Joabel Luis Kasper, Chief Growth Officer da GH Brandtech

Impacto do ChatGPT no marketing digital e na conversão de vendas

A lógica tradicional do SEO não desaparecerá, mas precisará ser ampliada

Autor: Joabel Luis Kasper

Entre janeiro e maio de 2025, uma nova variável começou a aparecer nos relatórios de tráfego de empresas brasileiras de diferentes segmentos. Sessões que não vinham de buscadores, redes sociais ou links patrocinados. Elas vinham de um endereço até recentemente ausente das ferramentas de analytics: chatgpt.com.  

Chamou a atenção o suficiente para ser analisado com mais cuidado. Um levantamento realizado com marcas aceleradas revela um dado inédito: o ChatGPT já atua como um relevante canal de aquisição de clientes no varejo brasileiro.

No universo analisado – que soma cerca de 10 milhões de acessos mensais a canais de vendas digitais – 0,09% das sessões teve origem no ChatGPT. À primeira vista, trata-se de um percentual modesto. Mas o impacto prático vai além do volume. O estudo mostra que esses acessos avançaram no funil de conversão: usuários visualizaram produtos, adicionaram itens ao carrinho e finalizaram compras. E, em algumas empresas com ticket médio mais alto, esse tráfego se traduziu em uma fatia significativa da receita mensal.

As conclusões não se limitam a um único nicho. Foram observadas três tendências principais:

  • Diversidade de setores impactados: tanto grandes marcas quanto empresas de nicho registraram sessões qualificadas e geração de receita vinda do ChatGPT;
  • Engajamento com conversão: a média por empresa foi de centenas de sessões, resultando em dezenas a centenas de eventos-chave, como checkout e finalização de compra;
  • Eficiência comercial: mesmo com volume absoluto relativamente pequeno, o retorno financeiro se mostrou relevante.

Esse dado, os 0,09%, precisa ser interpretado dentro de um contexto mais amplo. Em maio, o Google lançou o AI Mode, uma reformulação significativa na forma de apresentar resultados. A tradicional lista de links segue existindo, mas agora acima dela está uma resposta gerada por inteligência artificial, entregue diretamente ao usuário.

É o que se chama de Click Zero: a jornada termina antes mesmo do clique nos links que poderiam responder a pesquisa.

A GPTização do Google não é casual. Em abril de 2025, pela primeira vez em 22 anos, o volume de consultas ao buscador, pelo Safari – navegador padrão do iPhone – registrou queda. O dado indica um ponto de inflexão. A Alphabet, avaliada em mais de US$ 2 trilhões, responde à pressão de uma startup com menos de três anos de mercado que, como mostra o levantamento da GH Brandtech, já influencia decisões de compra e movimenta receita em ambientes reais de venda.

O estudo sugere que a função das IAs conversacionais deixou de ser apenas informativa ou de atendimento. Elas passam a ocupar um lugar no início das jornadas de consumo, especialmente em buscas com intenção de compra clara. O que antes começava com um clique num link patrocinado ou resultado orgânico, agora pode começar – e terminar – dentro da interface de um assistente conversacional.

Para as marcas, o desafio é técnico e estratégico. Será preciso adaptar catálogos para leitura por modelos de linguagem, integrar APIs capazes de fornecer dados em tempo real e desenvolver sistemas de mensuração específicos para esse tipo de origem. A lógica tradicional do SEO não desaparece, mas precisa ser ampliada.

A presença digital, até então pensada para humanos que digitam palavras-chave, passa a ter de considerar sistemas que interpretam intenção e contexto em linguagem natural.

Os sinais estão dados. E, como em outras transições tecnológicas, quem se adiantar na resposta terá vantagem competitiva nos próximos ciclos.

Joabel Luis Kasper é Chief Growth Officer da GH Brandtech.

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