Insatisfação que faz crescer!

Autor: Renato Curi
Assim como eu, certamente você já olhou para a empresa onde trabalha e quis que algo fosse diferente. Muito provavelmente, você já compartilhou dessas insatisfações com outras pessoas. Porém, há certos profissionais que possuem uma capacidade aguçada de reconhecer e listar facilmente todas as incoerências do ambiente no qual está. São pessoas que direcionam as conversas dos almoços e bate-papos mais descontraídos para os problemas da empresa, como o excesso de processos e lentidão para tomar decisões, diretores totalmente despreparados para estarem naquelas posições, política de benefícios aquém do que o mercado pratica, o chefe que não sabe fazer gestão de pessoas e a lista não para.
Como consultor em treinamento, tenho a possibilidade de conhecer inúmeras empresas e ambientes corporativos. Lembro-me que, no intervalo de uma semana, pude trabalhar com dois tipos distintos de empresas. Uma cuja reclamação principal era a falta de processos e ausência de planejamento e outra na qual o motivo das queixas era o excesso de processos e a burocracia. Em ambas, diversas pessoas se desmotivavam pelo cenário interno, reclamavam dessas características e algumas ainda compartilharam comigo o desejo de trocar de empresa.
Aqueles que olham para o lado negativo do seu ambiente de trabalho com freqüência são profissionais que tendem a reclamar e promover seus pensamentos e sentimentos de insatisfação para que seus colegas compartilhem do mesmo.
Podem estar neste grupo pessoas que atendem as expectativas da empresa, ou seja, executam suas tarefas, porém o fazem sempre lembrando o que existe de errado naquele local. Um ponto em comum dessas pessoas, que eu tenho encontrado, é que 99% das vezes as reclamações são feitas para quem não é responsável por resolver os problemas, ou seja, para terceiros, como pares e liderados. E, ainda, o levantamento de tais problemas não vem seguido de uma proposta de solução, de uma descrição de ações que contribuirão para resolver o problema.
Esses são os especialistas em focar a ´área de incoerência. É provável que você já tenha entendido que ´área de Incoerência´ é tudo que ´sua empresa tem de errado´,  tudo o que poderia ser diferente, tudo que todo mundo já sabe que não está a contento. Por exemplo, se nosso País fosse uma empresa, a área de incoerência poderia ser o “jeitinho brasileiro” de querer tirar vantagem, a burocracia dos processos, os altos impostos etc.
Agora, de que adianta fazer parte da imensa maioria de cidadãos que sabe apenas elencar os problemas? De que contribui olhar apenas com esse foco? É claro que não estou dizendo para não olhar ou discutir sobre os problemas do nosso País ou da sua empresa, por exemplo. A questão é: o que você foca aumenta! Se você estiver focando em tudo de ruim que está a sua volta, de repente, você vai se ver trabalhando no pior lugar do mundo.
Um filtro de pensamento seria pertinente como estratégia para quebrar esse ciclo. Frente a um problema, questione: esse problema tem solução? Ótimo, vamos discuti-lo e traçar um plano de resolvê-lo. Não tem solução? Então vamos ter gratidão pelo que temos de bom, seja pelo clima organizacional, pela liberdade de se propor melhorias nessa área, pelo aprendizado que a empresa proporciona, enfim, vamos olhar para ´área de realização´. Vamos reforçar os aspectos que já temos de bom. Promover, compartilhar e divulgar isso.
É tarefa do líder é direcionar as pessoas para que enxerguem a ´área de realização´ da empresa onde atuam. Quanto maior a sensação do liderado de que ele trabalha num bom lugar, quanto mais ele reconhece as “coisas boas” da função, da área, da empresa, mais ele estará à disposição para desempenhar no seu melhor.
Renato Curi é sócio-consultor da Crescimentum.

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