Autor: Júlio Fábio Chagas
Conceitos, tecnologias e ferramentas com foco em mobilidade, originalmente desenvolvidos para atender a demanda do mercado B2C, vêm sendo analisadas e utilizadas também pelo segmento corporativo para atender suas demandas internas B2B e B2E. Isso é devido à massificação da mídia especializada sobre o tema, onde mobilidade agora representa números na escala dos milhões: milhões de usuários, milhões de equipamentos, milhões de aplicações. Por isso a pergunta: Aplicações com foco no B2C e B2B/B2E possuem as mesmas características e finalidade, compartilhando então a mesma abordagem tecnológica?
É neste momento, em que o mercado da tecnologia de mobilidade está extremamente aquecido e abarrotado com ferramentas que permitem maior facilidade e velocidade em criar aplicações, que se faz necessária a separação da estratégia tecnológica destinada ao consumidor final (B2C), daquela que se destinaria a atender os processos de negócio de uma corporação (B2B e B2E). Devemos atender usuários corporativos da mesma maneira que atendemos o consumidor final? Em todos os aspectos?
Tecnologias e conceitos como WebOS, HTML5, 3G, 4G, Small Apps e Apps Stores atendem efetivamente muitas das necessidades e demandas do consumidor final e também alguns processos B2B e B2E. Mas não é verdadeira a afirmação de que estas tecnologias e conceitos são a resposta para todas as questões. Ainda não! Principalmente se o foco não é o “consumidor final”.
O investimento em ferramentas que permitam um desenvolvimento de software mais rápido e portável para quase todos os sistemas operacionais móveis (iOS, Android, Windows Phone, entre outros), utilizando cada vez mais desenvolvimento “clicar e arrastar”, é um desejo antigo da indústria que passa a ser atendido na atualidade por meio dos chamados frameworks de mobilidade (Corona SDK, Appcelerator, Rhomobile, SUP, JQuery, entre outros).
Mas isso tem o seu preço: sistemas generalistas não terão a mesma eficiência dos sistemas especialistas. Principalmente quando falamos de frameworks de desenvolvimento.
Aproveitando a afirmação de Chris Anderson em seu livro “A Cauda Longa” (“The Long Tail”) de que existe uma nova dinâmica no mercado, de maneira que as empresas têm que estar preparadas para a fragmentação desse mercado, pode-se dizer que o fenômeno chamado mobilidade fragmentou a indústria do software. Esta fragmentação deve ser vista como algo extremamente positivo, pois criou-se vários nichos de softwares em um curtíssimo período de tempo; surgiram novos ecossistemas de negócio com demandas específicas de desenvolvimento de software especializado.
As Apps Stores estão ficando abarrotadas de aplicativos justamente devido a essa facilidade. Mas para funcionarem, é necessário que o usuário esteja conectado em algum tipo de rede de dados, Wi-Fi ou 3G. Mesmo que apenas algumas dezenas de informações sejam necessárias, sem essa conectividade o usuário não terá o que precisa. A maioria dessas aplicações é desenvolvida por meio dos frameworks de desenvolvimento rápido, citados anteriormente.
O fato de termos o 3G e estarmos nos preparando para o 4G, quer dizer apenas que, onde houver acesso à rede de dados das operadoras teremos alguma conectividade, mas não quer dizer que a rede de dados será onipresente ou eficiente. Para isso ainda vamos esperar alguns anos (quem se lembra da promessa do Wimax? O seu 3G de hoje funciona com 100% da velocidade 100% do tempo? Aliás, o 3G funciona 100% como prometido e em todo lugar?).
Para alguns usuários, principalmente os corporativos, não ter a informação crítica naquele exato momento pode significar a perda de um negócio, um prejuízo ou atraso em um processo, por exemplo. Portanto para esses usuários, utilizar aplicativos que dependam de redes de dados sempre é um risco alto. É ai que entra a importância de aplicações que possam armazenar, localmente, as informações indispensáveis, dando acesso a elas mesmo quando não há conectividade. Característica essa, que geralmente não é atendida por boa parte das soluções existentes nas lojas de aplicativos.
Não entendam isso como: “morra on-line, vida longa ao off-line”. Não é isso. Afinal, o ideal é sempre o equilíbrio: soluções híbridas. Apenas precisamos ter o cuidado de entender a dinâmica do “como” e do “quê” realmente precisamos no decorrer do dia (informações, imagens, vídeos, regras de negócio, etc.) e do seu impacto se não estiver lá com você, a fim de determinarmos melhor qual a abordagem tecnológica mais adequada: maior, menor ou nenhuma dependência de conectividade. E ai sim, partir para a adoção das ferramentas e frameworks adequados à sua realidade e não cair na imposição de campanhas de marketing ou mídia, que utilizam como modelo apenas a realidade do consumidor final, para quem nem sempre, não ter a informação naquele momento, não é crítico.
Júlio Fábio Chagas é diretor comercial da MC1.