Com a economia ainda em dificuldades para ensaiar uma recuperação consistente, a procura dos micro e pequenos empresários por crédito continua em baixa. O Indicador de Demanda por Crédito das Micro e Pequenas Empresas, apurado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), atingiu o menor patamar em 14 meses. Retrocedendo de 16,36 pontos, em maio de 2015, para 9,51 pontos, no último mês de junho. Na comparação com maio deste ano, quando o indicador estava em 13,44 pontos, também houve queda. Quanto mais próximo de 100, maior é a probabilidade de os empresários procurarem crédito e quanto mais próximo de zero, menos propensos eles estão para tomar recursos emprestados para os seus negócios.
Para o presidente da CNDL, Honório Pinheiro, alguns indicadores macroeconômicos já dão mostras de que a pior fase da crise pode ter ficado para trás, mas a plena recuperação das condições econômicas e sociais ainda será lenta e gradual. “Depois de mais de um ano de muitas incertezas, o Brasil levará tempo para restaurar a confiança perdida e retomar a trajetória do crescimento. Por isso que muitos empresários ainda vão demorar a se sentir confiantes o suficiente para tomar crédito, fazer investimentos e comprometer o orçamento da sua empresa com dívidas à espera de um retorno no futuro”, explica.
Crédito? Não, por favor!
De acordo com o levantamento, apenas 5,38% dos micro e pequenos empresários possuem a intenção de contrair crédito para seus negócios no horizonte de 90 dias. Em sentido inverso, 89% declararam não ter essa intenção. Quando indagados sobre a negativa, 45,6% disseram que conseguem manter suas empresas com recursos próprios, sendo desnecessário buscar outras fontes. As altas taxas de juros também são fator de impedimento, mencionadas por 12,5% dos que não pretendem tomar crédito.
Para os que avaliam estar difícil tomar crédito no mercado (29,1%), as taxas consideradas elevadas são o fator mais citado (40,8%). Em seguida, aparece o excesso de burocracia (30,9%) e a exigência de um faturamento mínimo acima do que a empresa realmente fatura (13,3%). Já para os que consideram ser fácil contratar crédito (21,7%), o bom relacionamento com o banco é a principal razão da facilidade, citado por 39,1%. Estar com a documentação em dia (17,2%) e não dever para bancos também são fatores que ajudam (15,5%) completam a lista.
Para mais de um terço (33,9%) dos entrevistados, a modalidade de crédito mais difícil de ser contratada é o empréstimo em instituições financeiras. Os financiamentos nessas instituições são citados por 16,1%. O crédito junto a fornecedores foi citado por 12,8%. “A combinação de burocracia e juros altos são um obstáculo à contratação de crédito e consequentemente para o investimento, o que acaba por impactar o crescimento potencial do país”, afirma a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
Demanda por investimento também cai
Os MPEs também têm se mostrado pouco interessados em realizar investimentos nos negócios. O indicador de propensão a investir registrou somente 21,37 pontos em junho. No mesmo mês do ano passado ele estava em 25,98 pontos e em maio deste ano, em 25,22 pontos na escala que varia de zero a 100, sendo que quanto mais próximo de 100, mais o empresário tende a realizar investimentos.
Em termos percentuais, 75,0% dos micro e pequenos empresários não pretendem investir nos próximos três meses, sendo a principal razão a desconfiança diante da crise (47,7%). Outros 33,3% dizem não ver necessidade de investir e 11,8% afirmam que fez investimentos recentes e estão aguardando o retorno. “A recessão e o aumento do custo do capital tornam os empresários mais cautelosos diante da possibilidade de expandir seus negócios e de assumir dívidas para fazer frente a investimentos”, explica a economista Marcela.
Entre a parcela minoritária de empresários que pretendem investir nos próximos 90 dias (17,0%), os investimentos prioritários serão ampliação de estoque (25,7%), investimentos em comunicação e propaganda (25,0%), reforma da empresa (24,35) e compra de equipamentos (24,3%). A principal fonte de recursos para o investimento é o capital próprio (73,5%).