Autora: Claudia Amira
A escassez do crédito e a inadimplência estão prejudicando a economia do Brasil. Com a crise financeira mundial, que culminou no segundo semestre do ano passado, o Governo brasileiro está traçando estratégias para incentivar a volta do consumo, mas essas medidas até o momento não surtiram o efeito desejado.
Para tentar driblar esse cenário de retração macroeconômica, a utilização do Cadastro Positivo aparece como uma alternativa para aquecer novamente as vendas em todos os setores da economia, pois fornecerá informações sobre os tomadores de crédito que hoje não são disponibilizadas.
Com o objetivo de reunir em um único banco de dados um inventário contendo informações sobre pontualidade, valores e formas de pagamento adotados pelos consumidores brasileiros, o Cadastro Positivo permitirá que as instituições conheçam melhor o perfil de seus clientes e prospects e sintam-se mais seguras na concessão de crédito. Com esses dados, será possível separar o bom do mau pagador, diminuindo assim as chances de inadimplência.
A aprovação do Cadastro Positivo é discutida há alguns anos. No final de 2008, a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania consentiu a regulamentação da lei desse serviço, que agora deve ser votada na Câmara. Sabe-se que, se regularizado, o Cadastro Positivo colaborará significativamente para o aumento do crédito e servirá de estímulo para a diminuição da inadimplência.
Além dessas contribuições, a aprovação do projeto modificará a situação dos públicos mais afetados pela crise até o momento: as classes C, D e E. Mesmo não sendo caracterizadas como “más pagadoras”, as pessoas de menor poder aquisitivo sofrem com a falta de crédito no mercado. A regulamentação do Cadastro Positivo certamente mudará esse cenário, uma vez que a análise será baseada principalmente no histórico de pagamento do consumidor.
Assim como as classes A e B, a de baixa renda apresenta um alto potencial de consumo para compra de eletrodomésticos, eletroeletrônicos, móveis e vestuário, mas tem no crédito o seu grande aliado para adquirir bens, sejam duráveis ou não. Nos últimos dois anos, vivenciamos uma fase de consumismo, até de certa forma exagerada, e, com a chegada da crise e a recente onda de demissões, houve um significativo aumento nos índices de inadimplência.
Além de atuar no incentivo ao consumo e na diminuição da inadimplência, o Cadastro Positivo será uma importante ferramenta para a redução dos juros, uma vez que aumentará a concorrência entre as instituições financeiras, forçando-as a oferecer crédito aos bons pagadores com taxas cada vez menores. Atualmente, o mercado é nivelado por baixo e todos pagam a mesma taxa, independentemente de ser bom ou mau pagador.
Outra consequência está na redução da “seleção adversa”. Como os juros são elevados, só recorre ao crédito quem precisa muito do dinheiro. Já com o Cadastro Positivo, os juros serão menores e mais pessoas poderão optar por empréstimos, não só os necessitados de última instância.
É uma realidade dizer que a economia brasileira amadureceu, deixando de ser apenas uma aposta para ter uma posição de destaque em diversos segmentos. Tanto é verdade que, em outros tempos, o Brasil seria um dos primeiros países a sentir o reflexo da economia mundial, só que de forma ainda mais impactante. O reflexo sentido até o momento é apenas a ponta do iceberg da crise. O cenário para 2009 não é animador e é necessário buscar alternativas para combater a recessão que assusta todo o mundo. A aprovação do Cadastro Positivo não é a salvação para a crise, mas é uma das alternativas que o Governo tem em mãos para aquecer a economia, incentivando o crédito e estimulando a redução da inadimplência.
Claudia Amira é gerente de soluções da Equifax.