Vai chorar ou vender lenço?

Em um ano complicado como esse de 2015, na qual as empresas estão tendo de lidar com a crise tanto interna, quanto com o descontentamento do cliente, pode ser mesmo difícil encontrar uma luz no fim do túnel. Porém, o que ficou claro no segundo painel do XIV Encontro com Presidentes, realizado ontem (26), no Espaço do Bosque, em São Paulo, é que a crise pode ter trazido diferentes parâmetros de mercado: o diferencial das empresas é ver nas inovações como formas de oportunidades. E fizeram da frase do publicitário Nizan Guanaes a regra de ouro do momento: “enquanto uns choram, outros vendem lenços”.
Com o nome de “Empresas que se reinventam”, o painel teve a missão de mostrar como as empresas têm trabalhado para contornar a situação, buscando novas oportunidades. “Estamos passando por um momento de crise política, que acaba trazendo crises sociais e econômicas para todos”, definiu o moderador José de Melo Borba Neto, presidente da Car System. Ele ainda avaliou que, apesar de desafiadora, tal qual outras fases complicadas, essa também é cíclica e terá seu fim. “Coisa que os empresários brasileiros e executivos estão bastante acostumados. E é nessa hora que mostram suas flexibilidades, criatividades e modelos de ação.”
O vereador de São Paulo, José Police Neto, defende que é preciso ter noção, em primeiro lugar, que as crises são fruto do meio. Ou seja, elas nascem da sociedade, dos setores públicos e produtivos. Sendo assim, “a única solução para sair delas tem a mesma origem, nós”, diz. Por outro lado, ele entende que em meio a uma turbulência, fica mais difícil entender o cenário ao qual está inserido. Uma das análises que Police Neto faz é sobre a confiança brasileira. Para ele, esse é um ponto frágil da cultura do povo, pois o brasileiro sempre desconfiou muito do outro e, por conta disso, passou a escrever até demais nas leis, como subterfúgio para conseguir acreditar mais nesse outro. “Há muita insegurança que o outro vá infringir. Normalmente, a lei, no Brasil, não é pró-desenvolvimento, é punitiva. Ela sempre trabalha com o ‘não’ e não tem portas para o ‘sim’.”
O que acaba sendo um problema de tamanho maior e se agrava nesse momento de negativismo e insegurança. O presidente da Vita Derm, Marcelo Schulman, corrobora com essa visão, acreditando que estejamos passando também por uma crise de credibilidade. “A gente vive um problema com a verdade. Quando a gente tem uma ideia, acha que ela pode ser a melhor, mas as pessoas não acreditam no poder dessa ideia”, comenta. “Temos um país espetacular e precisamos aproveitar isso.”, aconselha. Justamente, com a ideia de procurar desenvolver as melhores ideias e tendo ciência de que elas não só podem como devem ser rentáveis, que Diego Perez e outros sócios formaram a Start Me Up. Como ele mesmo explica, a empresa realiza o equity crowdfounding, em que pequenas e médias empresas recebem investidas de pessoas, não necessariamente investidores, e esses ainda podem ganhar com parte no lucro e crescimento dos negócios. “A gente busca fomentar o pequeno empreendedor, porque o banco cobra juros altos, tem muita burocracia e quando ele vê o trabalho que pode ter e custo, pode nem criar a empresa ou ter dificuldade para crescer”, detalha. Aliás, a missão é ainda maior, é também de transformar a cultura brasileira, ficando mais voltada para o investimento. Fazer de uma sociedade limitada, em um cenário fértil para novas ideias. “Diria mais, olhos que choram olham para as crises. Olhos que enxugam as lágrimas olham para as oportunidades.”
Apoiando as pequenas empresas, a economia se aquece e faz o mercado girar. Sem contar que esses negócios apoiados pela empresa de Perez são, geralmente, startups. Ou seja, empresas que possuem alguma solução para a sociedade. Aliás, para Mohamad Akl, presidente da Central Nacional Unimed, essas empresas que criam soluções e tecnologias fazem parte do avanço da humanidade, assim como a roda, a energia elétrica, a Internet e outros adventos. “São coisas que modificam o modo das pessoas pensarem e agirem. Essas inovações mechem com a população. É fantástico!”, pontua. E não tem como resistir à modernidade, pois, segundo o executivo, elas vão acontecer de qualquer jeito. “A sociedade vai demandar e exigir pela inovação. Resistir é perda de tempo.”
Mas, entender a sociedade, como ela se comporta, suas preferências e cultura parece não ser fácil. O presidente da Data Popular, Renato Meirelles, mostrou por meio de suas pesquisas que as classes brasileiras já não são a mesmas. Principalmente, o que chama da nova classe média. Ele ressalta que é essencial as empresas terem esse conhecimento sobre a população até para ter ideia da distribuição do seu portfólio. “O tamanho do crescimento do negócio é diretamente proporcional ao quanto dos consumidores se consegue atingir”, conta.  Porém, o mundo corporativo ainda tem muita dificuldade para entender esse novo consumidor. Até porque, este ano, também esteve atípico para as pessoas – oito em cada 10 admitiram que fizeram alguma coisa para conter os gastos em casa, seja aumentando renda ou diminuindo consumo. “Empresas que querem sair da crise devem investir fortemente no relacionamento com cliente. É preciso ser parceiro dele, porque em tempos de crise, óbvio, ele compra menos. E, para isso, é preciso se colocar no lugar do cliente”, alerta.

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