Qual o tamanho da transformação no mercado de livros?

Representantes da Câmara Brasileira de Livros, Associação Nacional das Livrarias, Bookinfo e Bookwire debatem os desafios da indústria editorial brasileira

Apesar de uma pesquisa divulgada recentemente pela CBL, Câmara Brasileira de Livros, apontar queda de sete milhões de leitores, em 2024, a indústria editorial brasileira tem alguns outros motivos para comemorar, como as livrarias crescendo à base dos dois dígitos anualmente e o expressivo aumento de público nas feiras e bienais de livros pelo País. Além disso, não há uma briga por espaço entre os formatos, que convivem muito bem, sejam os livros físicos, os e-books e os audiolivros. Esses pontos foram levantados, hoje (25), na 1165ª edição da Série Lives – Entrevista ClienteSA, que recebeu Sevani Matos, presidente da Câmara Brasileira do Livro, Alexandre Martins Fontes, presidente da Associação Nacional de Livrarias, livreiro e editor, Eduardo Cunha, diretor de negócios na Bookinfo, e Marcelo Gioia, managing director da Bookwire Brasil.

Primeira a se manifestar, Sevani mencionou os resultados da pesquisa “Retratos da Leitura”, divulgada em maio, dando conta de que caiu a quantidade de leitores, em 2024, com 47% do total, uma queda de quase sete milhões. “As alegações para essa constatação são da falta de tempo e preços altos dos livros. O que não é verdade, pois os preços dos livros, no Brasil, estão estagnados, estando entre os mais baixos do mundo.” Quanto à questão dos formatos dos livros, ela garantiu que eles convivem muito bem e ampliam o acesso à leitura.

Já Alexandre fez questão de ressaltar que as livrarias são a vitrine da indústria editorial. “Nosso desafio é conseguir aumentar o número desses estabelecimentos, que ainda é muito baixo no Brasil. A boa notícia é que as livrarias que existem e permanecem fortes vêm crescendo, abrindo muitas lojas nos últimos anos.” Ele acrescentou, como outros pontos positivos, a quantidade de pessoas frequentando as bienais do livro, incentivadas por meio das redes sociais, principalmente com a presença de novos leitores.

Em seguida, Eduardo brincou que o problema das livrarias é que faltam prateleiras para abrigar todos os livros publicados. “Neste primeiro semestre, identificamos o surgimento de 99 a 105 novos livros por dia no mercado, faltando, portanto espaço para acomodar essa quantidade de publicações. Então, com uso de inteligência artificial, ajudamos as editoras a escolherem as livrarias certas para os livros, sendo que esses estabelecimentos crescem mesmo à base de dois dígitos anualmente.” Ele assegurou que é falsa a sensação de crise no setor, por conta do problemas com duas grandes livrarias recentemente, mas que são casos isolados e pontuais.

Por sua vez, Marcelo explicou que, mesmo trabalhando em um mercado nichado, do livro digital, a Bookwire concorda com a importância das livrarias como vitrine, levando em conta que o leitor hoje é multiformato. Na sua concepção, o leitor assíduo do livro físico é o mesmo do digital e não duas pessoas diferentes. “Não se pode pensar em expandir o número dos 36 milhões de leitores que se acredita existirem atualmente no País, sem o formato digital. No caso do audiolivro, acredita-se que esteja sendo uma grande porta de entrada para novos leitores, sendo que, nos últimos cinco anos, esse formato, junto com o e-book, cresceram 300%.”

Para Alexandre, o que todos querem são mais leitores no Brasil, em qualquer que seja o formato. “O que temos que lutar é em relação ao monopólio existente no País com a Amazon. Pois é extremamente perigoso a indústria editorial ficar nas mãos de um único player. Essa é a grande discussão nesse mercado. Se tivéssemos a ‘Lei Cortez’, o Projeto de Lei do Senado (PLS) 49/2015, que visa regular o mercado editorial brasileiro, aprovada aqui, como ocorre em tantos países, teríamos mais livrarias e alternativas de leitura. O maior beneficiado é o consumidor com mais acesso aos livros, tiragens mais altas, livros mais baratos, etc.”

Marcelo comentou que é preciso encarar o livro digital como parte integrante do mercado editorial e não um corpo estranho. “Essa é uma visão holística do leitor de mutiformato com o objetivo de se aumentar o mercado como um todo. Existem publicações que são lançadas em cross formatos, porque o leitor começa ler o e-book e se interessa a comprar a versão física para continuar a leitura e vice-versa.” Ele citou ainda o fato da Bookwire distribuir 65 milhões de livros por ano e das iniciativas que ajudam a quebrar um pouco o monopólio mencionado.

Na sequência, Sevani reforçou a relevância do aumento do número de livrarias pelo País, pois, no seu entender, muitos dos que lêem os livros digitais em determinadas situações, têm como preferência o hábito da leitura no livro físico. “Ou seja, todos os formatos se complementam e fazem parte dessa rotina de cada um. O importante é aumentar o número de leitores, o que acontece, por exemplo, com o audiolivro, que insere no mercado as pessoas com deficiência visual. Enfim, a única forma de evoluirmos, enquanto sociedade, é tendo cada vez mais leitores. Esse é um hábito que deve começar a se desenvolver desde a infância e se perpetua, criando cidadãos mais esclarecidos e com visão crítica.” Os convidados também debateram o que é preciso para que a indústria editorial cumpra a missão de publicar bons livros e como fazê-los chegar às mãos dos leitores, entre outros assuntos.

O vídeo, na íntegra, está disponível no canal ClienteSA Play, no YouTube, junto com às outras 1164 lives realizadas desde março de 2020, em um acervo que já passa de 3,7 mil vídeos sobre cultura cliente. Aproveite para também se inscrever. A Série Lives – Entrevista ClienteSA retornará na segunda-feira (28), trazendo Monique Henriques, diretora de negócios aeroportuários da Motiva Aeroportos, que falará da rota da experiência dos passageiros; na terá, será a vez de Letícia Perdigão, head de CX do Jusbrasil; na quarta, Thiago Cordeiro, CEO e fundador da GoodStorage; na quinta, Lorena Lima, head de CX da EstrelaBet; e, encerrando a semana, o Sextou debaterá o tema “Team building: um aliado estratégico da employee experience?”, reunindo Marcos dos Santos, CEO e fundador da Vinho Tinta, Marcio Abraham, diretor de inovação e cofundador do Escape 60′, e Thomas Simon, sócio do it.kitchen.

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