Nova edição do Estudo Gmattos de Pagamentos aponta, entretanto, que modalidade ainda enfrenta problemas tentando driblar inadimplência no e-commerce para alavancar seu crescimento
Entre as modalidades que mais têm movimentado a agenda dos pagamentos on-line do país nos últimos dois anos, ao lado do PIX, o BNPL (Buy Now, Pay Later) possui demanda para crescer no mercado, mas precisa vencer obstáculos para confirmar a tendência de alta. Essa avaliação surge a partir dos dados apurados pelo Estudo Gmattos de Pagamentos em sua edição de julho de 2023. O levantamento vem sendo realizado desde janeiro de 2021 pela consultoria que há mais de 20 anos identifica movimentações nos tipos de pagamento aceitos pelo comércio eletrônico no Brasil.
Esta edição mais recente do estudo realizou um aprofundamento na análise do BNPL, levando em conta desafios e características específicas de sua oferta. A modalidade segue exibindo sinais de potencial crescimento, mesmo enfrentando ainda entraves para a sua consolidação. O “Buy Now, Pay Later” sofreu recentemente uma baixa com a saída de um grande player do mercado brasileiro, a fintech ADDI. Mesmo com esse revés, esse meio de pagamento manteve em julho o nível de aceitação verificado na edição anterior do estudo (maio): 30,5%, seu melhor resultado até agora no histórico de levantamentos da Gmattos.
“Metade das ofertas do BNPL se dá com financiamento tipo crediário loja, e a outra metade se divide entre ofertas de bancos de varejo ou de fintechs, estas em 22,2% dos casos, contra 33,3% em maio, queda que pode ser justificada pelo advento da saída de mercado da ADDI. O espaço das fintechs foi preenchido pelo financiamento via bancos, que subiu de 16,7% em maio para 27,8% em julho”, explicou Gastão Mattos, cofundador e diretor-geral da Gmattos.
De acordo com o executivo, o momento evidencia a necessidade de ajustes de alguns players BNPL, que visam adotar modelos mais sustentáveis de operação, balanceando a oferta com os custos. Eventuais desequilíbrios em muito se devem ao custo da inadimplência, que pode ser de 2 a 3 vezes maior do que aquela observada no cartão de crédito. “Dessa maneira, os bancos tradicionais do mercado ainda relutam em avançar mais diante da insegurança da modalidade, e as fintechs do segmento buscam novas tecnologias para identificar perfis de potenciais bons pagadores. No atual contexto de patamares recorde da inadimplência da população, a missão é complexa”.
Ainda assim, o BNPL pauta sua expectativa de crescimento como forma alternativa de parcelamento entre os consumidores que não possuem cartão de crédito ou aqueles que, embora tenham o produto, não dispõem de limite de crédito suficiente para determinadas compras. Em 2022, aproximadamente R$ 100 bilhões não foram aprovados no cartão de crédito por falta de limite. Com base nesse volume, acrescido da parcela da população que não possui cartão, a Gmattos estima o potencial total do segmento de BNPL no país em R$ 200 bilhões, considerando 2022 como ano-base.
PIX retoma crescimento
Outro aspecto detectado pelo Estudo Gmattos de Pagamentos é a retomada do crescimento do PIX, que atingiu o seu maior índice de aceitação no histórico de medições da Gmattos: 94,9%, aproximando-se do seu patamar máximo estimado pela consultoria, de 96%. Nas edições de março e de maio/23, a adesão ao PIX havia ficado em 93,2%.
O estudo detectou, nesse contexto de elevação, os esforços dos lojistas em oferecer benefícios para os clientes que optam por essa modalidade de pagamento. Entre as lojas que aceitam PIX, 40% dão descontos de 3% a 17% para os consumidores que pagam dessa forma. Os incentivos se justificam, segundo a análise do estudo. “O custo médio da loja na transação PIX é estimado em 0,33%, bastante inferior ao seu concorrente direto, o cartão de débito, com custo de 1,13%”, afirma Gastão Mattos. “Além disso, o fator preponderante para a preferência pelo PIX é sua alta conversão no carrinho, estimada em 80%, contra apenas 30% do cartão de débito”, compara o especialista.
Mas a sondagem tem identificado uma piora da performance do débito nas lojas que aceitam PIX. Nesses estabelecimentos, 11% aceitam o débito bandeira e 16% o débito banco, sendo que somente 1,8% trabalha com os dois tipos de débito. Esta modalidade, no geral entre os lojistas online, tem se mantido em patamar inferior a 30%, não mostrando reação na aceitação histórica. A distância entre PIX e débitos, aliás, alcançou em julho seu maior patamar na trajetória do Estudo Gmattos de Pagamentos: 67,8 pontos percentuais.
Entre as modalidades mais tradicionais da agenda de pagamentos on-line, o levantamento de julho constatou a resiliência do boleto, em equilíbrio estável no patamar de 64,4% – mesmo percentual que obteve em maio. Entre as lojas que trabalham com boletos, cresceu, até, a parcela das que oferecem descontos para os clientes que optam por esse tipo de pagamento: em julho, 7,9% desses lojistas disponibilizaram esses incentivos, ante 2,6% em maio.
As wallets seguem com pouca oscilação, firmes no patamar de aceitação pouco superior a 40%. No crédito, soberano no percentual de adesão (100%), o parcelamento sem juros mantém sua tendência de diminuição de parcelas. Em julho, a média observada para essa oferta foi de 4,2 vezes, o menor índice deste ano e bem inferior à média observada em novembro de 2022 (Black Friday), quando atingiu 6,4 vezes.
A edição de julho/23 do Estudo Gmattos de Pagamento, – que conta com o patrocínio da Telesign – analisou 59 lojas on-line de destaque no país, dos mais diversos segmentos, as quais, juntas, representam volume dominante no mercado brasileiro. As observações aconteceram na primeira semana do mês.