Essa modalidade não deve substituir o cartão, mas coexistir com ele
Autor: Marco Galo
Desde 2020, o Pix se consolidou como o principal meio de pagamento do país. Em 2024, foram mais de 42 bilhões de transações, superando cartões de débito e crédito em volume, segundo o Banco Central. Hoje, a ferramenta reúne mais de 175 milhões de usuários, um número que comprova não apenas a adesão em massa, mas também a velocidade com que uma inovação pode redesenhar hábitos financeiros no Brasil.
Agora, o sistema se prepara para um novo passo: o Pix Parcelado, previsto para entrar em operação oficial em setembro de 2025.
A lógica do Pix Parcelado
O mecanismo permitirá que compradores dividam uma aquisição em prestações enquanto o varejista recebe o valor integral de forma imediata. Essa dinâmica reduz a dependência de antecipação de recebíveis — um mercado que movimenta dezenas de bilhões de reais por ano — e pode redefinir a estrutura de caixa, sobretudo de pequenos e médios empreendedores, historicamente pressionados por margens estreitas.
A diferença em relação ao cartão de crédito vai além da liquidez. No Pix Parcelado, a concessão será analisada transação a transação, sem depender de um limite pré-aprovado. Para um país em que cerca de 60 milhões de pessoas não têm cartão ativo ou limite disponível, trata-se de uma mudança com potencial de ampliar de forma inédita o acesso ao financiamento.
Competição e eficiência
Para o sistema financeiro, a novidade inaugura uma disputa em novas bases. Bancos e fintechs terão de competir em custo e experiência, já que a taxa aplicada em cada operação será decisiva. A expectativa é que esses juros sejam inferiores aos do rotativo do cartão, que hoje ultrapassam 400% ao ano.
Essa pressão pode acelerar ganhos de eficiência e deslocar parte da receita que depende justamente dos spreads elevados cobrados em modalidades tradicionais.
A fronteira do risco
Para a população, a novidade amplia as alternativas de pagamento, mas também expõe ao risco de endividamento. Se o recurso se popularizar em despesas recorrentes, a conveniência pode rapidamente se transformar em vulnerabilidade financeira para famílias de baixa renda. Esse será o ponto de atenção do regulador.
O que vem pela frente
O Banco Central trabalha na padronização das regras de uso, buscando clareza e segurança para todos os agentes. A experiência do Pix mostra que a adesão popular não será um obstáculo; o desafio é estruturar um arcabouço que estimule concorrência saudável sem replicar distorções já conhecidas no crédito.
O Pix Parcelado não deve substituir o cartão, mas coexistir com ele. Ao oferecer uma alternativa mais ágil e transparente, pode se tornar um vetor de inclusão em um país ainda marcado pela desigualdade de acesso ao financiamento.
Se o Pix transformou a forma de transferir dinheiro, o Pix Parcelado tem potencial para redefinir como se contrai crédito. Mais do que uma evolução tecnológica, trata-se de uma mudança estrutural no sistema financeiro brasileiro.
Marco Galo é cofundador e diretor de novos negócios da Conta Comigo Digital.





















