A Bolsa de Valores de São Paulo, Bovespa, acaba de anunciar um novo índice para avaliar o compromisso das empresas com o bem-estar social, que só deve entrar em operação no ano que vem. Entre as 150 companhias com maior liquidez na bolsa, serão selecionadas as 40 melhores no quesito responsabilidade social, após uma rigorosa avaliação feita através de um questionário que será respondido pelas próprias empresas.
A avaliação será anual e vai considerar aspectos como o respeito à natureza, valorização e motivação dos funcionários e a relação com os investidores e comunidade. Um bom resultado nessa avaliação agrega valor à imagem da empresa e atrai acionistas, ou seja, gera lucro. Isso porque as chances dessas empresas sofrerem com processos ambientais e trabalhistas, por exemplo, são menores.
A prática já é adotada nos Estados Unidos e em alguns países da Europa. O índice mais conhecido e que servirá de modelo para o indicador brasileiro é o DJSI (Dow Jones Sustainability Index), que tem mostrado uma performance constantemente maior que o Dow Jones Global Index. Iniciativas semelhantes também estão sendo adotadas pelas bolsas da África do Sul e da Austrália.
Para Cibele Salviatto, sócia da consultoria Atitude – Gerando Resultado Sustentável, o novo índice vai colaborar para uma maior preocupação com a sustentabilidade em nosso país. “Nossa expectativa em relação a este índice é bastante grande, bem como a responsabilidade de quem o está desenvolvendo, pois o assunto Responsabilidade Social Corporativa (RSC)/Desenvolvimento Sustentável ainda é bastante novo e a qualidade, credibilidade e visibilidade do índice pode ajudar no desenvolvimento desse assunto nas práticas de gestão das empresas brasileiras”, afirma.
A consultora destaca que Responsabilidade Social não é um conjunto de ações, mas sim uma prática administrativa, uma filosofia de gestão. “A inclusão de práticas de RSC é um processo, um caminho evolutivo, que inclui mudanças na cultura da empresa, conscientização de pessoas e diálogo com stakeholders – o que demanda tempo e dedicação”, explica.
Salviatto acredita, ainda, que o Brasil possui uma vantagem competitiva nesta área e tem a chance de se tornar referência no mundo em termos de práticas de gestão sustentáveis. “Somos bastante cobrados por manter preservadas nossas riquezas naturais e, como país emergente, também por nossas práticas sociais. As empresas que aproveitarem essas aparentes restrições como oportunidade de reverem suas práticas e as transformarem em vantagens competitivas verão os mercados mundiais se renderem aos seus produtos e às suas práticas”.
Sustentabilidade na pequena empresa
Apesar da avaliação da Bovespa ser voltada apenas para as grandes companhias, é importante ressaltar que a sustentabilidade é para todos. “Trata-se de um modo mais abrangente e inclusivo de administrar a empresa, independente de seu tamanho”, afirma Salviatto. “Empresas menores muitas vezes têm até mais facilidade para iniciar e conduzir esse processo, pois têm uma liderança mais clara e a adoção de uma política desta natureza depende muito da liderança. Empresas pequenas e médias podem aproveitar esta filosofia para tomar um atalho no caminho de sua maior competitividade no mercado e se sobressair perante seus concorrentes, com inovações de produto, competitividade de custo, fidelidade dos clientes, bons relacionamentos com parceiros de negócios, maior motivação e produtividade de seus funcionários. Tudo isso resulta, sem dúvida, em maior valor e melhores resultados financeiros”.
O mundo dos negócios está mudando e a Atitude acredita que em pouco tempo as práticas socialmente responsáveis não serão mais um diferencial, mas uma exigência, como já são em alguns setores. “Os empresários brasileiros primeiro precisam se abrir para a possibilidade de repensar seus negócios e poderem se aproveitar da oportunidade de se posicionarem como líderes visionários. A história está repleta de casos de sucesso de líderes que se atreveram a pensar de forma diferente e inovadora”, conclui Salviatto.