Passados cinco meses de sua criação, o cadastro positivo ainda gera desconfiança entre os brasilienses. Dois motivos traduzem esse sentimento: falta de informação e desinteresse por parte das empresas em aderir ao novo sistema. Mesmo com a informação da Serasa Experian de que são realizados 1,2 mil cadastros diariamente no país, ainda é difícil encontrar no Distrito Federal pessoas que saibam do que se trata. O objetivo desse cadastro é reunir em um banco de dados informações de crédito de bons pagadores, diferente do negativo, que aponta os inadimplentes.
Esse mesmo problema também é verificado nas próprias empresas. Quando questionadas sobre a adesão nesse novo sistema, a dúvida sobre o funcionamento é unânime. “Do que se trata esse cadastro positivo?” foi a pergunta que todos os estabelecimentos que a reportagem do Jornal de Brasília entrou em contato fizeram. Dados da Serasa Experian, revelam que cerca de 30 empresas, médias e grandes, já aderiram ao cadastro positivo e estão encaminhando as informações positivas de seus clientes, que autorizaram o envio. Número ainda tímido se for levada em consideração a quantidade de empresas existentes no país.
Uma financeira que atua no ramo de venda de veículos, em Brasília, disse que para aprovar qualquer financiamento, eles utilizam somente o cadastro negativo e que nem tinham conhecimento sobre esse novo banco de dados. A gerente financeira da empresa, que não quis se identificar, disse que mesmo tendo em mãos as informações dos bons pagadores, ela não levaria em consideração, caso a pessoa estivesse inadimplente. Segundo ela, essa informação extra para aprovação de financiamento não dará certo se não houver algum benefício para as empresas por parte do governo.
O empresário Josi Gomes, 36 anos, compartilha da mesma opinião, mas para ele, o benefício deveria ser para ambas as partes. “Como dono de loja, não sei como seria interessante para o meu estabelecimento oferecer algum desconto ou redução de juros para o bom pagador, como garante a lei. O governo deveria nos ajudar nos impostos para aderirmos a esse sistema. E para os consumidores se animarem em se cadastrar, eles teriam que obter algum desconto também nos impostos, como o Nota Legal, por exemplo”, afirma. De acordo com ele, se alguma atitude nesse sentido não for tomada, o novo sistema está “fadado ao fracasso”.
O mau uso do banco de dados é a maior preocupação do Procon-DF. O vice-diretor da instituição, Luiz Cláudio da Costa, afirma que a ideia pode até ser boa, mas na prática pode ser uma grande armadilha para o consumidor. “O uso indevido dessas informações por parte das empresas pode causar uma grande dor de cabeça à população. Por isso, estamos discutindo formas para monitorarmos esse novo sistema, mas precisamos que o consumidor registre suas reclamações para que possamos tomar as providências cabíveis”, disse.
O professor doutor da Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (UnB), Guilherme Neto, afirma que esse banco de dados pode ser positivo para os consumidores, na medida em que o crédito pode ser liberado mais rápido. Já para as empresas, ele não vê pontos otimistas. “A falta de interesse na adesão ao cadastro se deve porque elas já têm acesso a todos os dados sobre o consumidor. Os estabelecimentos podem comprar esses dados em qualquer lugar e existem algumas que já criaram esse banco de dados ao longo do tempo, por isso não vejo o porquê os estabelecimentos teriam interesse em aderirem”, afirma.
Instituído por uma lei(12.414) sancionada pela presidente Dilma Rousseff e publicada em 10 de junho, o Cadastro Positivo é um banco de dados que registra a pontualidade no pagamento das contas do consumidor – crediários, financiamentos, água, luz, telefone e outras contas, como a escola, por exemplo. Levantamento da Serasa Experian constatou que a medida pode reduzir em até 45% a inadimplência no País.
Fonte: Clica Brasília – DF