O setor de cartões de crédito vem passando, desde o dia 1º de julho , por mudanças impulsionadas pelo fim dos contratos de exclusividade entre credenciadores e bandeiras. Segundo estudo da Dextron Management Consulting, consultoria especializada em estratégia de negócios, tudo isso deve incentivar a concorrência, em especial, no segmento de credenciamento – composto por empresas responsáveis pela filiação, gerenciamento e relacionamento das bandeiras com os estabelecimentos comerciais -, contribuindo para uma possível redução das taxas de desconto, que hoje representam, em média, 4% do valor de cada operação.
“Na cadeia de cartões, o elo das credenciadoras apresenta excelentes margens de lucro líquido. Exemplo disso são Cielo e Redecard, que juntas respondem por aproximadamente 90% do total de transações realizadas no País e apresentam margens de 44,5% e 45,4%, respectivamente. Global Payments e Heartland Payments, duas das dez maiores credenciadoras norte-americanas, conseguiram em 2009 atingir margens de 2,3% e -3,1%, respectivamente”, destaca Bruno Furlan, consultor da Dextron responsável pelo estudo. “Outro aspecto analisado é que a disseminação dos cartões como meio de pagamento no Brasil ainda é pequena quando comparada a mercados maduros. Aqui, a quantidade de cartões por habitante era, em 2008, de 2,7, e crescia a uma taxa média de 19% ao ano, enquanto que nos EUA esse número encontra-se estabilizado em 5,1 cartões por habitante”, acrescenta.
O ritmo acelerado de crescimento e o potencial de mercado a ser explorado, aliados à queda de uma importante barreira como a exclusividade entre Cielo e Visa, não só estimulam a competição entre os players já presentes no mercado, como também devem facilitar a entrada de mais concorrentes. “Um dos desafios para novas empresas atuarem com o credenciamento está em arcar com os altos custos para a implantação de uma estrutura de compensação e liquidação das transações. Nesse sentido, a alternativa utilizada nos Estados Unidos foi criar uma associação responsável por definir regras e padrões para as operações realizadas pelas chamadas ´casas automatizadas de compensação e liquidação´. Com isso, hoje o mercado norte-americano conta com mais de 100 credenciadoras”, explica Furlan.
Em 2009, o setor de cartões de crédito no Brasil movimentou cerca de R$ 444 bilhões, o equivalente a mais de 6 bilhões de transações. Isso representa um crescimento de mais de 300% no valor das transações entre 2002 e 2009. Em 2005, as operações com cartões respondiam por 25% dos meios de pagamento; três anos depois esse número subiu para 33%. “São, em média, 28 transações por habitante/ano no Brasil. Nos Estados Unidos, esse número já chega a 191”, compara o consultor da Dextron.
Já se observa um ambiente mais competitivo com iniciativas como a joint venture firmada entre o Banco Santander e a empresa de tecnologia GetNet, que tem como meta alcançar 10% do volume de transações até 2012. Furlan acredita que a busca por alianças com instituições financeiras seja um dos caminhos para ganhar espaço no segmento de credenciamento. “Nesse modelo, os bancos contribuem com o aporte de sua base de clientes e também com o acesso às bandeiras; enquanto que as processadoras fornecem expertise tecnológica e escala ao negócio”, completa.
O aumento da concorrência no mercado brasileiro, se concretizado, deve fazer com que os comerciantes se beneficiem de menores taxas de desconto, pois passarão a ter mais opções de credenciadores. “Para que ocorra essa redução, o mais provável é que as credenciadoras tenham que diminuir suas margens de lucro líquidas, já que a taxa de intercâmbio, um importante componente da taxa de desconto, é definida pela bandeira com base em parâmetros internacionais, ou seja, as credenciadoras não possuem controle sobre essa parcela da taxa de desconto”, finaliza o consultor.