Artilharia vs infantaria

Há uma década era comum que as famílias realizassem as chamadas “compras do mês”, mesma época em que os hipermercados começaram a conquistar um espaço maior na sociedade. Com o tempo, a situação foi se transformando: a economia e a segurança financeira já não são mais as mesmas, as pessoas vêm aumentando cada vez mais suas cargas horárias de trabalho e responsabilidades, resultando em uma maior falta de tempo para a realização de outras tarefas. A própria tecnologia proporcionou um conceito maior de comodidade e facilidade. O resultado é uma maior expansão dos minimercados. “O cenário mais recente destaca as lojas pequenas, com quatro ou menos check-outs (caixas), tradicionalmente características do conceito de ‘lojas de vizinhança'”, explica Sérgio Molinari, sócio-diretor de foodservice da GS&MD – Gouvêa de Souza.
Mas qual a razão dos minimercados conseguirem atender a uma demanda atual do cliente? Como explica Molinari, esse varejo de vizinhança consegue aliar suas características com a necessidade que o público possui. É unir a fome com a vontade de comer. “Por outro lado, os pequenos autosserviços vêm se aprimorando para atender melhor o seu cliente e, aliás, atrair novos clientes”, afirma o executivo. Ou seja, é um relacionamento que resultou em um “encontro feliz”: enquanto os clientes procuram pela conveniência e compras mais rápidas, as empresas oferecem melhoria do nível de serviço, incluindo entrega a domicílio e estacionamento; as pessoas querem um estabelecimento que seja perto de suas casas e os minimercados aproveitam e melhoram no sortimento e sofisticação de seus produtos; a compra do mês passou a ser deixada de lado, ao mesmo tempo em que os minimercados ampliaram as facilidades de pagamento, como cartões, vale alimentação e o famoso “fiado”; consumidores buscam por praticidade, isto é, em opções à caminho de casa, e as lojas de vizinhança passaram a oferecer maiores ofertas de preço do que os super e hipermercados.
Para se adaptarem a esse novo cenário, as grandes empresas também passaram a criar as suas opções de minimercados, concorrendo com aqueles que eram independentes ou familiares. “Estes últimos representam perto de 85% do total de lojas deste tipo no país”, aponta Molinari. Surgindo um novo conflito mercadológico. “Uma guerra entre a infantaria (as lojas independentes e familiares) e a artilharia (as grandes redes)”. De um lado, as grandes redes possuem como armas suas experiências, organização, infraestrutura, inteligência de mercado, automatização. Mas não quer dizer que o jogo esteja ganho, uma vez que as lojas independentes ou de pequenas redes familiares prometem um avanço contínuo. “Entre outras coisas, elas possuem maior velocidade e flexibilidade de resposta, relacionamento diferenciado e frequente com o cliente, como o ‘olho-no-olho’, adequação local às demandas e necessidades do consumidor, fortalecimento de alternativas competitivas e adequadas para se organizar e se abastecer.”
Entre mortos e feridos, o resultado desse conflito é uma maior vantagem ao cliente. “O que deveremos ver nos próximos anos é o cliente se beneficiando de uma melhoria do formato. Há inúmeras iniciativas de desenvolvimento e profissionalização deste pequeno empresário, ao lado de uma crescente tomada de consciência dessa necessidade para a sobrevivência”, completa.

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