Segundo o estudo da E-Consutling, intitulado “Indústria Farmacêutica no Brasil: Um Mercado no Vale de uma Transformação”, este setor mantém, desde 1999, a tendência mais que revisitada de contribuição negativa na balança comercial, elevando nosso déficit anualmente em US$1,2 bilhão em média.
Dentre os resultados de sua transformação atual, o estudo apontou pontos como a dificuldade de conciliação entre assistência farmacêutica, preço dos medicamentos e restrições fiscais; e limitações do poder público na abrangência da operação reguladora e na disponibilidade de recursos. Além da compressão média do preço relativo dos medicamentos, destacaram-se os efeitos subseqüentes a este cenário gradualmente restritivo: redução do nível de emprego do setor, queda na produção
doméstica e na oferta de medicamentos; aumento da capacidade ociosa e da
importação para suprir a demanda local, com conseqüências imediatas na redução da produtividade.
A utilização da Tecnologia da Informação nas empresas
Quanto à utilização de tecnologia da informação em suas operações, esta já é realidade nas grandes companhias farmacêuticas. Segundo Luiz Botelho, analista da indústria farmacêutica na E-Consulting Corp, “um exemplo claro deste processo é a informatização e o uso da inteligência da informação pelos laboratórios que têm como objetivo não somente identificar dados relativos ao perfil da população médica (principal “cliente” da cadeia: suas especialidades e assuntos de interesse), como
também efetuar mapeamento e roteirização mais eficazes de territórios e visitas, uma vez que o diferencial competitivo das marcas consiste cada vez mais em “adotar foco no cliente” e “criar relacionamentos com os influenciadores do consumo” , mudando a cultura “focada no produto” para a combinação “foco no produto com foco significativo no cliente””.
Ainda segundo Botelho, “a utilização da Internet já se faz presente através da atuação de empresas do setor e de empresas especializadas no setor farmacêutico que, por exemplo, coletam as informações das vendas realizadas diariamente pelos distribuidores para as farmácias, repassando-as aos laboratórios no intervalo de um dia de atraso (anteriormente a informação demorava 45 dias para chegar ao conhecimento do fabricante!). O sistema de informações da força de vendas
farmacêutica deve não somente poder carregar estudos científicos e informações relevantes ao perfil do médico que vão visitar e todo o histórico de visitas realizadas, como também garantir a precisão na identificação das necessidades dos pontos-de-venda e na distribuição e conseqüente reposição do estoque de medicamentos”.
Importação X Exportação
A análise histórica mostra que em 2001 a importação de medicamentos superou as exportações em US$ 1,280 bilhão. Nos três primeiros meses de 2002, as exportações não passaram de US$ 57,6 milhões, com crescimento de 3,7%, enquanto as importações cresceram 8,6%, chegando aos US$ 372,3 milhões.
Já em 2003, o fechamento foi de US$ 279,9 milhões de medicamentos vendidos para o mercado externo, 10,41% acima das exportações de 2002. Para as importações de acabados e semi-acabados, 2003 apresentou uma leve queda de 1,2%, comparativamente a 2002, fechando o exercício com US$ 1,512 bilhão, contra US$ 1,528 bilhão em 2002, conforme os dados da Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica (Febrafarma).
Estudos da E-Consulting estimam que o universo da indústria farmacêutica
no Brasil compreende um negócio de US$ 7,35 bilhões, reunindo uma cadeia
com mais de 300 empresas, entre nacionais e estrangeiras, que geram um
volume anual médio da ordem de US$ 1,1 bilhão de impostos sobre vendas,
empregando 45 mil trabalhadores diretos e 220 indiretos na cadeia
produtiva (relação de 1 para 5).
Daniel Domeneghetti, diretor de estratégia e conhecimento da E-Consulting, aponta que a previsão, para 2004, se concentra em crescimento moderado nas exportações, evoluindo de US$ 279,9 milhões de medicamentos vendidos para o mercado externo em 2003 para estimados US$ 285,6 milhões. Já as importações de semi-acabados e acabados devem crescer um pouco, de US$ 1,512 bilhão em 2003 para U$ 1,588 bilhão em 2004, com a produção de remédios caindo em torno de 4% no país este ano, se comparada a 2003.
O Brasil possui um total de 551 laboratórios farmacêuticos, segundo o IMS Health, e ocupa a 11ª posição no ranking do mercado farmacêutico mundial (varejo farmacêutico), com 1,498 bilhão de unidades (caixas) vendidas em 2003 e previsão de 1,477 bilhão de unidades em 2004. Os resultados de 2003 foram 7,2% inferiores aos de 2002. Os laboratórios vêm competindo ferozmente em um mercado que só encolheu nos últimos 4 anos. E a previsão é que continue se comprimindo, caindo a taxas médias
de 2% a/a até 2008.
Além disso, um dado interessante é que os investimentos em pesquisas e recursos aplicados pelas empresas em suas operações também vêm caindo, de US$ 2 bilhões no período de 1994 a 2000, ou média de US$ 330 milhões/ano (Febrafarma), para uma perspectiva de US$ 188 milhões médios de 2001 a 2008 (E-Consuting). Em outras palavras, aparentemente se investe menos em operações, incluindo P&D, seja por conta da validação dos investimentos já feitos, da ameaça dos genéricos e força das pressões sociais, da contração do mercado, ou pelo fato do custo de
desenvolvimento de novos medicamentos nos últimos 15 anos ter quase duplicado no país, chegando à média de US$ 800 milhões e 12 anos de maturação para lançamento de uma nova droga no mercado.
O advento dos medicamentos genéricos ameaça grandemente a indústria farmacêutica original, não somente pelo fato de amealhar significativo montante da sua receita, como também porque com as opções de compra ampliadas, mesmo o consumidor de classe A, B ou AB, tradicionalmente mais fiel às marcas, passa a sofrer assédio no ponto-de-venda e pode se deixar influenciar pelo profissional farmacêutico que venha a lhe oferecer genéricos, algo que lhe permitirá atingir suas metas de venda
de maneira mais rápida, focando principalmente em preço e volume.