Quando o medo fortalece



Autor: Marcelo Ponzoni

 

Quando jovem, sempre senti muito ‘frio na barriga’. Ora por não estudar o suficiente para uma prova, ora por agir do meu jeito e, assim, me expor a vários riscos. Por muitos anos pratiquei motocross, um esporte radical que sempre me fascinou justamente pela exposição ao risco. É uma atividade que exige decisões rápidas e controle de diversas atividades ao mesmo tempo, mas que, no entanto, é muito prazerosa. Durante os treinos livres eu tentava ultrapassar os outros e me posicionar para estar sempre à frente de todos.

 

Esse objetivo cada vez mais implicava em risco, tanto que minhas capacidades sempre eram colocadas à prova. Por isso, durante a semana, eu trabalhava muito o aeróbico, tentava tirar mais potência da motocicleta, mudava a calibragem de pneus e, principalmente, treinava nas mesmas pistas onde seriam as competições.

 

Hoje, profissionalmente, as coisas não mudaram muito. Não aceito voltar à posição anterior. A cada conquista existe a preocupação de não perder o lugar em que estou. Olho para trás a fim de ver quantos competidores já ultrapassei e, continuamente, busco sair do lugar em que estou para alcançar uma nova posição.

 

Sempre observei os melhores pilotos, seja nas pistas, seja nos negócios, seja na vida. Admiro suas habilidades e suas conquistas. Todos dias tento acelerar mais e completar meus objetivos em um tempo menor. Porém, as palavras de um treinador de MotoCross nunca saem da minha cabeça: “Arrisque sempre, mas não mais do que a sua capacidade possa suportar. É muito tênue a linha entre ganhar e perder”.

 

Lembro que muitas vezes a moto andava mais do que a minha capacidade de conduzi-la. Meu coração subia à garganta e o medo tomava conta do meu corpo, mas sempre a coragem se mostrava mais forte. E foi com uma atitude corajosa que deixei o esporte, aos 40 anos, após um acidente, quando o risco começou a comprometer as grandes conquistas de minha vida: família, empresa e filho.

 

Convenci-me de que era hora de parar de correr, embora alguns dissessem para continuar, mas em outro ritmo, mais devagar, só brincar… Só que desacelerar não faz parte do meu ímpeto, sou intenso em tudo o que faço, sou competitivo, gosto de superar limites, desafiar possibilidades, enfim, gosto de sentir medo, o tal ‘frio na barriga’. Quando esses sentimentos não estão presentes, já percebo o sinal: “Estou parado, inerte, acomodado”.

 

Minha vida em cima das motocicletas me trouxe muitos aprendizados. E percebo isso quando vejo muitos se portar de maneira complicada diante dos medos que a vida lhes impõe.

 

Tentar transformar o medo em oportunidade pode ser um grande passo para conquistar vitórias e derrotar adversários, os quais, muitas vezes, são apenas frutos da nossa própria imaginação.

 

Começar a enxergar o medo como um sentimento positivo, lutar e vencê-lo traz uma sensação antecipada de vitória. E essa deve ser a nossa grande busca.

 

Marcelo Ponzoni é proprietário-fundador e diretor executivo da agência Rae, MP.

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