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Os riscos do contato comercial


Roberto Dexheimer

Os prejuízos e os problemas causados pelo roubo de cargas aos transportadores rodoviários sempre foram motivos de muito debate no Brasil. Trata-se de um crime que superou no ano passado, segundo estimativas, o primeiro bilhão de reais em prejuízos no Brasil e que, graças ao desbaratamento de quadrilhas, vem diminuindo, embora ainda tenha muito fôlego e continue a envolver, além de assaltantes, policiais e profissionais de segurança e transporte. Tem-se também discutido e debatido à exaustão os obstáculos enfrentados no combate ao roubo de cargas, as questões de segurança, a falta de preparo e atenção dos órgãos de segurança do Estado e mesmo itens relativos a uma legislação adequada, que ainda está por vir. Em todos os debates, no entanto, até agora nunca foram incluídos os riscos de envolvimento neste tipo de crime por parte da atividade do contato comercial de uma empresa de transporte.

Seguramente, a divisão de tarefas comum em qualquer organização empresarial, muitas vezes, pode ser entendida com a isenção de responsabilidades de um departamento ou área em relação às atribuições de um segundo ou terceiro. E, na prática, pode até ser isso mesmo. Essa suposta isenção, no entanto, pode acarretar danos irreparáveis ao profissional que, em determinado momento, achou que certa atribuição não era responsabilidade de sua área. Sobre isso posso falar de cátedra.

Tenho mais de 20 anos de trabalho na área comercial de transportadoras. Sempre se tem a impressão que o trabalho de contato comercial restringe-se à busca incessante por novos clientes, apresenta-los para novos contratos, encerrando-se as responsabilidades desta atividade. Não é só impressão. Isso acaba acontecendo mesmo. Na maioria das vezes se apresenta o cliente, deixando a pesquisa, sobre a idoneidade e demais itens de cadastro, fique por conta de departamento com tais atribuições. É nesse ponto que mora o perigo. Por confiar no setor de cadastro de um operador logístico, meu nome acabou envolvido durante a prisão de uma quadrilha especializada em roubo de cargas e tive que amargar nada menos do que 9 meses na prisão. O meu crime: sem saber de suas operações ilegais, indicar cliente para o operador logístico, confiando que a área de cadastro iria apurar, como é sua atribuição, a idoneidade do indicado. Subitamente, quando a Polícia começa a investigar as atividades da quadrilha e prendeu os integrantes, aparece meu nome ligado às operações dos criminosos, dando início a um pesadelo que parecia não ter fim.

Resolvi citar meu caso pessoal para que sirva de alerta. Preso em março passado, só consegui liberdade no final de novembro, depois de muitas idas e vindas, contratação e troca de advogados para provar que nada tinha ver com as operações da quadrilha. Nesse período nunca perdi a esperança de liberdade, porque nada tinha feito e possuía provas disso que acabaram aceitas pela justiça. Nem preciso expor aqui os danos morais e pessoais que uma situação como essa acaba provocando. Espero, sinceramente, que, pelo menos, ela venha a contribuir para um debate mais amplo sobre questões relacionadas com o roubo de cargas.

Roberto Dexheimer é administrador e foi gerente comercial de transportadoras de cargas em São Paulo.

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