Apesar da boa notícia que representou a aprovação da Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas no final do ano passado, o ano de 2006 não terminou bem para as pequenas empresas do estado de São Paulo. Após dois anos seguidos de crescimento (4,3% em 2004 e 1,9% em 2005), o faturamento do universo das MPEs paulistas caiu 3,5%, ou seja, de R$ 247,9 bilhões em 2005 para R$ 239,3 bilhões em 2006, perda de R$ 8,6 bilhões no ano. Os dados fazem parte da pesquisa Indicadores Sebrae-SP, elaborada a partir do monitoramento de uma amostra de 2,7 mil empresas de micro e pequeno porte.
Segundo Ricardo Tortorella, diretor superintendente do Sebrae-SP, o resultado de 2006 só reforça a necessidade de avançar na regulamentação da Lei Geral. Na avaliação do executivo, “a aprovação da lei pela Presidência da República em fins de 2006 foi um grande marco para a história dos pequenos negócios. O desafio agora é regulamentar seus diversos capítulos, para que possa ser implantada, de fato, propiciando uma melhora efetiva do ambiente para os pequenos negócios”.
Na comparação com o ano anterior, o faturamento médio mensal das MPEs paulistas passou de R$15.576,00/mês em 2005 para R$ 15.035,00/mês em 2006. Segundo Marco Aurélio Bedê, coordenador do Observatório das Micro e Pequenas Empresas (MPEs), essa queda se deveu a uma conjunção de fatores negativos. “Os juros elevados e a crise na agropecuária, no primeiro semestre, e a queda do dólar com conseqüente aumento das importações de itens como calçados e vestuário, no segundo semestre, contribuíram de forma decisiva, para explicar o baixo faturamento das pequenas empresas paulistas. Além disso, no final do ano, o consumidor demorou muito para ir às compras e comprou menos por conta do elevado endividamento”, comenta o coordenador da pesquisa.
Na análise do faturamento por setores, as MPEs do comércio e serviços apresentaram quedas de 5,3% e 3,6% ante 2005, respectivamente. Apenas as MPEs da indústria apresentaram expansão no ano (+1,9%), puxadas pelas empresas de bens intermediários, como insumos e componentes de metal, borracha e plástico, destinados às grandes empresas.
Por regiões, tanto a Região Metropolitana de São Paulo como os municípios do interior do estado tiveram retração no faturamento, -3,4% e -3,6% respectivamente. A capital apresentou o pior desempenho (-3,8%). A única região analisada na pesquisa com variação positiva no ano foi o Grande ABC (+1,3%). Esse resultado diferenciado do ABC se deve a dois fatores básicos: a recuperação salarial conquistada nos últimos dissídios e o bom desempenho das grandes montadoras na venda de veículos. Na avaliação de Bedê, esses dois fatores contribuíram para ampliar a renda na região alavancando a venda das MPEs do comércio.
Expectativas – Segundo avaliação do Observatório das Micro e Pequenas Empresas do Sebrae-SP, para o ano de 2007 é esperada uma recuperação dos agronegócios, o que pode favorecer as MPEs, em especial as do comércio no interior. O dólar deve continuar valorizado, devido aos saldos positivos da balança comercial brasileira, devido à manutenção da economia mundial aquecida e da elevada competitividade das commodities de exportação (minério de ferro, aço e commodities agrícolas). Como conseqüência, a concorrência dos importados deve permanecer pressionando o faturamento e as margens das MPEs. A manutenção da inflação sob controle, com algum ganho real adicional dos salários e o aumento do crédito, embora mais modestos que em 2006, devem continuar presentes no cenário interno em 2007. Como resultado, é esperada uma recuperação do consumo interno e das vendas das MPEs, porém, também modestos.
“É natural que o aumento do rendimento dos trabalhadores em 2006 se transforme em aumento do consumo, impulsionando as vendas e aumentando o faturamento das MPEs em 2007, ainda que em ritmo modesto. A aceleração mais intensa dependerá de ações que fomentem a economia como um todo, em particular das medidas de estímulo à economia do PAC”, avalia o diretor-superintendente, RicardoTortorella.