Autor: Marcelo Murin
As transformações que a estabilidade econômica dos últimos vinte anos trouxe aos hábitos de compra e consumo dos brasileiros são inúmeras. Se traçarmos uma breve comparação, podemos observar mudanças bastante significativas.
Vinte anos atrás, os consumidores faziam compras de abastecimento. As lojas eram concentradas e os hipermercados tinham força total. O sortimento de produtos era fraco. Hoje, vemos um cenário completamente distinto. O shopper faz compras de reposição e as lojas são descentralizadas. Os estabelecimentos menores estão crescendo em grande escala e o sortimento tem ficado cada dia mais diversificado e especial, visando atender determinados nichos de consumidores.
No entanto, sabemos que o cenário econômico vem sofrendo flutuações preocupantes nos últimos meses, e sem querer realizar aqui um exercício de “futurologia”, vem a pergunta inevitável: Quais efeitos que um retrocesso na economia e no consumo causaria nos hábitos de compra do consumidor brasileiro?
Esta é a pergunta que boa parte dos varejistas tem se feito, e claro que ninguém tem uma resposta afirmativa certeira. Entretanto, se fizermos algumas ponderações, podemos chegar a conclusões que me parecem fazer muito sentido:
– O ser humano se acostuma facilmente com o que é bom. Através desta “máxima”, é muito difícil pensarmos que haverá um retrocesso em seus hábitos, principalmente no que esteja relacionado a diversificação de produtos, bem como na qualidade do atendimento;
– O número de lojas hoje é muito maior do que o de vinte anos atrás. Desta forma o shopper tem muito mais opção de compra. Claro que em um cenário de retração de consumo, muitas lojas podem vir a fechar, mas de qualquer forma, a facilidade de comparação e de acesso do shopper é muito grande hoje em dia;
– A mobilidade das pessoas nos grandes centros piorou muito. Isso claramente resulta também no fato de que o shopper não está mais tão disposto a atravessar a cidade para efetuar uma compra, pois ele faz a conta total dos gastos, considerando combustível, estacionamento e tempo. Este fato favorece, e muito, as lojas de vizinhança.
Não tenho a pretensão aqui de explorar todos os fatores que podem vir a impactar o comportamento do shopper diante de mudanças econômicas, mas sim de elencar alguns tópicos, para pensarmos um pouco a respeito.
Como brasileiro e consumidor, tenho tentado fazer minha parte para que a estabilidade econômica do país não se deteriore, mas tenho a clara consciência que individualmente não tenho muito poder de ação. Sendo assim, me resta torcer muito.
Entretanto, fica muito evidente que, em quase tudo na vida do ser humano, mudança de hábito é algo de médio e longo prazo. Sendo assim, abrir mão das conquistas que o shopper brasileiro teve ao longo de 20 anos, será muito difícil. Se alguma mudança ocorrer, será em outra direção e não como retrocesso. O varejo que perceber com antecedência as mudanças que por ventura ocorram, certamente sairá na frente de sua concorrência.
Marcelo Murin é sócio-diretor da Sollo Direto ao Ponto