Crise hídrica atrapalha na confiança

A crise hídrica e a piora nas condições de crédito fizeram a confiança dos brasileiros despencar 11 pontos em janeiro de 2015 sobre o último mês de 2014, como revela o Índice Nacional de Confiança da Associação Comercial de São Paulo. Em janeiro, o INC marcou 137 pontos, enquanto, em dezembro eram 148 pontos. O aumento de preços dos alimentos em razão da seca e a elevação de tarifas, como de energia elétrica, também podem ter levado à forte queda na confiança. “Foi uma queda generalizada nas regiões e classes sociais. E pioraram também os indicadores que medem a percepção do consumidor em relação à sua situação financeira, ao seu emprego e ao seu consumo”, avalia Rogério Amato, que preside a ACSP e a Facesp, Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo.
O maior pessimismo pode ser explicado pela crise hídrica e pela possibilidade, também, de crise elétrica. “Os debates sobre esses temas estão sendo intensificados, deixando os consumidores mais pessimistas e cautelosos”, diz o dirigente. Outra razão para o menor otimismo do brasileiro em janeiro é a restrição do crédito e da piora das condições de crédito, após as altas da Selic e do IOF. Em janeiro de 2014, o Índice Nacional de Confiança marcou 143 pontos e, em janeiro de 2013, eram 161 pontos – antes das manifestações populares. Além disso, o INC teve forte recuo, de 17 pontos, na classe DE: em janeiro foram registrados 137 pontos em janeiro ante 154 em dezembro de 2014, possivelmente em razão da alta dos preços e da falta de água em algumas regiões. O recuo também ocorreu na classe C, com queda de 15 pontos (143 pontos em janeiro contra 158), provavelmente pelas mesmas razoes da classe DE e, também, pela piora nas condições de crédito. A classe AB, a mais bem informada, permanece a menos otimista e ficou com o INC estável, com 119 pontos em janeiro – mesma pontuação de dezembro/2014.  
Já no quesito região, o INC despencou no Sudeste (136 pontos em janeiro ante 148 em dezembro) e no Nordeste (132 contra 154). A confiança melhorou apenas nas regiões Norte/Centro-Oeste, caracterizadas pelo forte agronegócio. Nesses locais o INC marcou 140 pontos em janeiro e 131 em dezembro/2014. Os motivos podem ser a alta do dólar, beneficiando as commodities, e as grandes safras. Foi uma recuperação nessas duas áreas ante dezembro, quando a queda da confiança estava concentrada exatamente nessas regiões, que na época sofreram com as quedas das commodities nos mercados internacionais. Na região Sul também houve melhora por essas mesmas razões, com INC de 152 pontos em janeiro sobre 146 no mês anterior.   
As recentes notícias de demissões em indústrias fizeram com que os brasileiros ficassem mais inseguros em janeiro com relação à sua situação no mercado de trabalho. Segundo a pesquisa da ACSP, 35% dos consumidores se sentiam seguros no emprego, em dezembro a parcela era de 40% e, em janeiro de 2014, eram 44%. Subiu ligeiramente, ainda, o número de pessoas conhecidas dos entrevistados que perderam o emprego. Em janeiro, a média era de 3,3 pessoas conhecidas demitidas ante 3,1 em dezembro. Ao mesmo tempo, piorou o indicador do INC que mede a situação financeira atual do consumidor. Em dezembro, 45% dos entrevistados julgaram boa sua atual situação financeira, e em janeiro essa parcela caiu para 40%. Provavelmente, isso levou, inclusive, à retirada recorde da caderneta de poupança em janeiro, os consumidores que possuem reserva estão retirando o que têm para suprir recursos para equilibrar o orçamento. 
Por outro lado, com relação à situação financeira futura, o quadro é de estabilidade. Ainda que haja impactos na intenção de compras de eletrodomésticos: em janeiro, 41% dos entrevistados estavam favoráveis à compra desses itens contra 43% em dezembro/2014 e 44% há um ano. O consumidor está cauteloso, refletindo nas vendas. O mesmo ocorre com compras de bens de grande valor (veículos e imóveis): em janeiro, 32% dos consumidores estavam mais à vontade para esse tipo de aquisição e 36% estavam menos à vontade. Em dezembro, essas parcelas eram de 34% e 33%, respectivamente.
O índice, encomendado pela ACSP ao Instituto Ipsos, varia entre 0 e 200 pontos, sendo que 200 representa o otimismo máximo. A margem de erro é de três pontos. As entrevistas foram feitas entre os dias 16 e 31 de janeiro.

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