Autor: Edilson Menezes
Estamos contratando o perfil “sabe que não sabe” e demitindo os sabichões, porque a certeza imutável atrasa os processos criativo e evolutivo.
Imagine que seja o seu primeiro dia na empresa e, caminhando pelo setor, você encontra esta placa. Se você é do tipo que sabe que não sabe, vai admirar a atitude do empregador, mas se é do tipo que tem resposta pronta para qualquer segredo do universo, talvez pense:
Ah, tá bom… Quero ver na hora de cobrar resultado. Duvido a empresa aceitar que não cumpri a meta porque não soube fazer, mas ao menos admiti isso!
O pensamento socrático “inteligente é aquele que sabe que nada sabe”, sem dúvida, foi interpretado de maneira equivocada por quem que não busca conhecimento.
O pensamento de Napoleon Hill “se não pensar ‘quero a qualquer custo’, nada conseguirá”, embora inequívoco, também foi deturpado por aqueles que cresceram na vida e na carreira deixando pelo caminho pessoas esmagadas por seu implacável desejo de sucesso.
O primeiro foi filósofo e como tal, quis provocar as pessoas para que pensassem na desnecessária e nociva finitude do desejo de aprender que ninguém, a não ser as próprias pessoas, se infligem. Sócrates quis dizer que imediatamente após afirmar-se sabedora de tudo sobre determinada tarefa, nada mais será aprendido porque a mente já foi aprisionada no perigoso e arrogante calabouço da certeza imutável. A rotatividade de profissionais, cuja palavra da moda é turnover, teve origem nesta incompreensão, porque temos muitos chefes por aí com o perfil.
O segundo foi consultor da Casa Branca, autor e grande pesquisador das leis do triunfo. Hill sonhava com um mundo tal qual o vislumbrava, composto por pessoas focadas no sucesso e não no fracasso, porque descobriu que ambas são alcançáveis. Logo, sua afirmação pela busca do sucesso “a qualquer custo” deve ser analisada como qualquer ação respeitosa, lícita e justa. O assédio moral, por exemplo, teve origem nesta deturpação, porque não foram poucos os executivos que aumentaram, através dos seus antigos subordinados, as filas nos consultórios de psiquiatria e psicologia.
Na empresa ou na vida, duvide de pessoas que afirmam saberem tudo sobre determinado assunto. Se soubessem mesmo, estariam prontas para morrer porque a perfeição não combina com o ser humano.
Perfeitos, seríamos ainda mais arrogantes do que já somos, fabricaríamos mais armas a fim de subjugar aos que não estivessem prontos para as nossas verdades absolutas e não conseguiríamos nos relacionar, porque qualquer relação perfeita, pessoal ou profissional, é natimorta.
Na empresa ou na vida, não julgue os sabichões. Faça diferente. Eles também precisam de ajuda. Fure o balão que os mantém no nível superior, flutuando sobre a própria e inigualável inteligência. Mostre como é bom partilhar conhecimento, ao invés de gabar-se como pseudoespecialistas nisso e naquilo.
Os sabichões precisam de tanto espaço quanto aqueles assim ditos humildes e se considerarmos o extremo de cada perfil, sabichão costuma ser insuportável no trato porque “ninguém lhe entende” e humilde costuma dar pouco de si, usa economia no comportamento porque “se não aconteceu, é porque não merecia”.
Uma metáfora pode nos ajudar neste entendimento:
O equilíbrio entre a sabedoria e a humildade é como uma ponte. Construída a partir da sabichona madeira, que se julga forte o bastante para este fim, será arrastada pela primeira chuva torrencial. Estruturada por concreto, que não se considera sábio, mas sabe que a sua existência levará muito mais pessoas ao outro lado, resistirá, imponente e firme.
Na empresa ou na vida, o sucesso ocorre por diversas circunstâncias, com destaque para três delas: atitude, comportamento e identidade. A primeira norteia o equilíbrio citado entre sabedoria e humildade. O segundo vai se repetir a cada dia, pois não precisamos fazer esforços para nos comportar e a última diz quem você é de verdade, além da suposta sabedoria e do sugerido conhecimento técnico que acumulou.
A identidade é única, tão intransferível quanto o seu cartão bancário e não pode ser mudada, mas pode ser reforçada. Deixo-lhe dois pensamentos finais, acompanhados do meu desejo de que possa mesmo reforçar a sua:
1. Quando você achar que já sabe tudo que precisa saber, significa que a sua caixa de ideias está cheia demais e cérebro que não divide informações preciosas tende a esquecer tudo;
2. Quando você achar que é humilde o suficiente para receber algum favorecimento divino por isso, reflita: humilde é quem busca mais informações para dividir com os seus semelhantes ou é quem usa as únicas vestes que conhece e a humildade como pretexto para não evoluir?
Eu gosto de pessoas eternamente dotadas de dúvidas porque elas garantem a transmissão do conhecimento presente para o futuro.
Sem julgamento como certo ou errado, admiro pessoas humildes nos dois contextos que apresentei, porque elas ajudam os arrogantes no exercício diário de olhar para trás.
Eu tenho medo de sabichões, porque a história mundial elenca vários e nenhuma nação jamais se declarou orgulhosa deles.
A escolha, como sempre, é apenas sua!
Edilson Menezes é treinador comportamental e consultor literário. Atua nas áreas de vendas, motivação, liderança e coesão de equipes. ([email protected])