Autor: Francisco Blagevitch
Um forte sentimento de incerteza é a tônica do discurso do empresariado nacional. A oscilação do dólar, a retração do crédito e o clima de instabilidade têm dominado o cenário corporativo, fazendo com que projetos e investimentos sejam colocados “na geladeira”, à espera de novos capítulos da novela crise financeira. Uma nova postura será determinada pelo desenrolar do enredo dessa história, que até agora não deu sinal de final feliz.
O segmento de Tecnologia da Informação (TI), assim como qualquer setor da economia, já percebeu que sofrerá, mais cedo ou mais tarde, alguma espécie de impacto. No âmbito das contratações, felizmente, o cenário é otimista, já que o mercado continua demonstrando demanda por profissionais capacitados. Enquanto o desemprego é fator predominante em diversas áreas, o oposto acontece no setor de TI, que a cada dia demonstra perspectivas mais positivas. Basta atentar para os recentes anúncios de vagas oferecidos pelos grandes players.
No meio dessa turbulência, a área de serviços de TI tem tudo para se destacar e conquistar ainda mais mercado, mesmo em temporada de crise. Vale lembrar que o setor de tecnologia irá movimentar US$ 51,45 bilhões só na América Latina. Ou seja, potencial não é o problema. Embora importantes institutos de pesquisa, como Gartner e IDC, apontem reduções nos crescimentos dos orçamentos, o mercado não irá declinar, apenas crescerá de forma ponderada.
Por isso é tão relevante ter uma postura otimista e se adequar à demanda das organizações, que iniciaram fortes movimentos de contenção de despesas e reorganização de planilha de investimentos. Em suma, o mercado está com o “freio de mão engatado”. Por isso, quem conseguir inovar e ser criativo, oferecendo serviços “sob medida”, certamente sairá na frente. Os projetos de TI, a partir desse período de crise, precisam ser muito bem justificados, exigindo-se um alinhamento efetivo da tecnologia com as áreas de negócio das empresas. Em outras palavras: os fornecedores precisam aprimorar sua capacidade de demonstrar o valor da tecnologia para o negócio.
O setor de serviços de TI sempre foi altamente competitivo. E a pressão por diminuição de custos faz com que, muitas vezes, as organizações acabem sendo seduzidas por preços mais atraentes, esquecendo-se do quesito qualidade. Nesse sentido, a turbulência mundial é um campo fértil para que os fornecedores exercitem sua capacidade de oferecer preço justo aliado a excelência operacional, apresentando um modelo de serviços que contemple esses dois aspectos e que se encaixe ao enxuto orçamento das empresas contratantes. Não é uma tarefa fácil. Mas quem disse que seria?
Diferenciação e flexibilidade são as palavras de ordem do momento, sobretudo para os fornecedores que desejam manter contratos e conquistar novos clientes. Com a crise ou sem ela, ainda teremos demandas do mercado por serviços de TI. Mas não basta contar com ofertas exclusivas, alinhadas às últimas tendências tecnológicas. O que realmente fará a diferença e será considerada uma ferramenta estratégica, é a capacidade de se adequar e a de se colocar no lugar do contratante. Não adianta oferecer um serviço que não consiga “dialogar” com as necessidades e, principalmente, com a planilha de custos das organizações.
Outro fator a ser considerado é que em momentos de crise, os CIOs devem estar totalmente voltados ao seu core business. E ao optar, por exemplo, por um modelo de outsourcing, o executivo acaba ganhando mais tempo para se dedicar a assuntos vistos como essenciais em meio à atual turbulência. Se por um lado a crise financeira internacional afeta, do ponto de vista econômico, cada vez mais o Brasil, forçando as empresas a implantarem políticas de corte de custos para se adaptar à nova realidade, em contrapartida temos um fértil terreno para o outsourcing de alguns departamentos, como por exemplo, de Service Desk.
É inegável que estamos diante de um momento delicado, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo. Indiscutivelmente, isso nos leva a adoção de novas posturas e diferentes formas de gerenciar empresas e negócios. No entanto, os fornecedores de serviços e soluções de TI que usarem o discurso da crise como muleta para não inovar estarão fadados ao insucesso. É como diz a canção de Geraldo Vandré: “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.
Francisco Blagevitch é diretor de novos negócios da Asyst Sudamérica.