Os riscos da tropicalização



Autor: Manoel Rocha


De acordo com o dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, um dos significados para tropicalização é: preparação ou adaptação de equipamentos, por meio de tratamento industrial, para dar-lhes maior resistência à ação do clima dos trópicos. Se pudéssemos moldar o conceito de tropicalização para recursos humanos, certamente as empresas multinacionais alcançariam alguns objetivos como racionalizar, agilizar e controlar os processos, com a finalidade de permitir decisões confiáveis e adaptadas à realidade dos países em que operam.


O RH é uma das áreas que mais exigem controle e agilidade na gestão de pessoas, tanto para padronizar quanto para reduzir os custos das tarefas administrativas. Para as empresas de atuação global, o modelo ideal deveria envolver o agrupamento das informações referentes a qualquer um dos funcionários, em todos os países em que atua, em uma base de dados central, permitindo à direção de recursos humanos da matriz gerir e acompanhar se o desenvolvimento dos colaboradores da organização, em todas as filiais, ocorre de modo homogêneo e harmônico, de acordo com as diretrizes da corporação.


Para vencer o desafio da integração total, muitas companhias internacionais já tentaram, a custos altíssimos e sem sucesso, centralizar a administração das tarefas dos recursos humanos de todas as filiais em um único sistema. Nem mesmo os maiores desenvolvedores de software do mundo conseguiram oferecer uma solução satisfatória.


O problema é mais conceitual do que técnico. “Engessadas” pelo tamanho, complexidade (e por que não dizer, obsolescência) do seu produto, grandes players do mercado recorrem à “tropicalização” na tecnologia da informação (TI), um artifício que muitas vezes oferece contratempos ao invés de soluções.
Tropicalização em TI é o processo de lançar mão de um software de folha de pagamento ou RH adotado por uma filial (normalmente dos países mais desenvolvidos) e customizá-lo de forma inadequada para as filiais de outros países, sem a preocupação com as leis e outras particularidades de cada um.


O caminho para a unificação dos sistemas passa, necessariamente, por uma mudança conceitual na elaboração dos softwares. Ou seja, no desenvolvimento de um produto capaz de reconhecer e atender às diferenças de legislação, idioma e processos de cada filial. Por isso, os desenvolvedores de países emergentes como o Brasil possuem uma clara vantagem sobre os concorrentes. Primeiro, por terem clientes que já “conviveram” com problemas da tropicalização, as empresas daqui têm conhecimento sobre os problemas e estão mais aptas a oferecer soluções rápidas e eficientes. Depois, por obedecerem as diretrizes de usabilidade e não estarem atrelados a outros softwares, os programas brasileiros, em geral, são mais facilmente atualizados, (re)configurados e customizados. Condições essenciais para a centralização dos sistemas e a gestão eficiente do RH em qualquer parte do globo.


Portanto, antes de tropicalizar, o executivo deve pesar custos de customização e produtividade decorrentes. O mercado nacional oferece soluções ágeis e flexíveis, plenamente capazes de integrar o RH em qualquer parte do planeta.


Manoel Rocha é diretor-executivo da Apdata do Brasil.

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