“O mundo está em um patamar de complexidade nunca visto antes. Vivemos atualmente o paradigma da complexidade permeado pela velocidade, quantidade e variedade de informações e teremos que conviver, a partir de agora, e nos acostumar com as crises, que virão uma após a outra. Neste novo cenário, não há mais decisões fáceis e tudo precisará passar pelo que chamamos de gestão de crivo para ser mais assertivo”. As afirmações são da professora da IBE-FGV, Paulette Melo, PhD em Administração com experiência em coaching e mentoring. Para ela, a forma como a área de Recursos Humanos, enquanto parceira estratégica da organização, irá lidar com a gestão de pessoas em meio a um cenário que continuará em constante turbulência será fundamental para os negócios.
De acordo com os últimos levantamentos, o Brasil, entre os anos de 2020-2030, será o país com maior “gap” de talentos do planeta. Para o RH lidar com a situação, ele deve iniciar um planejamento lidando muito bem, a partir de hoje, com os “high potentials”. “Mas, como lidar com essa crise de falta de mão de obra levando em conta que as pessoas são os ativos da empresa?”, questiona Paulette. Segundo ela, a resposta está diante dos olhos. “Hoje vivemos em um mundo de desconstrução de caráter e valores. Na vida, nós não nos relacionamos com as pessoas que nos melhoram? Este fenômeno também acontece nas empresas. Então, como as pessoas, que são os nossos ativos, irão se tornar bons profissionais para nossas empresas, se elas não tiverem bons exemplos para se relacionarem?”.
Aqui entra um dos papéis fundamentais do RH: o de ser um guardião da cultura da empresa e referencial para os demais colaboradores. “Se há profissionais que não possuem princípios e valores, morais e éticos, não há como desenvolver pessoas com essas qualidades. Se não houver pessoas com tais qualidades e comprometidas com a cultura da empresa, nosso gap será cada vez maior”, afirma a professora.
Outro desafio do RH estratégico torna-se mais evidente nesse panorama: o de ser o agente de mudança na organização. Como, então, permanecer e gerar resultado diante do paradigma da complexidade? “A resposta está dada. Permaneceremos e teremos resultados exercendo o papel de Recursos Humanos, e rápido. Devemos lembrar que, lá fora, o mundo é hipercompetitivo”, destaca. A hipercompetitividade está baseada em diversos fatores mundo afora. Pode ser notada com a orientalização do planeta, a partir da velocidade com que o mundo oriental constrói e soluciona problemas inacreditavelmente; com a competência dos indianos, que projetam e executam vendas como ninguém ou com a nova era das máquinas mais precisamente com a entrada da Inteligência Artificial no mercado, sendo 40% mais produtiva do que um profissional de telemarketing e realizando cirurgias ultraprecisas.
De acordo com a especialista, outro fator importante é que se antes a entrada da Geração Y no mercado de trabalho era o tema do assunto, hoje em dia ela já está atuante e recebendo a nova Geração Z. “Ainda não sabemos o comportamento da nova geração, mas temos muitos anos ainda com a Y, que se revela difícil ao lidar com pessoas que não sabem suportar uma frustração e que tratam o relacionamento nas empresas como na vida pessoal: não deu certo, troca”, frisa Paulette. Para terminar, a professora é incisiva. “O papel dos Recursos Humanos nunca foi tão fundamental e nunca foi tão pessoal. Agora não é necessário apenas liderar, é preciso inspirar, ser exemplo, espelho, referencial”.