Munidos de talentos



Autor: Evaldo Costa

 

Nada mais óbvio no mundo dos negócios que a busca por gente talentosa. Empresas do mundo inteiro pagam verdadeiras fortunas para que headhunters possam encontrar os iluminados. Aliás, muitas empresas criaram um departamento chamado gestão de pessoas só para cuidar do seu maior patrimônio: os seus talentos. Tudo por uma razão muito simples: no mundo do conhecimento, os bem preparados podem fazer a diferença entre o sucesso e o fracasso. Mas, será mesmo que contar com os melhores profissionais é sinônimo de sucesso garantido? Responder a esta questão pode não ser tão simples quanto pode parecer a um descuidado leitor.

 

Precisamos refletir sobre o assunto, pois muitos exemplos nos mostram claramente que, nem sempre, ter os melhores colaboradores é o bastante para vencer. Você, por exemplo, conhece alguma empresa que, apesar de contar com grandes talentos, acabaram desaparecendo do mapa ou quase? Será que todas as organizações que foram nocauteadas não contavam com profissionais brilhantes em seus quadros? Não são poucos os casos de empreendimentos que, apesar de bem estruturados e possuir gente muito bem preparada, acabaram fracassando. Porém, não é apenas no mundo empresarial que fatos desta natureza ocorrem. Situações análogas também afetam outras áreas vis à vis o mundo dos esportes.

 

De 1994 a 1999, a equipe de futebol do Flamengo, provavelmente, montou um dos mais fortes plantéis de sua história. Os jogadores que compunha o seu ataque encantavam até torcedores de clubes rivais. Quem não se recorda do “ataque dos sonhos”, formado por Sávio, Romário e Edmundo. Parecia que com aquele elenco, eles iriam ganhar tudo que disputassem! Mas, a rigor, eles não só não ganharam os títulos que esperavam, como também, contabilizaram uma das piores campanhas de todos os tempos. Só para se ter uma idéia, no campeonato carioca de 95,  o “Túlio Maravilha” – que jogava no Botafogo – fez mais gols sozinho do que todo o time do Flamengo com seu “ataque dos sonhos”.

 

Um caso isolado? Pode ser que sim ou não. Então vamos a outro exemplo. O Real Madrid reuniu os “galácticos” e parece ser um dos maiores times de futebol que o mundo pode ver. Muitos títulos? Não foi bem assim. Eles não conseguiram ganhar tudo que podiam. O que não faltam são exemplos neste sentido.

 

Mas, que tal um exemplo ainda mais notório? Você se lembra da última copa do mundo de futebol? Você já ouviu falar em uma seleção de prestígio internacional, a qual investiu uma pequena fortuna a fim de montar um dos melhores elencos para “levantar o caneco”? Aquela que liderava todos as bolsas de aposta nos quatro cantos do planeta: lembrou-se agora? Essa equipe ganhou a copa? Não só não ganhou como, com uma apresentação pífia, decepcionou a todos àqueles que esperavam assistir um futebol bonito e vencedor.

 

Para não ficar nos exemplo futebolísticos, que tal uma rápida incursão pelo mundo do basquete? Lembra-se do Chicago Bulls, do astro Michael Jordan, que encantava o mundo com os seus magníficos atletas? Pra não ir muito longe: o último título deles na NBA (National Basketball Association) foi em 1998.

 

A rigor, parece haver muito mais desafios a serem vencidos do que a simples contratação de bons profissionais, não é mesmo? Assim como no esporte a empresa precisa saber lidar com esse tipo de gente que, por se sentir, prestigiado acaba desenvolvendo outras necessidades e sentimentos, como o de estar sempre com a produtividade e o reconhecimento em alta. Um outro viés que merece atenção especial costuma ser o excesso de vaidade e exposição emocional dos que sobressaem em suas áreas de atuação.

 

Para obter sucesso nos dias atuais, as organizações precisam de algo além de pessoas talentosas, precisam contar com líderes capazes de formar equipes bem estruturadas e obter delas resultados otimizados. O líder deverá ser capaz de manter o core business de seu negócio sob foco, agir com velocidade e ser carismático o suficiente para manter a equipe coesa e imbuída em conquistar objetivos coletivos, ainda que para isso tenha de abrir mão das metas pessoais. Tudo isso parece ser uma nova demanda no mercado, pois se antes o gestor comandava uma organização perene e tinha muito tempo para pensar e agir, agora ele lida com empreendimentos dinâmicos e precisa raciocinar e atuar com velocidade se quiser chegar à frente da concorrência.

 

A verdade é que até a década de setenta, passamos a vida no lombo de um burro e de lá para cá, fizemos coisas inimagináveis. Em menos de meio século fomos à lua, viajamos por vários planetas e fizemos inúmeras descobertas. Há, pouco mais de uma década atrás,  tínhamos seis milhões de telefones no Brasil. Atualmente, contamos com mais de setenta milhões e o número de usuários não pára de crescer. Essas são apenas pequenas demonstrações de mudanças em nossas vidas e o quanto nós temos de nos adaptar para suplantá-las.

 

Evaldo Costa é escritor, professor, consultor e conferencista.

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