Vai ser um inovador disruptivo ou incremental em 2018?

Autor: Venâncio Velloso
Inovação foi a buzzword de 2017. Disrupção também entrou no dicionário corporativo como vocábulo frequentemente empregado para descrever modelos capazes de ameaçar empresas há décadas, séculos, confortáveis em suas lideranças até então incontestáveis.
Anabolizada pela urgente e crescente necessidade de promover a tal transformação digital (outro termo recorrente no ano passado), a inovação vem batendo na porta nos últimos anos de muitos negócios que subitamente viram seus reinados ser ameaçados por startups aditivadas pelo capital de risco e com muito mais agilidade para criar novos padrões e novos hábitos de consumo em diversas indústrias.
A lista de empresas classificadas como disruptivas que nasceu nas últimas duas décadas pós-Internet é crescente, inspiradora e notória: Airbnb na indústria de hospitalidade, Uber em transporte urbano, Tesla no setor automotivo e de energia limpa, Netflix no entretenimento; o Bitcoin (mesmo ainda cercado de incertezas) no sistema financeiro e por aí afora.
São empresas que abraçaram pioneiramente modelos de negócios alicerçados pelo digital e agora se beneficiam de terem sido bandeirantes na criação de negócios sustentados por novas tecnologias que, vale lembrar, ganharam tração e começaram a se consolidar nos últimos anos, algumas delas especialmente no ano passado, como blockchain, inteligência artificial, Internet das Coisas, robótica, cloud e tantas outras que, integradas, viabilizaram negócios impensáveis antes da revolução digital.
Também é grande e conhecida a lista de empresas que perdeu o trem da história: a Kodak, que não desistiu dos filmes de rolo e sucumbiu à popularização das câmeras digitais; a Blockbuster, que insistiu nas lojas físicas para aluguel de DVDs e não embarcou no avanço do streaming; a Blackberry, exterminada pelo touchscreen e outras tecnologias que fizeram do iPhone líder no mercado de smartphones.
Claro, todos querem ser o Facebook, o Google, a Amazon ou uma destas empresas icônicas de tecnologia que vêm sacudindo o mundo sob o comando de empreendedores conhecidos pela genialidade em idealizar negócios classificados na irritante categoria “por que não pensei nisso antes?”.
Mas, então, qual estratégia de inovação adotar? Disruptiva ou incremental? Há uma melhor?
Bem, depende. Pode ser uma, outra ou uma associação de ambas. Uma boa comparação é o projeto do Google Car (disruptiva), sob a responsabilidade da empresa Waymo, versus a tecnologia da Mobileye (incremental), empresa israelense da Intel.
O Google optou por investir em um projeto disruptivo, sem precedentes, com desenvolvimento mais custoso e demorado para construir seu carro autônomo, instalando no teto do veículo a tecnologia Lidar, um sistema que reúne uma série de lasers rotatórios que geram uma imagem 3-D do entorno. O custo é de US$ 70 mil.
Já a Mobileeye é bem mais simples e econômica; é incremental. A empresa desenvolveu um carro semiautônomo instalando basicamente 2 equipamentos – uma câmera frontal ao custo de US$ 10 a US$ 15, e um software que interpreta as imagens de vídeo e as traduz para instruções de direção. O custo não chega a uma centena de dólares.
Enquanto o Google aposta na disrupção para criar uma nova tecnologia e ainda está com seu projeto no laboratório, a Mobileye já faturou US$ 358,2 milhões em 2016 e foi adquirida pela Intel em março do ano passado por US$ 15 bilhões – um baita unicórnio.
O Google, disruptivo, tem uma visão de longo prazo e tem fôlego para esperar o ROI. Para isso, precisará viabilizar seu modelo em larga escala. A Mobileye, incremental, não reinventou a roda, partiu da câmera que ajuda estacionar para capturar as imagens, guiar o veículo e permitir que o motorista só assuma o volante e os pedais quando necessário.
Dados os exemplos, vamos abrir parênteses para definições.
A inovação incremental segue a Curva S, um desenvolvimento de um novo produto ou serviço que ganha escala lentamente até se consolidar, atingir seu pico e exigir uma próxima inovação. Já a inovação disruptiva parte de uma quebra total de paradigmas e se estabelece como uma nova fronteira a ser transposta.
Enquanto na incremental a ascensão é uma escalada mais cadenciada, sequencial, a disruptiva pode ser interpretada como um salto de paraquedas – a empresa cria um novo modelo, que após ser colocado à prova no mercado estabelece um novo padrão, um novo comportamento de consumo (como neste infográfico do consultor Stefano Messori).
A incremental é mais cautelosa, de curto e médio prazo, traz ROI mais rapidamente e foca na economia de custos com o desenvolvimento de novas features que levarão o produto ou serviço para um novo patamar, garantindo sua competitividade.
Já a disruptiva, mais arriscada e custosa, de longo prazo, cria novos mercados ou gera uma completa transformação de modelos de negócios com o lançamento de produtos e serviços revolucionários nunca antes imaginados.
Como bem sublinhado no relatório da Verde Asset Management intitulado “Tecnologia e o Mundo dos Investimentos”: 1) “a velocidade da mudança está aumentando e traz consigo uma mudança no padrão de criação de riqueza”; 2) “a tecnologia é uma grande destruidora de barreiras à entrada”; 3) “muitos modelos de negócios são passíveis de ser – e eventualmente serão – ‘disrupted’. A pergunta é se o serão por si mesmo ou por terceiros”; e 4) “você tem risco tecnológico em seu portfolio, quer saiba, quer não”.
O recado é claro.
É preciso antecipar os que os outros não viram, planejar, prototipar, testar, avaliar, reavaliar, ajustar. O tempo todo. Lembre-se que a inovação pode nascer de qualquer departamento da organização. Não importa qual modelo, disruptiva ou incremental ou um mix de ambas, implantar uma cultura de inovação e manter o radar ligado reunindo as melhores cabeças é o que faz de um negócio ser a nova Netflix ou a velha Blockbuster.
Qual será sua estratégia de inovação para 2018? Incremental ou disruptiva? Você planeja inovar no curto, médio ou longo prazo? Seja uma outra, a inovação deve levar em conta a capacidade de investimento e a maturidade do negócio. Ela não deve ser uma aventura tresloucada, não planejada, arriscada ao extremo.
Só não deixe, claro, de inovar.
Venâncio Velloso é empreendedor, fundador do WebPesados e da consultoria DIB (Digital Innovation Builders).

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