O ano de 2007 foi excelente para o setor de telecomunicações na América Latina. A consolidação do mercado se materializou por dois caminhos diferentes. Por um lado, a estabilidade política e econômica na região permitiu que as economias locais crescessem a taxas de 4% a 6%, acrescentando muita atratividade aos investimentos estrangeiros. Por outro lado, 2007 testemunhou mudanças substanciais no cenário do mercado. As operadoras, principalmente as telcos locais, entenderam que não têm condições de manter suas operações dispersas entre três ou quatro modelos de negócios.
Para este ano, espera-se que a implementação de novos produtos e tecnologias mude rapidamente o rumo do mercado. O ano de 2008 surge, então, como um ano repleto de desafios para os participantes do setor, cheio de novos aplicativos e melhores ofertas para os usuários finais. A analista da Frost & Sullivan Gina Sanchez preparou uma análise sobre este mercado. A lista de prioridades para 2008 inclui “quadruple play”, Wi-MAX móvel, portabilidade de número, desenvolvimento de redes 3G e IPTV.
Quadruple play – A consolidação do mercado na América Latina está configurando o cenário para um novo pacote de ofertas na região. Serviços de voz fixa, telefonia móvel, banda larga e TV por assinatura num pacote independente são o próximo passo para as operadoras de telecomunicações. Espera-se que as incumbents alavanquem suas diferentes unidades para oferecer “quad-play” em 2008. A Telmex está adquirindo operadoras de TV a cabo na região e é provável que a empresa una esforços com a América Móvil a curto prazo para oferecer serviços móveis e fixos. A Telefónica também está começando a oferecer “quadruple play” através de sua unidade móvel Movistar em alguns países da América Latina. Brasil, México e Chile provavelmente serão os primeiros países com uma oferta consolidada de “quadruple play” na região.
Wi-MAX Móvel – Empresas que estão investindo na versão WiMAX fixo poderão migrar para a móvel ao longo de 2008, contanto que tenham contratado um provedor que tenha infra-estrutura fixa com recursos de migração. Considerando que muitas operadoras estão instalando tecnologia com este recurso, elas precisarão fazer mudanças topográficas importantes em suas redes. Se elas desejarem usar a mesma banda espectral, as operadoras terão que instalar novas estações-base para reduzir o tamanho da célula para o serviço móvel.
Portabilidade numérica – A portabilidade numérica está atualmente em análise no México, Brasil, República Dominicana e Chile. Espera-se que em 2008 ocorra a primeira experiência na região (depois de Porto Rico). A Comisión Federal de Telecomunicaciones (Cofetel) do México foi a primeira agência regulatória da América Latina a discutir o assunto e anunciou que a portabilidade numérica se tornará realidade naquele país durante o 1o trimestre de 2008.
Os usuários se beneficiarão diretamente reduzindo o tempo gasto ao mudar seu número e comunicar a alteração ao seu círculo de contatos (isto é particularmente verdadeiro para empresas), e também indiretamente, pela maior concorrência entre os provedores de serviço, que precisarão encontrar estratégias mais agressivas para manter seus clientes. O desafio para os países latino-americanos consiste nas questões regulatórias que precisam ser resolvidas para que isso possa acontecer, razão pela qual todos os olhos estarão atentos na experiência mexicana neste ano.
Redes 3G – A América Latina atingirá uma penetração móvel de 65% em 2007 com um total de mais de 340 milhões de assinantes móveis. Com países como Argentina, Chile e Colômbia, com taxas de penetração de aproximadamente 80%, a região ocupa uma posição comparável com algumas das economias mais desenvolvidas como Japão, Estados Unidos ou Europa Ocidental. Entretanto, o fato de o crescimento da penetração ser decorrente da inclusão dos segmentos da população com renda mais baixa significa que o ARPU [Receita Média Por Usuário] da região não ultrapassa U$$15.
Sendo assim, as operadoras móveis estão desenvolvendo várias estratégias para aumentar o ARPU. A implementação de serviços 3G na região é vista como um caminho possível para receitas mais altas, e espera-se que várias operadoras móveis do Brasil, Chile, Colômbia, Peru e Venezuela lancem serviços 3G durante 2008. Entretanto, as operadoras terão que enfrentar dois grandes desafios ao introduzir os serviços 3G. Primeiro, terão que garantir que têm um espectro suficiente para oferecer serviços de qualidade, e segundo, precisarão se certificar que podem fornecer aparelhos compatíveis a preços razoáveis.
IPTV – O IPTV é certamente um dos principais tópicos para 2008, não apenas porque é o ponto inicial para mudar os modelos de negócio das portadoras, mas também por causa do impacto que terá na infra-estrutura de rede na região. O atendimento ao consumidor cresceu drasticamente nos últimos anos e novos serviços estão sempre gerando mais trânsito do que os antigos. Agora é o momento de os vídeos exercerem um importante papel na região da América Latina, começando em 2008 com o VoD. Embora 2008 não seja o ano de adoção massiva de serviços IPTV, uma vez que a região se dedicará mais a adaptar a infra-estrutura de rede às futuras necessidades e, em muitos casos, as operadoras terão que lidar com questões regulatórias para transmitir conteúdo. Espera-se que ocorram algumas iniciativas e o IPTV certamente começará a aparecer nas estratégias das operadoras.