BPM ou gestão por processos?



Autor: Carlos Pelosi


O mundo corporativo não é mais o mesmo depois do tão cantado e decantado BPM (Business Process Management). O conceito, que na tradução para o português significa Gestão por Processos de Negócio, tem sido usado para designar serviços, produtos, abordagens, consultorias, projetos, enfim, todo o tipo negociação por meio de processos.


Como de costume, por trás de cada abreviatura, muitas vezes achamos um verdadeiro guarda-chuva de coisas que estão embutidas e subentendidas. O cenário não é diferente com o BPM. Qualquer coisa ligada a processo, de alguma forma, se tornou Business Process Management diante dos olhos dos fornecedores e dos clientes.


Quase tudo pode se transformar em BPM, basta ver a enxurrada de frases e posicionamentos para ter a clara percepção que o mercado ainda está um pouco às escuras com o tema, suas implicações e práticas. Frases como “automação com BPM”, “integrar sistemas com BPM”, “BPM para modelar e executar processos”, ou simplesmente “fazer BPM”, estão estampadas por aí. Nada de estranho se cada uma delas não fosse com um propósito diferente do que realmente se propõe a Gestão por Processos de Negócios.

 

Naturalmente, isso se acerta com o tempo e, em breve, a maioria dos executivos estará suficientemente madura para fazer as distinções, não tenho dúvidas. No entanto, até o presente momento precisamos usar conceitos e nortear o mercado com aquilo que se acredita ser uma boa prática e uma boa visão. Pois em um mundo com tantas e diferentes vertentes, eu sempre encontro clientes e alunos com dúvidas a respeito do tema BPM. Ao invés de gerar foco, gera dúvida. Troca-se a produtividade e execução por uma grande confusão de ações dentro das empresas. Gera-se partidarismo de iniciativas e acepção de ações, resultando numa divergência que pode prejudicar a performance dos processos, que é o ponto central da questão.

 

Se para alguns BPM é um vasto e complexo emaranhado, para outros é simples e direto. Apenas Six-Sigma é BPM porque lida com os processos produtivos e suas estatísticas tão necessárias? Ou apenas ISO é BPM porque é a certificação dos processos e garante a qualidade do meu produto/serviço? Ou ainda, apenas automação com forte uso de TI é BPM porque processo na realidade está dentro dos nossos sistemas de informação? Cada qual se proclama o defensor e praticante do BPM, ou ainda, cada qual busca transmitir a melhor visão possível que o mercado quer comprar.

 

Mas o que diz o conceito de BPM? Melhor ainda, quem cunhou? Quem diz onde podemos achar este conceito e nos balizar para um posicionamento correto? Das muitas leituras sobre o tema, inclusive em comunidades na Internet, gosto da definição defendida pelo Gartner:

 

“A definição principal que segue tem implicações que ajudam a colocar os principais temas da BPM em perspectiva:


– Prática de gestão que fornece governança ao ambiente de processos do     negócio, objetivando a melhora na agilidade e na performance operacional.


– Aproximação estruturada que aplica métodos, políticas, métricas, gestão, práticas e ferramentas de software para gerenciar continuamente a otimização, as atividades e os processos da organização.”

 

Mesmo que esta definição não seja extremamente objetiva e restritiva, ela nos dá um parâmetro e uma diretriz de conduta e prática. BPM é um guarda-chuva, que congrega as demais iniciativas de processos da organização e, assim, não pode ser visto apenas como iniciativas isoladas ou independentes. A grande beleza de uma abordagem BPM está no caráter corporativo, sendo mais orientado a uma arquitetura do que meramente a ataques, processos fragilizados ou a iniciativas que se encerram em si mesmas. Portanto, ao falarmos de Business Process Management, estamos falando de iniciativas que envolvam pessoas, tecnologias e estruturas organizacionais, metodologias, entre outras, todas convergentes para o desdobramento em ações a partir da estratégia que foi definida pela organização, buscando melhores performances de processos.


Nesta linha, Six-Sigma é uma prática BPM. Não a única ou a melhor, mas uma prática, boa ou ruim dependendo da sua abordagem dentro das organizações. Da mesma forma BSC, SCOR, Lean, ISO, SOX, CoBIT, CMM, BPMS, BOM, BRM, entre outras, são iniciativas relevantes dentro da abordagem do tema processos. Portanto, BPM não se encerra em si mesmo, ele é uma grande parte da execução da estratégia corporativa desdobrada em ações, principalmente executada através das pessoas. Mas este assunto fica para o próximo texto.


Se compararmos 2008 a 2007, veremos que temos um bom caminho a seguir. As organizações investiram em novos produtos, mercados, ampliação de fábricas e negócios, o que deixou o tema processos dentro das prioridades. Porém, caso este ano sinalize uma piora nos mercados, inclusive com reflexos para 2009, as corporações terão de rever suas práticas, aumentar a eficiência, cortar custos e desperdícios, priorizar investimentos e iniciativas. Portanto, de uma forma ou outra, o tema processos sempre será prioritário e atual.


Carlos Eduardo Pelosi é consultor e instrutor do Insadi – Instituto Avançado de Desenvolvimento Intelectual.

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