Retenção é a palavra de ordem para todos: governo, empresas, consumidores. A sensação é de que não existe mais dinheiro – ou, pelo menos, de que ele não pode pagar tantas coisas quanto antes. Entretanto, com os reajustes fiscais tão díspares do salarial, a verdade é que conseguir uma boa linha de crédito está cada vez mais difícil para os poucos que se arriscam. Alguns setores sofrem um pouco mais, como o automobilístico, que, dentro do seu ciclo de produção e comércio, é bastante influenciado por fatores internacionais, o qual também não apresenta boas perspectivas para o momento. Com isso, os bancos e as financiadoras de veículos deverão se ajustar ao panorama atual, além de esperar que as montadoras e concessionárias façam a sua parte, de forma a atrair clientes. “Antes de falar sobre o aquecimento do mercado, precisamos estancar o desaquecimento”, afirma Nicola Tingas, economista chefe da Acrefi, Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento.
Para o executivo, primeiro é preciso fazer com que a conjuntura pare de cair, assim como o PIB, já que a indústria automobilística continua reduzindo produção, e o consumidor continua reduzindo o consumo. Ou seja, esse movimento de queda precisa parar. “Uma vez feito isso, é preciso observar que sinalização a política econômica dá, tanto para a indústria automobilística, como para o consumidor e as financeiras, para ver qual é a capacidade de consumo existente no mercado, e então as condições vão melhorando e ganhando ritmo. Precisamos vencer e abreviar esta fase para que possamos entrar em uma melhor”, explica Tingas.
Diante desse quadro, o economista apresenta que as concessionárias de crédito deverão enfrentar alguns desafios, como a atual retração na demanda e a permanente seletividade, já que, em um ambiente de desaceleração econômica, o risco tende a ser maior. Dessa forma, um processo que já é rigoroso, tende a ficar mais seletivo ainda, visto que será preciso selecionar bem o crédito, buscando clientes que tenham boa capacidade de pagamento para conseguir fazer negócios. O que, por si só, também será um desafio, já que existe a possibilidade da taxa de desemprego subir.
“É importante monitorar a conjuntura, a manutenção de emprego e renda, que também está sendo castigada pela inflação mais alta. É um momento de ajuste e perda de dinamismo em todos os mercados, e nós temos que acompanhar com cautela e expectativa de uma retomada o quanto antes. É tomar decisões com qualidade, mas não deixar de fazer negócios, operando dentro de critérios de bom senso, de qualidade, para que seja bom para o mercado como um todo: o consumidor, o ofertador e assim por diante”, ensina Tingas. Dentro desta perspectiva, o economista observa que as montadoras já estão fazendo sua parte ao ajustarem o ritmo de produção ao tamanho do mercado. Mas que, apesar dos esforços de todos, o setor deve sofrer mais uma queda este ano.