A evolução da gestão de pessoas

Autores: José Tolovi Jr. e Ruy Shiozawa
Quando se publicou no Brasil, em 1997 a pesquisa “Melhores Empresas para Trabalhar” (que seria, também, o primeiro ranking do gênero no mundo) muitas pessoas ficaram intrigadas. A primeira lista de “Melhores Empresas do Great Place to Work” foi publicada no Brasil; a segunda foi a norte-americana, publicada em janeiro de 1998. Mas, os brasileiros não foram os autores da ideia; em 1984, Robert Levering e Milton Moskovitz publicavam o best seller “The 100 best companies to work for in America”. De 1997 aos dias de hoje, mais e mais países publicam anualmente levantamentos baseados na metodologia; há rankings de empresas na América do Norte, América Latina, Europa e Ásia. Esse interesse contínuo comprova que “qualquer empresa pode se tornar um great place to work”. Mas, qual é o segredo das melhores empresas para trabalhar no Brasil?
Ao longo de 15 anos pesquisando ambientes corporativos, coletamos milhões de opiniões de funcionários de milhares de empresas instaladas nos quase 50 países nos quais a pesquisa é pelo Great Place to Work. E o mais surpreendente é que o ambiente de trabalho das Melhores é permeado por características muito semelhantes: confiança, orgulho e camaradagem. Por que nossa metodologia é tão consistente, robusta e aplicável internacionalmente? Porque foi criada a partir da observação do que dizem os funcionários nas melhores empresas. A partir dessas observações, Robert Levering desenvolveu um questionário com frases dos funcionários das Melhores – algo que é extremamente atual. O mundo e as empresas mudaram, mas as pessoas continuam querendo um ambiente de confiança; querem ter orgulho do que fazem e das empresas; querem trabalhar em um ambiente de camaradagem. Em resumo, um great place to work possui confiança, orgulho e camaradagem.
Nesses anos – em 2011 teremos a 15º edição da pesquisa Melhores Empresas para Trabalhar – Brasil -, aprendemos muito sobre o ponto de vista dos líderes das melhores organizações. Anualmente perguntamos a cerca de 6 mil empresas o que fazem para obter um ambiente corporativo no qual as pessoas se sentem bem e produzem mais. Com as respostas percebemos que existem áreas em que, consistentemente, as melhores empresas colocam um maior foco. Sabemos, por exemplo, que as melhores dão extrema atenção aos processos de recrutamento e seleção, o que é perfeitamente compreensível: se queremos manter uma cultura forte e homogênea, devemos nos preocupar com os novos colaboradores que entram na empresa. Não coincidentemente, sabemos que é muito mais difícil ingressar nos excelentes ambientes de trabalho. Observamos, também, que as melhores valorizam o compartilhar informações e ouvir os colaboradores com sinceridade.
O reconhecimento é forte nas melhores, que têm especial atenção com o tratamento  do indivíduo; não com um número a mais no contingente da empresa. O desenvolvimento das pessoas, da mesma forma que a criação de oportunidades e desafios, é mais frequente nas melhores empresas que nas demais. Nas melhores também se celebra mais as conquistas, atribuídas sempre ao esforço das pessoas.
Estas posturas mencionadas são algumas das práticas culturais que observamos nas melhores empresas, sempre com formatos e ações bastante particulares. Ou seja, é muito difícil replicar literalmente as melhores práticas de uma empresa em outra. Esse é outro ensinamento! As melhores empresas têm formas muito peculiares de cuidar de seus colaboradores. Não desenvolvem práticas de gestão de pessoas porque imitam o mercado, mas porque acreditam que os resultados vêm das pessoas; quanto melhor as pessoas se sentirem na empresa, melhores serão esses resultados.
Para comprovar essa estreita ligação com os resultados financeiros das empresas, podemos dizer que no Brasil, os resultados das empresas cotadas em bolsa –  e que integram o ranking brasileiro das 100 Melhores Empresas – são três vezes superiores aos resultados do indicador da Bolsa de Valores de São Paulo (IBovespa), nos últimos 10 anos, para o conjunto de empresas. Nos Estados Unidos, uma comparação semelhante de 1998 a 2009, mostra uma relação de mais de cinco vezes se compararmos a carteira de ações das melhores com o indicador Russel 3000, da Russel Investment Group.
