Já não é novidade o momento de crise que o País vem passando. Há dois anos, mais ou menos, estamos passando por situações conturbadas, que unem crise política, com alta de juros e inflação, sem contar a alta do dólar e a instabilidade. Claro que a satisfação do brasileiro não iria ficar ilesa. Ele está mais inseguro, possui menos crédito e tem receio com o aumento das taxas de desemprego. Não está fácil para ninguém. Muito menos para as indústrias, que ainda carregam o peso de movimentar o país. Aliás, o setor automobilístico é um dos mais afetados. Vide o desempenho de fevereiro desse ano: queda de 27% na comercialização de veículos, com relação a janeiro, e de 28% com relação a 2014.
Na explicação do presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Moan, foi uma sucessão de fatores – além da crise em si – que ajudaram nesse resultado negativo. “Temos o efeito do aumento, ainda, da alíquota do IPI, que começou a vigorar em janeiro. E uma perda do nível de confiança por parte do consumidor, em função dessa série de ajustes que estão acontecendo.” Ele ainda assume que o pior desempenho foi no segmento de caminhões, com redução de 32,5% nas vendas, comparado com janeiro, e 50,3% com ano passado.
Porém, a maior preocupação está ainda no fato de que até mesmo a venda de veículos usados apresentou uma queda – redução de 6,6% no acumulado de janeiro/fevereiro. “Um fato que nos indica claramente que a perda de confiança não se restringe à área de veículos novos”, acrescenta Moan. Segundo o presidente, até o ano passado, por mais que houvesse queda na comercialização de carros zero quilômetro, a movimentação dos usados se mantinha positiva. Ou seja, um momento de alerta, pois os carros já rodados sempre foram considerados como cheque de entrada do consumidor ao mercado automobilístico, já que serviam como moeda de troca. Nem esse fator pode servir como segurança para o setor.
DE VOLTA A 2008 E ESPERANÇA NO FUTURO
“Em termos de vendas totais, nós retornamos, nas vendas de fevereiro, ao mês de novembro de 2008, portanto, recuamos de seis a sete anos”, aponta Moan. “São indicadores bastante negativos”. Apesar de já esperarem que o primeiro trimestre desse não seria fácil, o presidente confessa que está sendo um momento mais complicado do que esperado. A esperança está realmente no segundo semestre, de que ele traga um equilíbrio maior e desenvolvimento de novas condições. “Mas, hoje, o principal desafio das montadoras é conseguir cativar o cliente e chamá-lo de novo para lojas e redes concessionárias.”
Mais do que nunca, essa é uma missão das montadoras. Até porque, nos últimos anos, o grande volume de vendas foi fruto do crescimento da Classe C, que passou a ter melhores condições de renda. E, segundo Moan, o mau resultado da indústria automobilística tende a afetar o desenvolvimento geral nacional. “O setor tem um peso de 23% do PIB industrial, que representa cerca de 5% do PIB. Mas a cadeia inteira automotiva, seja produtiva ou pós-venda, representou, em 2013, 12% de toda arrecadação tributária para o País.” O que, sem dúvida, seja nos ganhos ou nas perdas, impactará na economia como um todo.