Autor: Evaldo Costa
Ao longo da vida passamos por tantos momentos adversos e, aparentemente, insuperáveis que a nossa fé parece ceder espaço ao medo. Não raros, os momentos de incertezas, insegurança, angústia, em que o medo parece se instalar e dominar as nossas ações. Há momentos em que os negócios não vão bem, o emprego é incerto, há desentendimento familiar, nos quais perdemos ou corremos o risco de perder algo que não podemos abrir mão, momentos pelos quais temos que conviver com problemas de falta de saúde e por aí vai. O que é mais cruel é que todas essas situações despencam sobre nós de uma só vez, como se fosse um boomerang.
Algo parecido já ocorreu com você ou com algum conhecido seu? O que fazer diante de um quadro destes? Não há receita de bolo, cada caso costuma ser diferente do outro. Mas, algo que sempre funciona é você se recusar a temer e aceitar a situação. O temor é um dos piores sentimentos que nos acompanha pela vida. Afinal, quem nunca temeu a morte, doença, velhice, pobreza, perda do amor de alguém ou mesmo a possibilidade de ser criticado. Para conseguir superar a angústia do medo, por não conseguir algo, você terá de ser corajoso, ter muita fé e esperança em sua mente, além de uma boa dose de amor no coração, pois só assim você estará bem preparado para desfrutar de dias melhores que virão, por mais que pareçam distantes ou impossíveis.
Ao longo de minha trajetória profissional, não foram poucas as entidades que eu prestei consultoria. Alguns anos atrás, a empresa para a qual eu trabalhava foi solicitada a fim de elaborar um plano de recuperação para uma organização que se deparava com enormes dificuldades financeiras, comerciais e operacionais. Depois de trabalhar duro no projeto, juntamente com mais dois experientes consultores, a conclusão foi que muito pouco poderia ser feito na tentativa de salvar o empreendimento. Na verdade, o diagnóstico técnico concluiria a inviabilidade do negócio nos doze meses seguintes.
Tudo parecia ocorrer como o previsto, exceto um único detalhe. A empresa fechou parte de suas operações, vendeu o que foi possível e pouco restava, além da luta obstinada de um empresário que se recusava, a qualquer custo, curvar-se diante da trágica e anunciada falência. Ele perdeu quase tudo, em alguns momentos, até os amigos se afastaram. Sua luta parecia inútil para fazer frente ao enorme desafio de manter o seu negócio de pé.
Pois muito bem, esse empresário fez o que ninguém podia acreditar ser possível: trabalhou duro e operou o seu reduzidíssimo negócio no “fio da navalha”. Quando menos se esperava, ele deu uma guinada de mestre e, aos poucos, foi reconstruindo tudo, tijolo por tijolo, a ponto de hoje possuir um negócio lucrativo e duas vezes maior do que foi um dia.
Recentemente, tive um encontro com esse admirável empreendedor e descobri uma pessoa extremamente motivada e cheia de novos planos. Depois de algum tempo conversando com ele, pude perceber claramente que o seu triunfo ocorreu principalmente pelo fato dele ter se recusado a temer a falência e os seus efeitos, conservando a fé e a esperança de que conseguiria reverter o quadro. E reverteu!
Martin Luther King Jr foi um grande exemplo de como a fé e a esperança podem ajudar muito, qualquer pessoa em dificuldade, a superar o medo. Em 1956, (ver livros: Stride Toward Freedom e Martin Luther King, Jr. On Leadership) ao saber que o reverendo U.J. Fields revelou à mídia ter se apropriado irregularmente de fundos pertencentes à Igreja, ele, ao invés de ignorar o caso, procurou conversar com o reverendo, e ao tomar conhecimento da agonia e do arrependimento daquele cidadão – que em um momento de fraqueza cometeu esse terrível deslize – não temeu enfrentar a fúria dos fiéis da igreja. Naquele dia, ao proferir, em Montgomery, uma palestra para milhares de seguidores, ele, corajosamente, colocou o reverendo Fields sentado ao seu lado direito.
Quando a multidão percebeu a presença do reverendo, manifestou-se enfurecida em sinal de protesto. Diziam eles: “olha lá aquele que se apropriou do dinheiro da igreja,” além de outras palavras ofensivas. Sem se exaltar, o Sr. Martin Luther King Jr levantou-se e começou a sua fala dizendo mais ou menos o seguinte: “temos aqui um irmão angustiado e triste; um irmão que dedicou a sua vida para nos ajudar; um irmão que errou sim; um irmão que cometeu um terrível erro e que está muito arrependido por tê-lo feito. E, por isso, nós estamos recriminando-o com todo o nosso ódio”.
“Mas eu quero lembrar que o nosso irmão reconheceu o seu erro. Eu pergunto: temos que passar por essa vida sem errar? Você algum dia, também, errou? Ouça-me com atenção: “se há alguém aqui que nunca cometeu um único erro, então que jogue a primeira pedra”. Não precisa dizer mais nada sobre qual foi o desfecho deste assunto, precisa? O povo o perdoou, é claro! Agora eu lhe pergunto: quantos de nós teríamos tido a coragem que Martin Luther King teve? Não deve ser por acaso que ele conseguiu se transformar no grande homem que foi.
Contudo, se você ainda não se convenceu da importância de renunciarmos ao medo por pior que seja a situação, então vou lhe dar outro exemplo definitivo. Se você tiver oportunidade, consulte o evangelho segundo Marcos e irá constatar uma passagem envolvendo pescadores experientes que transportavam o filho de Deus. Jesus disse a eles: “…vamos para a outra margem do Rio!” Os pescadores então seguiram com Jesus no barco. Cansado, Jesus adormeceu, porém fortes ventos surgiram repentinamente fazendo com que o barco começasse a inundar. Amedrontados diante do perigo, os pescadores acordaram Jesus em busca de socorro. Ele então os perguntou: “Por que são tão medrosos? Ainda não tendes fé?”. O que aconteceu depois você já deve saber.
Evaldo Costa é escritor, conferencista, professor e consultor.