Na análise dos 15 anos de transformação do ambiente corporativo – podemos falar, também, em evolução – cabe contextualizar as participações femininas e da “Geração Y” nos postos de trabalho. No Brasil, em 2010, 46% dos postos de trabalho das 100 “Melhores Empresas para Trabalhar” eram ocupados por mulheres, sendo 36% postos de liderança. O processo de ascensão feminina no ambiente corporativo brasileiro tem sido contínuo: em 1997 apenas 11% dos cargos de liderança eram ocupados por mulheres. Em 2010, 10 das melhores empresas eram presididas por mulheres – Byofórmula, Cultura Inglesa Rio de Janeiro, F.Biz, Genzyme, Inec, Laboratório Sabin, Magazine Luiza, Prezunic, Tortuga e Zanzini Móveis. Nas empresas geridas por mulheres, o índice de confiança dos funcionários é maior: 83% versus 81% (companhias lideradas por homens).
A influência feminina nas “Melhores Empresas para Trabalhar – Brasil” é inegável! O levantamento comprova que os gestores das melhores empresas associam as profissionais a competências como capacidade de lidar com diferentes perfis de pessoas; bom desempenho em situações adversas; e empenho para inspirar e motivar as equipes. Ou seja, as brasileiras estão ditando novos padrões de comportamento nas empresas. A pesquisa mostra, também, que na comparação da participação feminina no ambiente corporativo no Brasil, Estados Unidos, México e Europa, o índice mais baixo é o das empresas europeias.
No tocante às novas gerações de profissionais, dados de 2009 apontam que 32% dos postos de trabalho das “Melhores Empresas para Trabalhar – Brasil” eram ocupados pela “Geração Y”; 58% pela “Geração X”; e 10% pelos “baby boomers” – ou seja, o Brasil ilustra muito bem um ambiente corporativo emergente. Esses profissionais Y´s são mais exigentes e buscam mais do que salários e benefícios; eles compõem uma geração movida a desafios contínuos. A mensagem que passam aos gestores é a de que o comprometimento e a permanência na empresa estão estreitamente ligados à capacidade de inovação da organização; o investimento que a companhia faz para se conectar com tendências emergentes e manter esse funcionário estimulado. Construir um ambiente em que a hierarquia não seja sinônimo de burocracia profissional é uma característica importante para as empresas que desejam atrair talentos dessa geração.
De modo geral, o balanço dos últimos 15 anos é extremamente positivo, embora haja um problema crônico que aflige a maioria das empresas no Brasil e em outros países – o desequilíbrio entre a vida pessoal e profissional. A pressão por resultados, a diminuição do tempo para entrega dos trabalhos e o volume de atividades que se acentuaram na década passada criam uma sobrecarga no cotidiano corporativo e demandam dos profissionais maior dedicação à empresa em horas e dias de folga do que no passado. Assim, o prejuízo acaba recaindo sobre a vida pessoal. Uma questão que deve, no futuro, gerar embates mais acirrados – já que a “Geração Y” não está disposta a pagar esse preço pelo sucesso profissional.
Diante desse cenário, ao mesmo tempo que analisamos os últimos 15 anos, não perdemos o futuro de vista. O Great Place to Work® está preparado para iniciar a próxima década com uma ampla pesquisa que investiga os ambientes corporativos locais e internacionais de maneira integrada. Ou seja, em breve teremos o estudo  “Melhores Empresas para Trabalhar – Global”, um ranking mundial das melhores práticas de gestão de pessoas. Enquanto isso, no Brasil, estamos preparando – em parceria com a equipe da Revista Época, da Editora Globo – uma edição especial que celebra os 15 anos da pesquisa. Em agosto, as “Melhores Empresas para Trabalhar – Brasil”, assim como dados recentes da participação feminina no ambiente corporativo, da “Geração Y” e tantos outros aspectos do mundo do trabalho no País serão amplamente explorados em uma edição análitica e histórica. Uma edição que deve despertar o interesse de toda a sociedade; brasileiros que acreditam no potencial transformador dos ambientes corporativos.
 
José Tolovi Jr. e Ruy Shiozawa são CEOs Global do Great Place to Work

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