga voltado para notebooks, a ser oferecido pela ClearWire.
Seria um cenário factível termos a co-existência das tecnologias, que se complementarão e garantirão a realização da visão da banda larga em todos os lugares? Pode ser, mas existem ainda questões regulatórias a serem contempladas. Por exemplo, no Brasil observamos o atraso do governo em promover o novo leilão das faixas de freqüência de 3,5 GHz a serem utilizadas para o WiMAX. Quanto antes esse impasse for resolvido, melhor será para que a tecnologia ganhe escala, baixando os preços dos equipamentos e se tornando ainda mais atrativa para os usuários.
Dessa forma, mais que uma guerra entre tecnologias de banda larga, o que está em jogo são as potencialidades que podem ser oferecidas aos usuários. Estes, por sua vez, gostariam mesmo é de ter a possibilidade de utilizar dispositivos amigáveis a qualquer hora e em qualquer lugar para acessar Internet, conversar (VoIP), assistir a vídeos, acessar redes corporativas,etc. Isso nada mais seria do que a tão falada convergência, agora na transmissão de dados.
Maurício Coutinho é presidente da Neovia.